- O Massacre do Vilarejo -

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Eugus foi o primeiro a afastar sua cadeira e a levantar-se para averiguar o que estava acontecendo. Nirene também se levantou e caminhou ao seu lado até a janela da sala deixando os dois filhos com a curiosidade evidente em suas expressões.

— Saiam de suas casas!!! Corram!!! — gritava uma figura correndo desesperadamente pela rua.

— Aquele é o Malfen? — Nirene virou-se para o marido ao seu lado. 

O andor magricela corria de forma que suas vestes brancas balançavam como um lençol ao vento. Com uma mão ele segurava seu bastão e com a outra ele acenava para ser visto por quem quer que conseguisse lhe avistar na penumbra. 

— Corram!!! Eles estão vindo!!! Corram!!! Corram!!!

— Mas o que está acontecendo lá fora?

Eugus logo virou-se para a porta ao lado da janela e destrancou-a da forma mais rápida que já foi capaz de fazer. 

— Fiquem aqui dentro, crianças — disse Nirene para os dois ainda sentados na mesa. Seus livros agora estavam fechados pois sua atenção fora completamente tomada pela inesperada ocasião. 

O casal saiu para fora da casa mas Nirene preferiu permanecer à menos de um metro da porta. O simples ato de tirar a mão da maçaneta já lhe causava desconforto. Eugus nesse momento pôde dar o último vislumbre na figura do andor correndo em disparada no meio da rua antes deste entrar à direita logo adiante.

— Ele deve estar indo para a Residência do Senhor Erban — Eugus comentou. 

— Eu acho que não, faz um dia que o Senhor Erban deixou o vilarejo em sua carruagem própria. — Eugus logo virou-se para ela após ouvir a informação. — A Senhora Molline me contou que ele saiu em viagem. 

— Mas que gritaria é essa?! — Quis saber o Senhor Esmerol surgindo da porta de sua casa. 

— Quem é o infeliz que está gritando uma hora dessas?! Eu preciso dormir, ora! — protestou a Senhora Molline vestida com sua camisola de dormir. 

Em um instante todos os moradores daquela rua já estavam fora de suas casas e exigindo esclarecimentos uns aos outros em voz alta, todos com as mesmas dúvidas e revoltas. 

E então, viu-se a coisa mais inesperada que poderia acontecer. Vários moradores desesperados surgiram no início da rua, todos correndo e gritando como se estivessem fugindo para salvar suas vidas. 

Não demorou para o que é que estivesse lhes assustando aparecer. Quase uma dúzia de soldados montados em cavalos emergiram na escuridão e logo suas figuras foram reveladas por cetros cujas pontas emitiam uma luz branca, estes eram segurados por soldados que marchavam logo atrás dos cavaleiros.

— Quem são aqueles? — Nirene não pôde omitir o assombro em sua face e agarrou-se a porta semiaberta.

— Não sei, mas com certeza não são nossos amigos.

Os primeiros gritos de dor foram emitidos. As pessoas que estavam no início da rua em frente a suas casas foram as primeiras a caírem mortas no chão. E logo o caos havia consumido não só aquela rua mas também todo o vilarejo. 

Dezenas de mulheres corriam desesperadamente segurando na mão de suas crianças e de seus familiares. Eugus e Nirene não conseguiam identificar o rosto de cada morador em meio à escuridão mas certamente eram as pessoas a quem tinham convivido normalmente neste mesmo dia. 

Gritos de sofrimento eram emitidos por cada casa que os soldados invadiam; aqueles que ousavam trancar suas portas as tinham derrubadas com chutes. Crianças vagavam sem rumo chorando por não saberem o que fazer e homens e mulheres chamavam pelo nome de seus parentes e amigos em meio a multidão. Gritos, choro, ordens e relinchos prevaleciam nesta noite. 

A Pretensão dos CavaleirosOnde histórias criam vida. Descubra agora