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Excepcionalmente hoje, o capítulo do livro será publicado nesta quinta-feira (mas é excepcional, semana que vem voltamos ao funcionamento normal!)

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O passado, aquele que hospedeiro e hóspede gostariam de esquecer, apareceu bem à frente deles.

Uma casaca de veludo vermelho, tão longa que caía no chão, uma calça branca e um terno negro, como o tom dos cabelos do duque Sin. Segurando uma bengala com o cabo em madrepérola e acompanhado pelo mordomo que Edward vira mais cedo, ambos escondidos do sol por sombrinhas pretas, pareciam figuras exóticas, distintas da austeridade monocromática daqueles tempos.

Entretanto, Sin era uma figura perspicaz e desconfiada, sinuosa e inteligente feito uma cobra, e seu olhar clínico e cinzento se desviou de Edward para sua acompanhante. E aquilo foi uma decisão que mudou tudo para o duque.

- E muito bem acompanhado... Quem é este belo ser?

- Estás falando de minha governanta como se fosse um objeto? Vinte anos e essa conversa deliberadamente sutil realmente convence alguém?

Sin balançou a cabeça, surpreso. A aparência de seu interlocutor era a de Edward Cabot, mas a voz dele era baixa, rápida, rouca, pouco "aristocrática". "Ah... Estou tratando com meu velho amigo Vincent..."

A surpresa também foi compartilhada por Millie, que custou a reconhecer aquela voz. Virou-se na direção do nobre, e aquilo fez com que ela não concentrasse sua atenção nos olhos de Sin.

- Ah... Sua governanta? Que... Curioso... Ela é muito jovem e bonita para ser criada...

- E também tenho algo na mente, senhor. - retrucou Millie, que voltou a fitar Sin, mas não olhou em seus olhos. "Se ele é um vampiro, tentará atrair minha atenção de alguma forma... Não posso deixar que ele o faça... Por que não cheguei na parte do livro com o 'guia para evitar ser alvo de um vampiro'?"

- O que estaria fazendo na delegacia onde trabalha inspetor Swift, que esteve mais cedo em frente à sua residência?

Sin deu um meio sorriso.

- Exatamente para saciar minha curiosidade, cara jovem. Por que a polícia, acompanhada por meu velho amigo, estaria em frente à minha residência?

- Acaso não seria mais correto seu mordomo pedir que aguardassem até chamá-lo?

Vincent observou a jovem ao seu lado, e viu em Millie traços de seu amigo Jerome: a assertividade, a coragem, a inteligência sutil. Entendeu rapidamente qual era sua estratégia. "Edward, ela vai distrair o chupa-sangue para que ele não a manipule!"

"O que é uma excelente estratégia... E que não estava em meu último livro."

"Terás que editar, néscio. Continuarei observando nossa rosa lançar seus espinhos nesse maldito."

- Creio que o seu patrão... - silabou as palavras como se sentisse o gosto delas. - Deve ter-lhe explicado que nós, da nobreza, odiamos circular junto com policiais.

- Apenas quando temos algo a temer, Sin. - retrucou Vincent, entredentes.

- Nada tenho a temer, meu querido e velho parceiro. E tu?

- Acha realmente que não tem nada a temer? Vir aqui à delegacia para sondar o inspetor Swift me parece ato de desespero, hein? Tem alguma merda fedendo escondida no teu armário e não são os corpos secos das suas vítimas que você chupou até virar bagaço.

Millie imaginava que Sin era um vampiro, mas não podia atinar que lorde Cummings comentaria isso com tanta tranquilidade, no meio da rua.

- Podia ter sido você... Seria o homem mais forte do mundo...

Os Monstros que me AmavamOnde histórias criam vida. Descubra agora