Cap. 35

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irraaa

Narrador.

-Eu falei da boca pra fora, na hora da raiva as pessoas falam coisas sem pensar e acabam magoando quem está ouvindo. -A investigadora responde com duplo sentido na frase, afinal as duas se magoaram com o que ouviram uma da outra. -Não quero que você vá embora.

Paula respira fundo, encarando a mulher a sua frente e se perguntando se vale a pena. Se toda aquela situação vale a pena. Se Hariany vale a pena. E a resposta é sim, e provavelmente sempre vai ser sim. Paula nunca sentira algo tão forte e tão intenso em toda a sua vida, e em tão pouco tempo, e talvez por isso tenha ficado tão magoada com as palavras e com as atitudes de Hariany. O amor carrega consigo várias tangentes, não só as coisas boas e maravilhosas, mas tudo é sentido com mais intensidade quando vem de pessoas que você ama ou considera de alguma forma.

Em sua cabeça as dúvidas e inseguranças continuam rondando de forma copiosa. Paula não quer se contradizer, não quer dar braço a torcer e no fim acabar na mesma merda como acabou com o Daniel.  Mas todos merecem uma segunda chance, certo? Hariany não é um monstro. 

A Sperling assente, olhando a investigadora nos olhos, que por sua vez, meio receosa, busca pelas mãos de Paula e as agarra entre as suas. A agente guia a de olhos azuis para mais perto da cama e as duas sentam uma de frente para a outra, ainda de mãos dadas e acalentadas por um breve silêncio.

-Vai. - Paula diz, quebrando a quietude, e Hariany a lança um olhar de questionamento, o cenho franzido. -Vá em frente e fale o que está queimando seu coração.

Ela está falando da dor de Hariany. Paula entende e sente que não é a única que tem traumas, que tem mágoas e feridas ainda não cicatrizadas. Ela tem noção de que se as duas estão nessa situação por uma coisa tão pequena como ciúme, é por ter muitas outras coisas envolvidas, coisas que não são recentes, ou são muito recentes.

Hariany interpreta corretamente aquela frase e acata ao pedido, depois de fechar os olhos e respirar fundo pelo nariz.

-Eu guardei aquela frase, uma das últimas que você disse; sobre não sermos namoradas. E eu sei disso, eu nem tinha o direito de ter surtado de ciúmes daquele jeito por uma pessoa que nem está realmente comigo, e mesmo que estivesse! M-mas, eu pensei que...eu pensei que estava rolando algo entre a gente, sabe? E eu até acho que está, mas a verdade é  que quando eu te vi com ele, eu fiquei...arrasada.  Isso vai soar ridículo, mas vocês pareciam tão felizes, pareciam pertencer um ao outro, o riso frouxo, e vocês nem estavam fazendo nada demais, só estavam conversando! E eu pensei comigo mesma que eu não seria capaz de competir com o Diego caso fosse necessário. Vocês se deram bem desde o primeiro momento e com a gente não foi assim, mesmo morando na mesma casa levou um tempo até que a gente começasse ao menos a conversar assuntos que não fossem só o necessário. -Hariany desabafa com uma verdade imensurável na voz. Já nem chora mais, Paula muito menos, mas seus olhos estão vidrados no rosto corado da investigadora e ela presta atenção em cada palavra, procurando entender de onde Hariany tirou a ideia de que ela a trocaria por qualquer outra pessoa no mundo. Achou até graça daquilo. -Mas eu me recusei a acreditar que você me trocaria tão fácil, porque tem sido dias tão intesos! Você me faz sentir coisas que eu nunca senti em toda a porra da minha vida, com ninguém! E eu lutei contra minhas inseguranças e disse a mim mesma que você não iria tão fácil assim. Mas meio que toda essa auto confiança foi pelo ralo quando você disse aquelas palavras. Tem noção disso? Tem noção do quão importante pra mim você se tornou? E não foi uma questão de ego, sabe? Eu não fiquei daquele jeito por me sentir incomodada com a possibilidade de você me trocar pelo Diego ou por qualquer outra pessoa, eu só tive me...eu ainda tenho medo de te perder. E por Deus, eu não estou tentando justificar aquela minha atitude ridícula com esse medo, ou com a bebida ou com qualquer outra coisa. O erro foi meu, eu assumo ele totalmente e eu abomino isso, e estou me sentindo constrangida e suja e não quero ser aquilo outra vez! Eu fui imprudente, agressiva e egoísta, eu não pensei em você em nenhum minuto e simplesmente explodi.

Surrender. (Pauriany) Onde histórias criam vida. Descubra agora