Os Monstros que me Amavam

IV

A mulher se encontrava descontrolada, gritando como se não houvesse amanhã, na sala do inspetor Swift, que não parecia muito paciente com ela.

- William, traga uma água, um café, qualquer coisa, uma corda também!

- Vocês estão me prendendo contra a minha vontade!

- Bem, senhora, prostituição ainda é crime na Inglaterra, e estavas a perturbar a ordem numa vizinhança sossegada... - Alexander ironizou, mas não concordava com a própria opinião; buscava acalmar a mulher, que não gostou nada da observação do policial.

- Ponha-se um instante no meu lugar, seu sacripanta dos infernos, antes de aparecer com essa cara de cachorro molhado se achando o rei da moral e dos bons costumes!

- Posso entrar, Swift? - sem bater à porta, Edward entrou na sala, tentando acalmar a situação. Ouviu os gritos e discussões entre Alexander e a prostituta do lado de fora do escritório, bem como todos os outros detetives.

Alexander mexeu nos cabelos encaracolados e bufou.

- Tudo bem, você já entrou mesmo.

A mulher virou-se, sem acreditar na chegada do novo visitante.

- Só me faltava essa, agora esse almofadinha miserável que deve ser amiguinho daquele duque demoníaco!

Edward observou Alexander e os dois pareciam trocar mensagens cifradas com o olhar. Ambos saíram do escritório, ainda sob os gritos da mulher.

- Duvido que ela vá falar alguma coisa. - disse o policial. - Ela não confia na lei, deve estar assustada pelo sumiço da amiga, e definitivamente deve te achar um cúmplice do Duque Sin.

- E se mostrarmos o corpo da morta, ela poderia reconhecer Suzanne, certo?

- Sim, Cabot, mas eu não quero isso agora. Quero toda a trajetória, a linha do tempo desde que ela foi naquela mansão dos horrores até a hora em que ela voltou, nesta manhã.

- Mas a mulher não falará nada para nós.

- Uma noite na prisão pode acalmá-la, certamente-

- Uma noite na prisão a fará ainda mais hostil às suas perguntas, Swift. Você nunca conviveu com uma mulher?

- Esqueci que estou falando com um Casanova...

- Eu creio ter uma ideia. Ela não falará com a polícia tampouco comigo. Mas ela pode falar com alguém que exerça uma posição de confiança. Uma outra mulher.

- E você conhece alguma mulher nesta cidade que queira conversar em pé de igualdade com uma meretriz?

Diariamente, entre uma atividade e outra na residência de Edward, Millie costumava visitar a biblioteca e passar uma tarde inteira se debruçando nos livros recomendados pelo nobre. Inicialmente, ela lia obras mais instrutivas, como um "Guia para Entender os Vampiros", além do "Manual de Conjuração de Fantasmas" e "Como Reconhecer um Lobisomem", lendo os três ao mesmo tempo. Mas logo ela se viu próxima dos títulos que foram escritos pelo próprio Edward, como "Caçadores da Noite", "O Monstro dentro de Si", e "Reconhecendo um Adicto por Sangue", que pareciam narrações bastante pessoais sobre a vivência investigando criaturas sobrenaturais.