- A Revolta dos Alunos -

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Os dias não se tornaram melhores para Derion. Pelo contrário, as tarefas pareciam ter sido duplicadas. A participação na furtiva ação do roubo do trenó dias atrás lhe rendeu um encontro com o respeitado Grimbor. Este, por sua vez, o absolveu de ser expulso do templo, mas também lhe empregou tarefas adicionais para reparar o dano material causado. Derion não poderia se queixar, afinal a expulsão era o mínimo que ele esperaria.

O encontro com Morren naquela noite foi árduo. Quando retornou ao seu dormitório, Derion recebeu as críticas exaltadas de seu melhor e único amigo.

— Fala logo onde você vai, eu não estou a fim de mentir quando os mestres andors vierem procurar você. — esse foi o pedido de Roner, um colega de dormitório de Morren.

O rapaz de cabelo desengonçado terminava de calçar seus sapatos para partir em busca de Derion que havia desaparecido desde o início da madrugada.

— Não é para você contar nada — disse ele em tom severo. — O que eu faço não é da sua conta.

Mas antes de Morren dirigir-se para a porta, Derion a abriu surgindo no cômodo. Os três rapazes no dormitório viraram-se para ele, todos o observaram dos pés à cabeça.

— Cara, onde que você se meteu? — Morren o indagou.

— Eu... fui na vila lá embaixo. — seu olhar era de pesar. Uma feição cansada, os olhos exibiam olheiras e seu uniforme estava amarrotado.

— Você andou mesmo com aquele otário do Joron?

— Sim. — Derion finalmente fechou a porta e começou a retirar seus sapatos.

— Você não pode desaparecer assim no meio da madrugada sem avisar, cara. E se algum mestre andor chegasse aqui perguntando por você? Eu iria ter que mentir?! Arrumar problemas por sua causa?!

— Eles já sabem que eu fui lá. Quando eu voltei ao pátio, um andor já me aguardava para me levar à sala do Grimbor.

— E ele te expulsou?

— Por mais inesperado que seja, não. Ele não me expulsou. Me deu um castigo de ir consertar o telhado das casas que eu danifiquei.

— Até que isso não é nada ruim comparado ao tamanho da bosta que você foi fazer.

Derion sentou-se em seu beliche. Seus braços caíram e sua coluna curvou-se como se esta possuísse cem anos de idade.

— Eu fui um burro. Tive a burrice de acreditar que o Joron realmente estava interessado em me ajudar de alguma forma. Seu objetivo era apenas me eliminar da competição.

— Ele tentou arrancar sua cabeça? Não me surpreende. — Morren sentou no outro lado do colchão.

— Quase isso. Foi o Enerius quem tentou me matar enquanto estávamos no trenó.

— Três contra um? E você conseguiu escapar?! Como fez isso?!

— Eu tive que matá-lo.

A reação de Morren não foi o que Derion esperava. Após um breve momento de espanto, o rapaz desabou a rir.

— Isso é engraçado para você? — Derion perguntou.

— Mas é claro que é! Agora eu quero ver qual daqueles imbecis vai se meter com você.

— Isso não é bom, Morren. Todos os colegas dele vão se virar contra mim agora.

— Pois que virem. Você acabou com um, não foi? Pode acabar com os outros da mesma forma.

— Não acho que chegarei a fazer isso outra vez na minha vida. Matar traz consequências, muitas consequências.

— É, mas também resolve uns problemas.

A Pretensão dos CavaleirosOnde histórias criam vida. Descubra agora