XIV

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Millie decidiu comprar as sementes de jasmim e de outras flores, a fim de que o jardim tivesse todos os ingredientes possíveis para as poções de Lorde Cummings.

Ela aproveitou a oportunidade para começar a leitura do "Manual das Conjurações", e havia uma curiosidade quase infantil em preparar alguma poção, a mais simples que fosse, e verificar se havia dado certo. 

"A poção para evitar a fome é provavelmente a conjuração mais simples deste livro", leu a jovem. "As primeiras bruxas que pensaram nesta poção eram mulheres perseguidas pela igreja, vivendo no meio da floresta, com risco de morrerem queimadas. Como atrair o bicho para caçada não era a melhor ideia – oras, elas teriam que assar a carne do animal, e a fumaça denunciaria sua localização – as bruxas necessitavam enganar a fome."

Assim que tivesse a flor em mãos – lavanda – começaria a testar sua habilidade em conjurações. Mas não testaria em si mesma. "Acaso Lorde Cummings ou Vincent aceitariam experimentar a poção?", pensou Millie enquanto caminhava pela feira em busca de sementes.

Pagou pelas sementes de jasmim, lavanda, angélicas e Bougainvilles, "que ficarão bem bonitas no jardim dos fundos", pensou a jovem, enquanto caminhava pela feira na direção do carro de aluguel.

Assim que o veículo se aproximou da residência de Cabot, Millie sentiu novamente aquele incômodo na nuca. Como se estivesse sendo observada. Olhou pela janela da carruagem e não viu nada; apenas a vizinhança vazia naquela rua, e nenhum som foi ouvido.

Quando Millie desceu do carro de aluguel e pagou o valor da viagem, virou-se rapidamente para a longa porta de ferro, e sentiu novamente o incômodo, ainda mais dolorido. Destrancou a porta e abriu, já pronta para correr, mas uma mão pesada a arrastou pelo pescoço até o chão.

- AAAAAAAAAAAAAAAA SOCORRO!

- Ninguém irá salvá-la, minha senhora. Meu mestre a quer...

"Meu Deus, é um dos capangas do duque Sin!"

Millie precisava respirar fundo e não se deixar desesperar. Sentiu que o vampiro a ergueu pelo pescoço, ficando bem à sua frente, mexendo a língua nos dentes com fome.

- Pena que não poderei mordê-la... Tens o cheiro da virgem...

Ele se aproximou, cheirando seu rosto e se aproximando do pescoço, enquanto Millie respirava fundo, segurando o vestido como se dele dependesse sua vida

- Isso, senhora. Bem quietinha, devo levá-la sem arranhões ao mestre...

- O... O que ele quer...? Tornar-me sua escrava de sangue?

- Não... – respondeu o vampiro, ainda cheirando seu pescoço – Ele quer torná-la sua rainha...

Quando ele parecia depositar um beijo na sua nuca, Millie retirou algo de seu vestido.

- Pois ele que arranje outra!

Num impulso, a jovem atingiu seu sequestrador com a estaca de madeira direto no coração.

- NÃO! MALDITA!

O vampiro a soltou, fazendo com que Millie caísse no chão, rasgando sua meia e machucando a perna. Foi então que ela viu, em choque, o vampiro se desintegrando, o corpo murchou, restando apenas uma pele flácida, os dentes caninos proeminentes feito um bicho, e os olhos esbugalhados.

Uma imagem tétrica, que fez Millie chorar desesperada. "Eu... Eu matei uma pessoa... Meu Deus, me perdoe! Eu não podia, eu... Um pecado..."

Ela ficou em prantos, em frente ao corpo do vampiro, estática, sem vontade alguma de sair dali. Várias imagens passavam por sua cabeça: o vampiro a arrastando a até um lugar que ela não sabia onde seria, ele a cheirando no pescoço, desesperado por não poder mordê-la, porque...

Os Monstros que me AmavamOnde histórias criam vida. Descubra agora