XVIII

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Vamos ver o que Millie queria falar com Edward (ou Vincent...)

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Edward não conseguiu disfarçar a surpresa ao ver Millie em frente à sua porta. Por sorte, estava com seu roupão, escondendo o quão à vontade costumava dormir.

- Podemos conversar na biblioteca, Srta. Evans, caso queira.

- Sim, isso me tranquiliza.

- Siga primeiro, vou apenas buscar meus sapatos.

"Vai colocar uma calça, isso sim!"

"Olha quem fala, sempre odiaste dormir vestido!"

Assim que ele chegou ao cômodo, encontrou Millie em pé, as mãos cruzadas mexendo-se nervosamente, todo seu olhar concentrado naquele movimento. Edward viu que a jovem estava prestes a dormir antes de ousar falar com ele batendo à porta de seu quarto – algo absolutamente questionável, de acordo com os códigos sociais.

"Que eu já queimei desde o momento em que eu toquei em sua mão..."

Com a sua roupa de dormir longa e austera e a longa casaca que ele já conhecia de outras situações – "aquele glorioso dia no quarto" – os cabelos cacheados caíam indomáveis pelas costas e o colo. Era a mulher mais linda que eles conheceram, e seu jeito tímido, que escondia uma vontade férrea e uma força e habilidades impensadas, faziam com que Edward e Vincent se apaixonassem ainda mais.

- Eu fiquei pensando muito sobre os últimos tempos, e tudo... Tudo que está acontecendo desde o momento em que papai me disse naquela carta que eu viveria em sua residência. Temia que milorde não me aceitasse, ou sequer se lembrasse de meu pai; também não entendia bem o seu comportamento, sempre tão distante e frio. Mas entendi que era o seu jeito; e logo depois compreendi que existe outro, completamente diferente em tudo da sua pessoa, e que... Evidentemente eu fiquei surpresa com a presença de Vincent, especialmente da forma como eu o vi pela primeira vez, mas...

- Mas...?

- Eu sinto algo pelos dois. Não consigo pensar mais em um ou no outro, eu gosto dos dois. – "Edward, ouve? Eu quero chorar, Edward, onde estão as minhas lágrimas?" – Não sei se serei perdoada pelo pecado de me atrair por dois homens, sendo que um deles está dentro de milorde, mas... Eu sinto... Algo mais do que... Apenas arrepiar-me a um toque ou por causa de um beijo.

O nobre buscou controlar suas emoções, mesmo seu coração querendo pular para fora do corpo. Ela diria o que os dois esperavam há tanto tempo.

- Eu gosto da sua pessoa porque é um farol. Eu não consigo me perder quando estou ao seu lado.

Millie o observou ainda calmo, contrito e distante, e Edward a percebeu se aproximando lentamente dele. Tocou-o no rosto, como se buscasse algo mais ali.

- E gosto de Vincent porque ele me faz me perder.

Edward notou um silêncio vindo de dentro, entremeado por uma respiração abafada. Era Vincent, ouvindo atentamente a tudo que Millie falava.

- Eu não sei por que os dois gostam de mim, mas... Sinto-me feliz em saber que gostam... E me sinto alegre em saber que posso retribuir isso. Não posso dizer agora, com certeza, que os amo. Mas posso dizer que estou me apaixonando.

A expressão inescrutável de Edward Cabot se metamorfoseou lentamente. Um ensaio de sorriso, os olhos verdes brilhavam, a respiração abafada parecia ter se soltado após segurar por algum tempo. Seus ombros tensos relaxaram, toda a sua postura havia suavizado, e não apenas seu coração batia forte, descompassado.

O coração dele o ensurdecia, e ele finalmente podia ouvir os passos de Vincent em algum canto de sua mente, valsando e cantando uma única melodia: "ela gosta da gente, ela gosta da gente".

Os Monstros que me AmavamOnde histórias criam vida. Descubra agora