Alice
Estou deitada em minha cama. O velório é hoje. Eu não vou. Eu me recuso a ir. Barry disse que Minha mãe queria que eu fizesse um discurso, mas eu não tenho psicológico para tudo aquilo, não quero dizer adeus. Se eu não pude dizer enquanto estava viva, não iria fazer diferença me despedir depois que ela já está morta. Mortinha da Silva. Bateu as botas. Faleceu. "Foi para um lugar melhor" como todos meus parentes me falaram quando chegaram ontem. Faz uma semana. Uma semana... Isso ecoa na minha mente. Uma semana que ela não está mais aqui, uma semana que ela não me dá mais conselhos, uma semana que eu digo "sim" automaticamente quando todo mundo de cinco em cinco minutos me pergunta se eu estou bem. Eles sabem que o meu "sim" é um "não". Eles sabem que eu perdi a pessoa mais importante da minha vida, eles sabem tudo isso. Eu agradeço silenciosamente por eles não estarem tentando conversar comigo e uma vez na vida me darem espaço.- Alie? - Pedro abre a porta e chama meu nome. Eu não me mexo, acho que o colchão já tem meu formato, já que eu não me lembro a última vez que eu saí dele. Não me lembro também da última vez que eu comi, nem que eu tomei banho... Pra falar a verdade, acho que faz uma semana que eu não saio do meu quarto também. Eu não vi minha mãe. Não deixaram. Não sei se eu queria vê-la também. Mas isso já não importa mais, não é mesmo?. - Você não saiu do quarto desde o dia... Bom, você sabe que dia - Ele chega mais perto e se senta na ponta da cama. Eu estou no meio da cama, com os braços de baixo de minha cabeça, olhando para janela. Estou assim a uma semana. Foi uma ótima semana, tirando o fato de que minha mãe está morta... Mas de resto não tenho do que reclamar. - Por favor, vá ao velório - Ele súplica ainda sem minha resposta - Alie, eu sei pelo que você está passando...
- Ah, você sabe? - Pergunto sem me mexer ainda. Nem sei se meu ossos e minhas articulações ainda funcionam. - Por acaso minha sogra morreu e eu não estou sabendo?
- Okay, pode me atacar... - Ele respira fundo - Alie, por favor... Eu não sei pelo que você está passando, está bem? Eu realmente não sei e pra ser sincero não queria saber, eu só sei que sua mãe te amava e iria querer ver você lá, e que... Essa merda é muito grande pra você aguentar sozinha....
- Por favor, Pedro... Me deixa em paz! - Eu fecho os olhos, mas o abro rapidamente por que toda vez que os fecho meu cérebro estúpido resolve projetar alguma lembrança dela.
- Não! Não vou te deixar em paz! Você está me entendendo? Eu nunca irei te deixar em paz, você tem que levantar, você precisa levantar!
- Você não vai me fazer levantar dessa cama, Pedro
- Talvez não eu sozinho, mas eu trouxe reforços - Ele caminha até a porta e abre ela. Quando todos entram no quarto (e quando eu digo "todos" eu quero dizer todos mesmo, menos Logan e Emily, claro). Foi quando eu finalmente me virei, para vê-los entrar, parecia até um batalhão das forças armadas, só que todos de preto, Pedro em específico estava com um terno preto e uma gravata azul com bolinhas minúsculas pretas, que em outras circunstâncias me fariam ir pra cima dele na hora. Todos eles se acomodaram na cama e não falaram nada, apenas me observaram voltar ao meu "buraco" do colchão.
Um tempo depois, Barry bateu na porta e logo em seguida entrou.- Tá na hora, pessoal - Barry avisa. Todos saem do quarto em fila indiana. - Olha... Eu sei que é mais difícil pra você do que pra mim, e que você acha mais fácil não se despedir, porque acha que se você não se despedir ela não vai embora... - Pareceu que ele leu minha mente. Era exatamente isso que eu achava no meu inconsciente. Quer dizer, é meio que lógico, não? Okay, talvez nem tanto assim, mas na minha cabeça fazia sentido. - Mas... Pensa no seu irmão, pensa no Luke, ele vai querer lembrar dela, e você - Ele aponta pra mim - Apenas você poderá dar essas boas lembranças, apenas você tem esse poder... Eu sei que ele vai ter seu pai, vai ter a mim... Mas, nós temos visões diferentes, temos visões de maridos, só você tem a visão de filha, e ele vai querer isso - Ele solta o ar com força antes de ir até a porta - Aparece por lá - Ele diz por fim.
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Amor, amizade e outras drogas
Teen Fiction*PLÁGIO É CRIME* LIVRO I DA SÉRIE "OUTRAS DROGAS" Ser adolescente não é nada fácil, nunca foi, nem nunca será. Não é diferente com esse grupo. Novas paixões, novos amores, muitas, muitas brigas, relatos que te farão chora. Romance nunca foi o forte...