XXIII

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Peço desculpas por publicar esse capítulo meia-noite de sábado!

Ele ficou um pouco trabalhoso para mim por algumas razões (em especial toda a primeira parte), tive um minibloqueio e ainda teve a parte da revisão.

Espero que aproveitem, porque temos a resposta para a pergunta que não quer calar e 🔥🔥🔥 FOGO NO PARQUINHO

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O navio tinha o odor da morte. Corpos separados, putrefatos em meio ao sangue derramado de braços, pernas, cabeças; abutres próximos, rodeando os mortos apenas aguardando a oportunidade do alimento, e os poucos sobreviventes, apenas dois homens, tentavam conduzir o navio até algum lugar, terra firme.

Um deles aproveitaria a chance de conseguir novos marujos e voltar ao mar, mas precisava de dinheiro. O navio precisava de manutenção, e ele observou o outro sobrevivente: o único escravo que sobrevivera à invasão pirata. Era um homem alto, forte e corpulento; mesmo com os arranhões na cabeça e hematomas, seria uma venda bastante cara em alguma fazenda no Caribe.

Manteve o homem acorrentado nos pés, perto do mastro do navio, contemplando os mortos e todo aquele fedor.

- Fica aí, animal, fica! – gritou o imediato, enquanto deixava as correntes ainda mais apertadas, mesmo que o homem continuasse se debatendo.

Deu-lhe um tapa no rosto para que se acalmasse, mas ele prosseguiu. Decidiu então apontar uma arma para a cabeça dele, que se calou rapidamente, mas era possível perceber que tremia muito, segurando o choro.

- Só não lhe dou um tiro porque vales mais vivo do que morto. – disse o imediato, mesmo sabendo que ele não entenderia nada do que falava.

A noite chegou ao navio, que navegava com uma lentidão assustadora, e o homem traficado ainda estava no mesmo lugar, acorrentado e com náuseas. Queria vomitar – o odor o entorpecia da pior maneira possível, e seu corpo estava cansado, extenuado de correr, se esconder e da luta infrutífera pela própria sobrevivência no navio.

Já sentia os efeitos dos hematomas e daquela pancada na cabeça, e não conseguia mais resistir à vontade de vomitar. Como não tinha comido nada, sequer imaginava o que despejaria para fora.

Até que um som estranho o alertou – era o imediato, subindo as escadas que davam para o convés com mais alguém a tiracolo: um homem que jamais vira na vida, alto, magro e branco, tão branco que brilhava no meio da escuridão da noite, e com os cabelos negros num tom opaco. Usava uma roupa que um dia esteve limpa, mas a casaca azul-marinho tinha várias manchas de sangue e fuligem, pólvora e outra coisa que ele não conseguia definir.

- Não me lembro de você neste navio, invasor... Ou és um dos piratas que mataram meu capitão, os marujos e as peças que tínhamos obtido? – o imediato deu um murro no estômago do homem, que riu.

- Sou teu pior pesadelo, humano...

O riso era tétrico, e até mesmo o homem acorrentado sentiu um frio na espinha, mesmo não sendo alvo do desdém do estranho.

- Humano? E ainda é um pirata maluco!

Empurrou o desconhecido até o meio do convés, perto de onde o homem traficado estava, e apontou a arma na direção do "pirata".

- Morra, miserável!

Atirou no coração dele, que caiu no chão, aparentemente sem reagir. Entretanto, o rapaz acorrentado percebeu que a respiração do homem não desaparecera... E um estranho movimento na boca o alertou.

Os Monstros que me AmavamOnde histórias criam vida. Descubra agora