XXIV

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Em comparação com outros momentos do livro, este é provavelmente o capítulo mais "tranquilo" de "Os Monstros que me Amavam" - dentro do que você considerar "tranquilo" o que vai acontecer agora...

(e também é um capítulo + curtinho)

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Uma cena de horror foi o que Alexander Swift e seus homens flagraram naquela manhã às margens do rio Tâmisa.

Homens e mulheres nus, com os olhos saltados, quase saindo da cabeça, corpos secos, sem carne ou músculos, apenas pele e osso, e envoltos em líquidos e mais líquidos viscosos que naquele momento, secavam rapidamente, formando uma crosta endurecida. Os líquidos não apenas cobriam o corpo, como também a cabeça e os cabelos, que perderam o brilho da vida.

- Mas que porra é essa? – William resumiu o sentimento geral.

- Literalmente. – retrucou Alexander, com secura. Já havia visto aquela imagem, meses atrás, quando ele e os policiais encontraram uma prostituta morta da mesma forma: nua, seca e com secreções pelo corpo. – Tentem virar a cabeça com cuidado, e usem luvas. Quero ver a jugular.

William assentiu, seguindo a orientação do chefe, e quando os dois perceberam que no pescoço de um deles haviam duas marcas de mordida, a constatação da familiaridade os atingiu.

- Queres que eu me dirija até a casa de Lorde Cummings?

Alexander riu ante a sugestão do subordinado. Parecia até que William lera seus pensamentos.


Edward Cabot parecia o mesmo nobre distante e régio de sempre – com seu terno preto impecável, que disfarçava sua presença forte e corpulenta, o par de sapatos impecavelmente lustrado, os cabelos negros penteados para trás e os óculos escuros que não tirava sequer durante a noite.

Mas Alexander já conhecia bem Lorde Cummings, o suficiente para saber que algo de diferente estava no ar – o meio sorriso de satisfação pessoal que só ocorria a alguém que se encontrava em plena felicidade doméstica. Alexander sabia disso porque ele vivia isso.

- Como estão os preparativos do casamento? – perguntou Edward, mãos nos bolsos, caminhando casualmente junto ao policial até a sala de análise dos corpos, praticamente lotada naquela manhã.

O caso dos mortos empilhados às margens do rio chamou a atenção da imprensa sensacionalista, que só não invadiu a delegacia em busca de respostas porque William tratou de assustar a todos com tiros para cima. Entretanto, Alexander sabia que no dia seguinte, as manchetes seriam todas na linha de "Quem é o monstro que sugou a vida de 25 pessoas?" ou coisa parecida... "Mesmo que a quantidade tenha sido assustadoramente maior".

- Allegra está empolgada e se juntou com todos os meus subordinados a fim de promover uma festa imensa! Ela também fará o bolo e encasquetou que queria costurar o vestido também.

- O vestido não ficará sob o encargo dela, não te preocupes. Millie se ofereceu para pagar uma modista.

Alexander arregalou os olhos.

- Como assim, mas Ally não me disse nada!

- Porque isso se chama "o noivo não deve ver o vestido da noiva antes de entrar na igreja", Swift. Não conhece as tradições do casamento?

- Olha quem fala, casou há um mês e se considera o entendido de matrimônios!

Os dois riram, um momento amistoso antes do que Edward teria que ver – para comprovar.

Ao entrarem na sala de análise dos corpos, o aristocrata observou sem esboçar nenhuma reação, os mortos enfileirados um ao lado do outro, homens e mulheres nus, ainda com os corpos do mesmo jeito que foram encontrados. Não reconheceu em seus rostos nenhuma pessoa de seu círculo social, mas poderiam ser qualquer um. "Na morte, todos são iguais."

Os Monstros que me AmavamOnde histórias criam vida. Descubra agora