Os Monstros que me Amavam

XIX

Ao contrário do que Edward Cabot havia revelado a Allegra e Alexander em sua visita, e convite de casamento, o matrimônio não demoraria tanto a ocorrer.

- Em dois meses correremos com os proclamas; quero dar-lhe tempo de encontrar bons vestidos e mudarmos teu guarda-roupa. Não creio que Jerome a queira ver enlutada até mesmo em seu casamento.

- Agradeço por sua compreensão, milorde... Quer dizer, Edward... – o tom baixo com o qual a Millie disse o seu nome fez o nobre controlar muito a própria têmpora antes de antecipar a noite de núpcias ali mesmo na mesa do café. – Mas... Não crês que foi muito precipitado e audacioso em informar ao duque Sin sobre nosso casamento?

- Não entendo. Ele deve saber sobre o casamento, e provavelmente correrá até esta residência em desespero, já que está começando a enfraquecer. Seria até uma excelente oportunidade para lançar uma estaca contra ele, mas ele ainda é o vampiro mais forte. É necessário bem mais do que uma fraqueza momentânea.

Tomou mais um gole de café, enquanto Millie respondia, cautelosa:

- Pois... Eu não confio que ele fará apenas isso... Quanto mais rápido o casamento acontecer, mais rápido ele se enervará e cometerá um erro; e aí sim milor- desculpa, você e Vincent poderão ataca-lo. Dar-lhe dois meses, ou um tempo que ele não imagina, mas considera existir, fará com que o duque lance mão de novos soldados e dê um jeito de atrapalhar a cerimônia.

- Bem...–- Edward parecia pensativo. "Nossa rosa está certa! Vamos logo casar e finalmente tê-la como nossa... Dois meses para quê, para ficarmos sempre batendo bolo feito virgens?" "Vincent, por favor..." – Sua consideração faz sentido. Não duvido de que ele já esteja arregimentando novos vampiros para observar a casa ou aproveitar uma oportunidade de sequestrá-la...

- Algo que não ocorrerá, já que não saio desta casa desde muito tempo...

- E não sairás, Millie! Porque o casamento será feito no jardim dos fundos desta residência. Chamarei um padre amigo, e darei um dinheiro maior para correrem os proclamas.

Edward acelerou os proclamas e contratou uma modista para fazer o vestido de casamento, bem como outros modelos de vestidos que estavam na moda; o luto estava prestes a ir embora, e mesmo em meio a tantos perigos, ele ansiava pela plena felicidade de Millie. Não ficava perto quando a modista tirava as medidas de sua noiva; mantinha-se na biblioteca, lendo algo ou tomando uma taça de vinho, contemplando uma caixinha de veludo que havia esperado muito tempo para entregar à mulher certa. Havia comprado num impulso, sem saber se caberia no dedo de sua futura noiva; a decisão fora tomada num momento de terrível solidão, em que Edward viu-se apenas tendo seu monstro como companhia.

Até aquela joia fora conjurada, ser esposa de Edward Cabot era ter que lidar com tudo que vinha junto com ele – incluindo Vincent.

"Mas nunca imaginávamos que nossa esposa seria nossa..."

"Lembra-te, monstro, do quanto refletíamos sobre a incongruência entre casar e não revelar meu principal segredo? Esconder-te de minha vida de casado? Qual seria a explicação a dar à futura lady Cummings sobre meus momentos de irritação?"

"Por sorte nunca revelaste sobre mim para aquela cobra cascavel..."

'Tampouco Sin, sabes que ele poderia ter falado..."

"Mas guardou segredo porque tinha segundas intenções comigo. Olhe para minha face, Edward, tenho lá cara de quem vai se submeter a capacho de chupa chupa?"

Edward não escondeu o riso. Por 30 anos, conviver com seu monstro interior era uma luta inglória contra uma força que, por vezes, parecia incontrolável; mas desde que os dois conheceram Millie, e ela aceitou casar-se com ambos, havia uma tranquilidade quase cumplice entre os dois. Cada um conhecia o limite do outro, eles se entendiam sobremaneira, e não temiam mais dividir as atenções e o interesse de sua adorável rosa. Millie acalmava a raiva e ira do monstro, e dava humanidade, calor e afeto ao homem. Nenhuma outra mulher que se envolvera com Edward – ou mesmo com Vincent, quando ele ficava atraído por uma dama que não era do agrado de seu hospedeiro – conseguira chegar tão fundo ao seu coração.