XXI

3.4K 347 177
                                    

Alerta FOGO NO PARQUINHO🔥🔥🔥

----

Leona Midler não acreditava que seria recebida por alguém em Londres.

O navio que a transportou de Atenas até a capital do Império Britânico estava cheio, e afortunadamente para Leona, seu mestre havia comprado uma passagem de primeira classe, com um quarto apenas para ela, onde podia fechar a cortina e não sentir a luz do sol a queimando e matando lentamente.

Poderia ter fugido em alguma das paradas – lembrou-se de um mestre que tivera em Lisboa, e a cidade era agradável, a comida deliciosa e as pessoas gregárias. No entanto, fugir significava a sentença de morte: morder pessoas para sobreviver e morrer no meio do caminho: o escravo de sangue era fraco e precisava ser alimentado por via oral. Por isso, ela havia levado garrafas e mais garrafas de sangue que a sustentaram durante toda a viagem.

Ao mesmo tempo, precisava ser forte: Sinclair Crawford a queria em Londres por alguma razão nefasta – e não queria ficar muito tempo sob seu jugo.

Assim que subiu o convés, toda de preto, escondida por um chapéu de palha repleto de babados, óculos escuros, luvas de couro e uma sombrinha imensa, que a escondia completamente do sol, permitiu que um rapaz levasse sua pequena mala. Não levava muitas roupas; os escravos de sangue geralmente usavam o mínimo possível, e distantes eram os dias em que Leona se vestia com apuro e finesse.

Para todos os efeitos uma viúva, Leona desceu a rampa e agradeceu à presteza do marinheiro com uma moeda. Olhou para todos os lados, buscando alguém, um carro de aluguel, até que ouviu a voz solene do mordomo de Sin, Mikhail.

- Senhorita Midler.

Ela virou-se, encarando o mordomo com uma sombrinha. Alto, magro e com os cabelos grisalhos, parecia mais velho, mas possuía um olhar bastante astuto em seus olhos cinzentos. Não parecia uma figura descuidada; Leona sabia que ele escondia segredos nefastos por trás da aparência neutra.

- Mikhail, que surpresa. Então seu patrão exige minha presença e nem se digna a me visitar?

- Entre no carro. – o tom era duro, e ela conhecia bem. No entanto, não era escrava de sangue do mordomo, não possuía obrigações com ele.

- Peça-me por favor.

- Sejamos razoáveis, Srta. Midler. Quem tem o poder de destruí-la aqui?

Leona sabia: uma palavra em falso e Mikhail destruiria qualquer escravo de sangue ou soldado, apenas comentando com Sin da forma certa. Como vampiro, não era o mais poderoso, mas todos falavam de sua habilidade em torturar e matar.

Caminhou altiva na direção de onde Mikhail informara ser o carro de aluguel, enquanto o mordomo buscava a mala. Os dois entraram no veículo e seguiram silenciosos até Piccadilly, Leona observando o crescimento de Londres, quinze anos após sua saída, quando Sin a vendeu a um dono francês. Odiou Paris, os perfumes ruins e o novo mestre, que também lhe prometera o mundo. Leona poderia ter aceitado, poderia ser senhora em Paris, mas sua decepção amorosa com Sin nublou todas as possibilidades.

Errou muito por causa de uma ambição desmedida, e agora voltava para o mesmo lugar, à mercê do mesmo vampiro.

Tudo era diferente na cidade: maior, mais movimentada, mais suja. Os bairros pobres ficaram miseráveis, fábricas tornavam o céu da cidade cinzento, e as mansões haviam se tornado ainda mais luxuosas. Mas o palácio de Sin permanecia ali: misterioso, belo, e sombrio; mesmo disfarçado pela elegância e tradição do título de Gloucester.

Assim que a carruagem adentrou os limites do palácio, Leona viu-se retornando a um passado que por muito tempo quis esquecer: foi naquele lugar que desapareceu. Para todos, Leona havia morrido num acidente de cavalo – foi a desculpa que os pais inventaram a fim de negar o fato de que ela havia "caído", perdido a pureza com alguém que não conheciam, e sequer imaginavam ser Sinclair Crawford. Foi naquele palácio que deixou de ser quem era, invejada, desejada, para se tornar mais uma das escravas de Sin, cobiçando ser a próxima duquesa, mas que ele recusou assim que, segundo o vampiro, Leona se tornou "grudenta" e "possessiva".

Os Monstros que me AmavamOnde histórias criam vida. Descubra agora