- Um Pai, Dois Filhos e a Madrasta -

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Os passos apressados e pesados de Fenuella faziam os criados fugirem para as paredes, nenhum deles ousava atrapalhar a passagem da princesa que assumia uma feição extremamente severa. Algumas arrumadeiras lembravam-se de cumprimentá-la com leves reverências, mas tudo era ignorado pela garota enfurecida. 

Quando ela chegou no fim do corredor, deparou-se com dois guardas a postos diante de uma porta ornamentada. 

— Deixem-me passar — ordenou ela. 

— O rei está em um conselho com os membros da corte, Alteza.

— Deixem-me passar ou eu mesma vou derrubá-los. — Ela levou a mão no punho da espada para confirmar sua convicção.

Os dois guardas trocaram olhares indecisos, mas pareciam ter a certeza do único resultado que aquele embate iria trazer. Sendo assim, afastaram-se para os lados e a princesa seguiu seu caminho. 

A Sala do Conselho era um cômodo aconchegante, e não apenas pela enorme lareira no canto da parede, mas também pelos móveis formidáveis que a constituíam. Havia uma grande mesa lustrosa no centro repleta de pergaminhos, candeeiros e penas. Ao redor da mesa, seis belas cadeiras forneciam assento para os principais membros da corte. Nem todos ali eram membros oficiais, como o príncipe Allanel, por exemplo. Mas devido sua importância na família real, era permitido a ele participar de reuniões importantes. 

Todos que estavam presentes interromperam seus raciocínios quando Fenuella entrou no local sem ser anunciada. Alguns demonstraram insatisfação em seus rostos. 

— Pai, preciso falar com o senhor — disse ela sem mais formalidades.

O rei estava sentado no outro lado da mesa, era o que estava mais perto da parede. Ele trocou olhares com os que estavam ao seu lado e, antes de pensar em dizer alguma coisa, a rainha adiantou-se:

— A corte está em um conselho para organizar a cerimônia de posse do novo comandante, Fenuella. Você deve esperar nós terminarmos. 

— Não. Preciso falar com o senhor agora, pai. 

Eline levemente surpreendeu-se pela inesperada teimosia.

— Não é a hora adequada para as suas vaidades, querida. 

— Fique quieta, sua intrometida. Não vim aqui para falar com você. 

Olhos arregalaram-se com a ousadia da princesa. Eline a observou por alguns segundos sem mudar sua expressão de superioridade. 

— Você teve a coragem de falar o que muitos de nós pensamos, minha cara — disse Orsolis com uma evidente vontade de aborrecer a irmã. 

— Retire o que disse, Fenuella, e eu vou fingir que essa situação desagradável nunca aconteceu. — Eline batia suavemente os dedos na mesa. 

— Vou retirar o que eu disse quando você parar de envenenar a mente de meu pai. 

— Você só pode ter perdido o juízo, garota insolente. 

— Basta. — O rei enfim interrompeu a discussão. 

— Pai, preciso falar com o senhor agora. — A garota insistiu novamente, mas fez questão de elevar sua voz na tentativa de soar autoritária.

Grival suspirou e analisou a situação. 

— Saiam todos. Eu tratarei desse assunto mais tarde — disse por fim.

Obedientemente, o comandante Tennon e o novo titular do cargo, Eledon, saíram como verdadeiros militares. O velho andor Gorman apoiou-se em seu bastão e levantou-se de sua cadeira com algumas queixas de dores nas costas. Orsolis foi a última a se mover, decerto não agradou-se da ordem, mas obedeceu sem contestar. Ao redor da mesa restaram apenas o rei, a rainha e Allanel que curiosamente ignorou a ordenança. 

A Pretensão dos CavaleirosOnde histórias criam vida. Descubra agora