XII

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Hoje teremos dose dupla de "Os Monstros que Me Amavam", com dois capítulos - um nesta sexta e o outro no sábado... Primeiro, fiquem de olho neste, quando vocês conhecerão um lado bem curioso de Edward Cabot...

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Alexander Swift já estava acostumado a duas coisas em sua casa.

Um: a comida repleta de molho e temperos, preparada diariamente por Allegra.

Dois: a presença calada de Tristan, que passava o dia inteiro com o dedo na boca, olhando o policial com seus brilhantes e imensos olhos verdes.

- Creio que seja comida demais, Sra. Fabruzzo, e eu nem gosto de macarrão. – Alexander contemplou a pasta com cautela, levando o garfo à boca sem vontade.

- Pois coma! Fiz bastante para render, e me recuso a comer a comida sem graça deste país. Sem tempero, sem vida.

Viu que ela enrolava o macarrão no prato e mastigava com vontade, apreciando o sabor. Suas emoções eram muito transparentes: o rosto alvo ficava rubro ao saborear a comida, num tom bastante parecido com seus cabelos, enrolados num coque bagunçado, que deixava soltas algumas mechas encaracoladas.

Assim que Allegra terminava de comer uma parte do macarrão, encarava o filho, que mal mexia na sopa.

- Tristan... A sopinha, meu amor... Pegue a colher...

O menino respondeu, finalmente tirando o dedo da boca e buscando a sopa com alguma relutância. Ele era sempre calado e tímido, e ainda não parecia acostumado àquela casa. A única pessoa com quem ele tinha uma boa relação era a mãe, naturalmente, e Alexander intuía que Tristan pode ter sofrido diversos traumas na casa onde viveu o começo de sua existência.

- Está gostando da comida? – o menino respondeu que sim com a cabeça, enternecendo Allegra, cujo único interesse era visivelmente seu filho.

Apesar de toda a confusão que sua casa se tornou desde a chegada da testemunha, havia em Alexander a consciência de que a tensão do trabalho, a morte, as tragédias do dia, desapareceram finalmente quando ele punha os pés em casa. Antes, vivendo só, ele remoia as situações e acabava com a cabeça imersa na rotina policial; mas agora, discutir diariamente com a Sra. Fabruzzo ou desvendar o que Tristan queria dizer se tornaram suas maiores distrações.

- Ele já fala alguma coisa?

- Quase nada, apenas responde com gestos. – respondeu Allegra, melancólica. – E chora, quando se machuca, cai de algum lugar. Ele está naquele momento curioso... Sobe nos lugares, quer tocar em coisas quentes, mas sempre afasto! Não quero meu menino machucado, nunca!

Ela passou a mão na cabeça ruiva de Tristan, que continuava comendo sua sopa com atenção.

- Logo ele vai falar, eu tenho fé nisso. E um dia, quando todas essas ameaças passarem, eu vou ter a minha casinha e dar a meu Tristan tudo que ele merece. O quartinho dele, mais peças de roupa... Vou arranjar alguém para ensiná-lo a ler e escrever. Ele não será um ignorante como eu. E nem vai trabalhar em fábrica. Nem pensar. Só depois de adulto.

- Vou falar com Lorde Cummings se ele não conhece alguém que precise de lavadeira ou camareira. Um trabalho de criada que pague bem. Ainda não terá a casa que desejas, mas é um começo.

A jovem olhou para Alexander, lágrimas surgindo e prestes a caírem pelo rosto.

- Seria bom mesmo, cachor- quer dizer, Sr. Swift.

Mais tarde, a casa simples do policial se encontrava silenciosa, com seus habitantes dormindo profundamente. A escuridão tomou a residência, e as janelas entreabertas indicavam nenhuma preocupação com ameaças externas – todos sabiam que aquela era a casa de um policial; quem teria coragem de atentar contra Alexander?

Os Monstros que me AmavamOnde histórias criam vida. Descubra agora