Quando Valentina chegou lá em casa, foi direto para o quarto de Brandon, não fui eu quem a atendi, estava no quarto da minha mãe, que por sinal, já estava menos mal. Ela já conseguia se levantar, andar, e até brigar conosco, parecia até que era apenas uma virose de três dias, e não um câncer terminal. Apesar de tudo, ela ainda era a mesma, ainda nos fazia rir, ainda não parava de trabalhar mesmo de casa, ainda falava sem parar, ela era a mesma, a única que tinha mudado era que agora, era o câncer.
Câncer no colo do útero. Essa coisa ecoava em minha cabeça todos os dias desde que descobrimos a doença. Eu fiz pesquisas, li a respeito, procurei tratamentos mais eficaz no exterior, e nada. Parece até um sonho, aliás, um pesadelo, que nunca acabaria enquanto o tumor não a matasse de vez. Ás vezes eu até chego a desejar que ela morra logo de uma vez, isso passou pela minha cabeça diversas vezes, até porquê, era melhor do que ela morrer aos poucos, sofrendo, com dor, acabada. Quimioterapia, radioterapia, esses são os nomes dos dois únicos tratamentos que todos os hospitais podem dar a minha mãe. O câncer é maligno, não haveria como operar e retira-lo, a essa altura do campeonato, se ele não tivesse se espalhado para outros órgãos seria pura sorte.
As consultas quase semanais ao INCA ( Instituto Nacional Do Câncer ) estavam a cansando. A quimio e a radioterapia começariam mês que vem, em janeiro, logo após meu aniversário, e eu fico pensando que no próximo, minha mãe não comemorará comigo. Vê se pode? Ela me colocou no mundo e não pode comemorar esse dia. Mas meu aniversário é o de menos. O que martela em minha cabeça mesmo, é que Luke crescerá sem uma mãe. Imagino a dor que ela e ele sentirão, ela não vai ver o próprio filho se casar, se apaixonar, não conhecerá nenhum de seus netos.
Não posso confirmar se existe céu e inferno, mas, se realmente existir, as pessoas não se lembrarão do que viveram na terra. Acho que assim é menos doloroso. Mas também menos esperançoso. Se seus familiares depois da morte forem para o mesmo lugar, não irão se reconhecer, não vão nem saber que um dia chegaram a se ver. Assim não vale a pena.
- Alie? - Chamou Pedro batendo na porta do quarto da minha mãe. Levantei a cabeça saindo do meu transe, que já era de costume. Olhei pra ele e soltei a mão da minha mãe que dormia tranquilamente em sua cama, como se não fosse morrer a qualquer momento. - Valen está te chamando - Ele pronunciou assim que eu me levantei. Assenti e fui em sua direção. - Tem certeza que quer falar com ela? - Ele perguntou atencioso. - Eu posso dar alguma desculpa...
- Não precisa - sorri. - Eu falo com ela, sem problemas... - Sai do quarto e a encontrei na sala.
Ela estava nervosa, pude ver em sua postura, mas também tinha uma feição triste. Suas pernas não ficavam paradas, ela estava tremendo.
- Meu Deus! - Ela exclamou assim que me viu. - Como você tá? Aliás, como sua mãe está? - Quase engasguei, quando ela perguntou da minha mãe. - Lice, por que você não me contou - Me abraçou. - Coitada! Agora eu entendi você estar na lua esses últimos dias, me desculpe, eu...
- Para! - Gritei e a mesma se assustou. - Quem te contou? Foi o Brandon? - Perguntei irritada.
- De que isso importa? Era para eu ter sabido por você! Eu ia te ajudar, te...
- Me ajudar com o quê? Descobrir uma cura? - Minha visão embaçou, meus olhos estavam pesados, eu não queria chorar, não de novo - Eu não sei se você sabe, mas não é tão simples assim - Funguei - Quem precisa de ajuda é ela, e não eu! E me dói, dói muito não ter como ajuda-la - Não consegui mais segurar, algumas lágrima caíram sem permissão.
- Eu sei, mas... Eu queria te consolar, estar ao seu lado... Só queria... - Ela chorou também - Eu não sei o que dizer, eu só queria tá com você, afinal amigos servem para isso, não é mesmo? Só queria estar com você em um momento difícil da sua vida... - Ela me abraçou. Demorei alguns segundos até retribuir o abraço, mas quando em fim a fiz, desabei em seus ombro, chorando mais do que tinha noção que era possível.
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Amor, amizade e outras drogas
Teen Fiction*PLÁGIO É CRIME* LIVRO I DA SÉRIE "OUTRAS DROGAS" Ser adolescente não é nada fácil, nunca foi, nem nunca será. Não é diferente com esse grupo. Novas paixões, novos amores, muitas, muitas brigas, relatos que te farão chora. Romance nunca foi o forte...