Cap. 36

656 50 55
                                    

E vamos de atualização nessa terça de carnaval que mais parece um domingo qualquer.

Narrador.

Hariany pode sentir a ardência em suas costas e nuca, onde Paula arranhou durante a madrugada inteira tamanho prazer que uma proporcionou a outra. A lembrança faz a agente sorrir instantaneamente, aquela com toda certeza será uma noite inesquecível. Fora, de longe, uma das melhores experiências de sua vida.

As cenas se repetem em sua mente de forma incessante; corpos suados e em sintonia, olhos revirando em deleite, gemidos altos e incontroláveis. Foi tudo mais perfeito do que Hariany esperava e as duas, quase insaciáveis, só pararam quando sentiram a exaustão tomar conta de seus corpos.

Porém, a investigadora, apesar do cansaço, não consegue dormir por muito tempo, pois seu cérebro simplesmente não lhe dá trégua, ao contrário de Paula, que está imersa em um sono profundo ao seu lado, agarrada em sua cintura enquanto sua respiração pesada e quente bate contra a bochecha de Hariany.

Algumas preocupações que infelizmente não podem ser deixadas de lado mantém a investigadora desperta, levando seu sono embora. Ela já está cheia de encarar o teto pálido daquele quarto, então resolve se levantar, o fazendo com todo cuidado do mundo para não acordar a mulher ao seu lado, que por sua vez apenas resmunga ao sentir a movimentação no colchão e se vira para o outro lado quando Hariany sai de seu aperto, revelando as costas brancas e desnudas, alguns arranhões espalhadas pela mesma.
Hari admira por mais uns segundos, se perguntando o que fez para merecer tanto.

Finalmente sai do quarto nas pontas dos pés, indo direto para o outro quarto/escritório na busca de sua arma. Talvez limpá-la seja uma boa distração para o momento, sempre é.
Ela abre a primeira gaveta da elegante escrivaninha, onde ela geralmente estuda os casos e guarda alguns arquivos que traz do trabalho, e já avista sua adorada companheira de profissão.

Aparentemente sem motivo algum, quase que como um instinto, ela enfia a mão até o fundo da gaveta e sorri ao sentir o maço de cigarro levemente amassado ali. Hari o retira, pega o revolver e sai do quarto, passando na cozinha apenas para pegar uma flanela e o isqueiro.
A agente suspira aliviada quando entra na varanda e dá de cara com aquele céu, já não tão escuro, mas ainda assim cheio de estrelas. O vento gelado bate em seu rosto e tenta levar consigo os fios soltos do cabelo de Hariany.

A loira caminha até as cadeiras de alumínio e senta em uma, colocando as coisas sobre a outra. Sem muitas delongas, ela abre o maço já surrado pelo tempo de uso, observando os únicos três cigarros restantes ali, capturando um e o colocando entre os lábios.
Estala o polegar no isqueiro, vendo as faíscas se transformarem instantaneamente numa pequena chama amarelada, levando-a até a outra ponta do cigarro e finalmente o acendendo com uma tragada forte.

Seu corpo relaxa sobre a cadeira ao sentir a nicotina invadir seus pulmões, seus olhos se fecham inconscientemente e um pequeno sorriso de canto lhe enfeita os lábios.
Hariany nunca fora adepta de vícios, mas o fato é que quando você exerce uma profissão tão perigosa tal qual a sua é, tende a desenvolver um plano de fuga para não acabar enlouquecendo ou entrando em depressão. Alguns de seus colegas usam terapias com psiquiatras, outros recorrem ao álcool, uns até esquecem brevemente que são da polícia e usam drogas. Hariany, bem, ela prefere o cigarro.

Não fuma diariamente, muito pelo contrário, só recorre a isso quando está com a cabeça muito cheia. Ela sempre lidou bem com as coisas que presencia na delegacia e nos trabalhos em campo, depois de certo tempo ela aprendeu a separar as coisas e se manter imparcial para a maioria das situações que ocorrem todos os dias na sua profissão.

Mas algumas vezes, como investigadora criminal da polícia civil, acontecem coisas realmente bizarras e perturbadores, coisas essas que ficam impregnadas em sua mente por dias. São nesses momentos que ela recorre à nicotina, que não anula os pensamentos obscuros, mas alivia de forma até considerável.

Surrender. (Pauriany) Onde histórias criam vida. Descubra agora