Um carro de aluguel circulou pelas ruas de Londres com endereço definido: a mansão Crawford, em Piccadilly. Além do condutor, havia apenas um ocupante no veículo: uma jovem dama, trajando um vestido em tom de vinho, mas que para um observador mais perfeccionista, poderia considerar vermelho.
O vestido, com anáguas largas no fundo da saia e vários babados de renda na saia e na manga da camisa, não tinha decote aparente – pelo contrário: os botões estavam fechados até o alto do pescoço, e não era possível sequer ver a corrente de ouro que acabou por ficar dentro da roupa.
Escondido também estava o anel de casamento, envolvido pela luva; mas os brincos de ouro balançavam gentilmente em sua orelha, expostos pelo coque discreto que mantinha apenas alguns cachos rebeldes descendo pelo colo e as costas.
Millicent Cabot era a perfeita dama da sociedade, régia e aristocrática. No entanto, damas da sociedade não faziam o que ela faria.
- Não gosto da ideia de milady ir sozinha até a armadilha... – ponderou Alexander Swift, durante um chá da tarde na casa de Enfield, onde ele e Allegra estavam hospedados junto a Tristan, para que a esposa e a criança estivessem protegidos e amparados enquanto ele participava da guerra.
- Mas não posso levar mais ninguém. Será uma surpresa: Sin jamais esperará que eu me entregue. Além disso, não estarei sozinha. Os oficiais estarão no entorno, mas os vampiros jamais saberão.
Millie preparou uma quantidade da poção de logro para os policiais maior do que a habitual. Se os homens de Swift precisavam invadir a casa sem serem notados, a única forma era retirando deles o cheiro. Precisaria ter várias amostras de saliva, mas aquilo era o menos importante: pediu a Alexander que conseguisse as salivas e colocasse em garrafas pequenas, a fim de obter a mistura. Não queria um entra-e-sai de homens em sua residência: mesmo que a vizinhança fosse vazia, os códigos sociais eram muito importantes; e não sabia se outros vampiros se encontravam no entorno. Por isso, todos precisavam ser muito discretos.
- A invasão será durante a noite; eles estarão pouco preocupados. Comemorarão que estão com a "rainha" e o "monstro" no mesmo lugar. Então, vocês os atacam.
- Com estacas e água benta.
- Mas... Millie... – Allegra interrompeu o diálogo entre os dois. – Como vais salvar Lorde Cummings? Ele não está transformado? Acaso ele conseguirá retornar a quem é, originalmente?
- Sim. Eu sei como fazer isso... O maior desafio é preparar o encantamento. Nunca foi feito, não há informações sobre o resultado, mas... Confio que dará certo.
Foi pensando nesta conversa que Millie se aproximou do portão de ferro, o carro de aluguel aumentando a velocidade à medida que passava pelo longo caminho de pedra que dava no hall de entrada da mansão de Sin. As mãos tremiam, e a jovem estava nervosa, mas tentava respirar fundo, buscando inspirar e expirar longamente, pois sabia que precisava apenas da oportunidade perfeita, o momento certo, para que o plano desse resultado.
"Só não posso deixar que Sin me morda...", concluiu Lady Cummings, antes de descer do carro de aluguel e pagar pela viagem.
- Eu a espero, milady?
- Não é necessário, meu esposo se encontra nesta residência.
Despediu-se com um menear de cabeça e concentrou sua atenção na porta de madeira alta, antiga e imponente, com detalhes em alto relevo que indicavam pássaros, mas Millie sabia que aquele animal passava longe de ser um pássaro – as presas denunciavam bem.
Balançou o sino rapidamente. "Por que demoram tanto?"
Balançou outra vez o sino.
Na terceira, a porta se abriu, um homem com o ar sepulcral mudou completamente a expressão ao ver Millie bem em frente a ele.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Os Monstros que me Amavam
Romance⚠️⚠️⚠️NÃO PLAGIE! Essa obra tem registro digital no Safe Creative: 1910312365379⚠️⚠️⚠️ --- Após a morte de seu pai, Millie descobre que Jerome Evans desejava que ela vivesse na casa de um amigo da guerra, o solitário Edward, lorde Cummings. Aparent...