Amor, amizade e outras drogas

Já tava ruim, parece que piorou

*Segunda-feira*

Foco. Já não tenho mais, a única coisa que eu consigo pensar agora é em minha mãe, e em como ela está. Não falo muito, quase nada, se ninguém me perguntar nada, eu fico na minha. Parece que depois do diagnóstico, meu mundo, minha vida, não é mais a mesma. Nem eu.

Pedro é o único que sabe. Não quero falar pra ninguém. Detesto que as pessoas tenham pena de mim. Se eu contar pra alguém do grupo, vou ter que contar pro resto. Daí pra diante, todos estarão comentando, e quando eu passar nos corredores, vão cochichar: "tadinha, a mãe dela têm câncer" ou "Coitada! Daqui a uns meses, vai ser órfã". Eu sei disso. Adolescentes são a pior raça da humanidade. Quanto mais você se sente humilhada, mais eles alimentam o próprio sorriso. 

Simpatia já não era o meu forte, agora então, estou quase sento titulada a "estranha da sala". Ah, rótulos, outra coisa que adolescentes adoram. Acho que quando chega nessa fase se esquecem que chamamos as pessoas pelo seus nomes. Ou que qualquer "brincadeira", para de ser "brincadeira" quando o outro não está rindo.

Todos perceberam o quanto eu estou distante deles agora. Mas ninguém teve coragem de perguntar o que está acontecendo. Agradeço por isso, aliás.

Tem exatamente dois dias que eu não durmo. Digo, não durmo mesmo. nem 2 minutos. Fiquei com minha mãe durante as últimas noites. Ela têm passado muito mal, principalmente durante esse horário. Barry tem que trabalhar, e a Violet fica com o Luke. Mesmo se alguém se disponibilizasse a ficar com minha mãe, eu não confiaria. Eu quero ficar com ela o máximo que eu puder. Vou ter muitos dias hibernando quando ela se for.

- Alice? - Chamou Peter. Voltei minha atenção ao grupo sentado na mesa circular todos reunidos.

- Desculpa, o que? - Perguntei levantando a cabeça.

- Ele perguntou o que você acha de uma festa - Ághata falou.

- Anh... - Gaguejei. Sem clima. - Não sei...

- Ah, qual é! - Isa falou. - Logo você? É quase impossível tu recusar a este tipo de pedido!

- Não sei gente, não tô no clima de festa ultimamente...

- Ah corta essa! - Indagou Logan

- É sério, pessoal! - Supliquei. Pedro que estava ao meu lado passou a mão em volta do meu ombro tentando me fazer não desabar.

- Sério, Alice.. - Pediu Isa mais uma vez - Tenho certeza que a tia Val não vai se importar com uma festinha... - Ela falou. Tive vontade de falar que a "Tia Val" dela não iria estar viva daqui a alguns meses, mas mordi a língua. 

- É... A essa altura do campeonato, tenho certeza que a minha mãe não vai se importar com um bando de adolescentes idiotas fazendo bagunça na casa dela... - Falei com a voz embargada, quando recuperei, falei: - Aliás, porque tem que ser na minha casa? Sempre é assim! Mas que merda! Se vocês querem uma festa, vocês mesmos a façam! Eu não tô a fim! Por acaso vão morrer se uma vez na vida eu não fizer tudo pra vocês? - Gritei.

Todos me olharam assustados.

- Calma, Alice! - Tentou Leah.

- Não! Calma não! Eu tenho coisas muito mais importantes para me preocupar, do que ser a organizadora de eventos de vocês!

- Caralho, é só uma festa. Não surta não! - Falou Isa.

- Ah! - Protestei. - Vai se fuder, Isabella! Se você não sabe o que eu tô passando, você fica quieta! - Falei alto mais uma vez.

- Se eu não sei é porque você não quer me contar! - Ela gritou de volta.

- Acho que você tá preocupada demais olhando pro próprio umbigo e escolhendo sabores diferentes de camisinha para se preocupar com os problemas de qualquer um dessa roda! - Falei me levantando e saindo o mais rápido dali.