Alice
O ano passou voando, já é dia 30 de dezembro, hoje é minha última consulta com a Lúcia, estou aguardando ela me chamar ao lado de Pedro que mexia no celular com umas das mãos, e a outro segurava a minha bem forte, acariciando com o polegar.
- Vamos, mocinha? - Ela pergunta sorrindo. Meu coração da um salto. Com tudo que aconteceu esses últimos meses eu preciso ser sincera nessa consulta, ela tem que me dar o laudo médico pra eu arrumar outra terapia lá no exterior. Entrando na sala e eu me sento dando um meio sorriso à ela. - Então, como você está?
- Vai fazer um ano, que ela morreu - Falo olhando ela baixo - Passou tão rápido - Dói um longo suspiro. - Sabe... Assim que ela morreu, eu fiquei com raiva de Deus. Eu tenho uma fé, sabe? Eu não vou à igreja, mas eu acredito, eu oro todas as noites antes de dormir, agradeço por acordar, peço para ele abençoar minha família, nos dar saúde... E quando ela morreu eu não pude acreditar que ele estava fazendo uma coisa dessas comigo. Não podia. Então eu fiquei com raiva dele. - Respirei fundo, minha voz já estava embargada e as lágrimas brotavam em meus olhos sem minha permissão. - Depois de um tempo, eu fique com raiva dos médicos, achei que eles podiam ter impedido de alguma forma. Depois isso passou, e eu entendi que Câncer é a doença mais desgraçada do mundo e que não era culpa dos médicos - Eu já estava soluçando de tanto chorar - Mas aí eu tive raiva dela. Eu não conseguia entender. Porque ela me deixou? Porque deixou o Luke? Porque não lutou mais um pouco? Porque não se cuidou? Porque não se preveniu? - Eu estava fora de controle, chorava de soluçar e não conseguia parar. - Mas... Mas no final, eu vi e percebi que não era culpa de ninguém e que isso tinha que aconteceu era por algum motivo do destino que eu ainda não sei qual foi - Começo a me acalmar. Quando finalmente olho pra Lúcia, ela está sorrindo. - Não acho que isso tenha alguma graça
- Não tô achando graça... Tô orgulhosa
- Porque?
- Você se abriu comigo, esse era nosso propósito aqui. Achei que você nunca faria isso, mas você conseguiu, você chorou, você me contou como se sentia. - Seu sorriso aumenta - Sei que isso é difícil pra você, mas você venceu isso. Estou muito feliz e orgulhosa, você só melhorou e evoluiu.
- Eu... Eu senti ela - Ingulo em seco. - No dia em que eu e o Pedro brigamos e dormimos separados. Eu senti ela, e eu tive certeza de que era ela. Eu... Eu tava encolhida na cama e estava quase dormindo, quando senti o peso de alguém na ponta da cama, perto de meus pés. Olhei pra baixo sem me mover, e não havia ninguém lá. Eu olhei porque pensei que fosse o Pedro, mas não tinha ninguém. Tentei ignorar e achar que fosse só minha imaginação. Mas logo depois, a "pessoa" que tinha se sentado, logo deitou, bem perto de mim, e eu senti um calafrio percorrer a minha espinha, como se tivessem me abraçado. Era ela. Ela me abraçou. - Mordo o lábio inferior. - Eu perguntei em voz alta se tá ela, mas obviamente ninguém me respondeu. Mas eu tenho certeza de que era ela. Ela foi lá porque viu que eu estava sofrendo, ela sentiu o quanto eu estava mal com a briga com o Pedro. Ela foi me consolar - Sorrio enquanto uma lágrima percorria meu rosto.
- É a cara dela fazer isso, sabia? - Lúcia também estava chorando, não na mesma proporção que eu, mas eu podia enxergar algumas lágrimas saírem de seus olhos marejados. - Deveria ser ela mesmo. E, ela deve fazer isso com mais frequência. Talvez de formas diferentes agora.
- É... - Não sabia mais o que dizer.
- Bom, está na nossa hora - Ela se levanta e fala assim que minhas lágrimas param de brotar e cair.
- Okay. Ah, eu preciso do laudo, pra continuar a terapia lá - Falo antes que ela abra a porta.
- Não, não precisa - Ela fala. Eu não entendi - Você não precisa. Tá liberada. - Ela sorri. Eu a abraço por impulso.
Estou liberada. Não consigo acreditar. Todas as outras vezes que eu parei de ir na terapia foi porquê não tinha tempo, mas agora não, eu estou liberada.
- Então, que dia você vai mesmo? - Pedro me pergunta quando já estamos dentro do carro.
- Dia cinco - Sorrio. A gente não estamos namorando mais. Não brigamos nem nada. Mas é que isso é meio óbvio, né? Bom, decidimos juntos terminar antes que tudo saísse do controle. Somos amigos e tá tudo bem. Não que eu não o amasse ainda ,ou que boa fosse completamente apaixonada por ele, mas é que não iria dar certo de qualquer forma. Não foi depois daquela briga. A gente se acertou horas depois que eu subi pro quarto, e ficou tudo bem. Mas o fim foi inevitável. Faz dois meses que a gente terminou, e somos amigos, como eu já falei, tá tudo bem.
Quando chegamos em casa, eu fui direto pro meu quarto e comecei a fazer as malas. Os móveis do meu quarto já foram pra casa de lá. Assim como os dos meus amigos. Os móveis da sala e da cozinha a gente comprou juntos, em uma loja online de lá. Vamos na loja pra autorizar pessoalmente a localização onde eles devem entregar os móveis. A maioria das nossas roupas vão amanhã, porque não podemos levar tudo no avião com a gente. Escuto alguém bater na porta.
- Entra! - Grito do closet.
- Que bagunça! - Escuto a voz da Valen.
- Nem aprece o quarto da Alice! - Essa é a voz do Peter.
- Precisa de ajuda? - Pergunta Lucas, na porta do closet encostado no batente.
- Seria bom... - Falei sorrindo.
Os três me ajudaram a arrumar tudo e em duas horas. Deitamos no colchão que tinha no meio do meu quarto, já que minha cama deve estar em algum lugar do oceano a caminho do nosso novo apê.
- Parece um sonho - Eu falo olhando pro teto.
- Que está se realizando - Peter fala.
- Eu nunca mais vou querer voltar pro Brasil. - Lucas ri.
- O negócio é arrumar um gringo e casar com ele pra conseguir cidadania. - Digo ainda olhando pra um ponto rosa no teto que eu não faço a mínima ideia de como isso foi parar aí.
- É verdade... - Valentina responde. Nós caímos na gargalhada.
Depois disso a gente foi pra casa da Valen e ajudamos ela, logo em seguida na do Lucas e depois na do Peter. No final do dia a gente foi no cinema e nos divertimos juntos. Isso ocorria com frequência daqui a alguns dias. Estávamos eufóricos.
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Amor, amizade e outras drogas
Novela Juvenil*PLÁGIO É CRIME* LIVRO I DA SÉRIE "OUTRAS DROGAS" Ser adolescente não é nada fácil, nunca foi, nem nunca será. Não é diferente com esse grupo. Novas paixões, novos amores, muitas, muitas brigas, relatos que te farão chora. Romance nunca foi o forte...