II

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A chuva implacável que inundou Londres naquela noite não preocupava o cansado policial.

O corpo encontrado no beco em Bow tinha todos os sinais de seu destino macabro no próprio corpo.

E quando situações excepcionais ocorriam em seu trabalho, cabia ao policial pedir sempre uma segunda opinião.

- Odeio falar com aquele almofadinha.

O jardim da residência de lorde Cummings estava repleto de ervas daninhas e não parecia nem um pouco bem cuidado

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O jardim da residência de lorde Cummings estava repleto de ervas daninhas e não parecia nem um pouco bem cuidado. Parecia um desafio para Millie, e ela assim o faria.

Afinal de contas, se o nobre dissera que ela deveria organizar a casa, tudo estava no seu escopo de trabalho – incluindo o jardim.

Segurando uma pequena pá e ancinho, Mille arregaçou as mangas do vestido preto e arrumou o coque. Com uma luva mais firme do que a que costumava usar quando saía de casa, arrancou algumas ervas daninhas com a mão, enquanto limpava o mato usando o ancinho. Era uma atividade cansativa, mas a fazia esquecer, relaxar, sua mente divagava para bem longe de onde se encontrava, do estranho arranjo que sua vida se transformou após a morte do pai.

Lorde Cummings era silencioso e quieto, e não raro Millie acreditava genuinamente que estava sozinha naquela residência grande e escura. Apenas durante a noite ele aparecia, sempre de preto e com óculos escuros, informando que sairia e demoraria a voltar. "Hábitos estranhos", pensava ela, acostumada a ver o pai desde menina em casa às sete da noite em ponto para o jantar e as conversas: como foi o dia, se as aulas com a professora Cartwright tinham sido proveitosas, o que ocorreu na rua enquanto ele não estava, alguma gritaria na vizinhança. Jerome Evans sempre dizia para manter a calma e prestar atenção ao que ocorria em seu entorno, a fim de se proteger.

Fez a limpeza de uma boa parte do jardim, e viu uma terra firme, boa para plantar rosas, cravos e algumas ervas para fazer chás. Pediria a lorde Cummings um dia para comprar sementes na feira e construir sua plantação. Millie imaginava que a casa ficaria mais viva e alegre com plantas e flores, e não com aquele aspecto de abandonada ou mal-assombrada.

"Não duvido de que tenham fantasmas correndo pelos quartos que ninguém entra desta casa", pensou a jovem, entre risos.

Logo parou sua reflexão, quando percebeu que era observada. O lado esquerdo da sua nuca queimava forte, como se alguém estivesse do lado de fora da casa olhando o que ocorria dentro. Virou-se para confirmar suas suspeitas e notou a presença de um homem alto, moreno com a pele queimada de sol e os cabelos castanhos desgrenhados, além de uma barba por fazer e uma longa casaca marrom, fechada e úmida, que indicava completo desajuste e desmazelo com a própria aparência.

Entretanto, a postura alerta do homem denunciava que não era alguém a quem subestimar.

Millie segurou o ancinho numa posição que se parecia com a de uma arma, e o homem notou a mudança na atitude dela.

Os Monstros que me AmavamOnde histórias criam vida. Descubra agora