Cap. 34

517 49 67
                                    

Filma a cínica voltando mil anos depois como se nada tivesse acontecido rs.

Narrador.

O estrondo da porta ao ser fechada tão abruptamente fez Paula dar seu segundo sobressalto naquele fim de tarde, deixando seu coração ainda mais acelerado e a respiração ofegante. As palavras chegaram aos seus ouvidos mas ainda não lhe fazem sentido. Ela tenta assimilar o que Hariany disse enquanto seus olhos automaticamente enchem d'água.

Enquanto encara os cacos de vidro espalhados diante de seus pés, não deixa de pensar em como aquilo é, ironicamente, uma turbulência emocional refletida em uma ambiente tangível. Seu coração está exatamente como aquilo que há poucos minutos foi uma garrafa, completamente estilhaçado.

Apesar de se sentir um pouco desnorteada, seu tempo de reação fora de pouco mais de dez segundos, ainda que sua mente estivesse em um turbilhão de emoções, até que ela se desse conta de que não pode simplesmente deixar as coisas assim.

Com certa dificuldade pelo choque da mais que recente briga e pela explosão inesperada de Hariany, Paula força suas pernas a se moverem para o lado oposto ao qual a outra tinha ido. Até pensou em continuar a conversa, mas agora já não sabe exatamente o que esperar da investigadora e preferiu não pagar para ver.

Paula faz um caminho cauteloso até o quarto, tomando cuidado para não escorregar nos estilhaços e acabar se machucando.
Não consegue segurar o choro quando finalmente se vê parada no meio do quarto, repassando em sua cabeça tudo que acabara de acontecer há alguns segundos enquanto olha em volta, na buca de uma resposta divina sobre o que fazer. E agora?

O dia tinha começado tão perfeito, em que momento exatamente ela começou a errar? Em que momento as coisas saíram do trilho e começaram a desandar?!

Não quer acreditar que as coisas vão simplesmente acabar, literalmente, do dia para a noite.

Apesar das lágrimas que embaçam sua visão, Paula tenta pôr a cabeça no lugar e vai até o closet, pegando todas as suas roupas que vieram com ela no dia em que chegou ao apartamento e as jogando sobre a cama de casal. Ela retorna ao closet apenas para pegar sua mala, logo a jogando sobre o colchão e a abrindo. Sem nem se importar em dobrar as peças, ela enfia uma a uma na mala, de qualquer jeito, impondo um pouco de raiva no ato, enquanto tenta a todo custo impedir que as lágrimas caiam.

Toda essa adrenalina está mexendo com Paula de um jeito muito mais intenso. Ela para no meio do processo de terminar de guardar as roupas quando sente sua respiração falhar, o oxigênio entrando com dificuldade por suas vias respiratórias, quase não chegando ao pulmão. Ela ergue suas mãos em frente ao rosto apenas para constatar que as mesmas estão tremendo sem controle nenhum, seu coração acelerado apenas confirma o que ela já imaginava; está prestes a ter uma crise de ansiedade.

Em uma de suas consultas com Isabella, quando ela ainda era sua psiquiatra, Cecci a alertou de que Paula poderia desenvolver crise de ansiedade e pânico por causa dos traumas, e por precaução a instruiu sobre como lidar com isso caso chegasse a acontecer e ela não tivesse ninguém por perto para ajudá-la.

É pensando nisso que Paula tenta a todo custo manter a calma. Pende o pescoço para trás, encarando o teto, e tentando controlar a respiração. Tenta não se distrair com suas mãos molhadas de suor e ignorar o fato de que parece cada vez mais difícil de respirar, como se uma geladeira enorme estivesse sobre sua caixa torácica. 

Sente seu rosto inteiro formigar e seus movimentos de repente parecem limitados, como quando você enrola uma grossa camada de fita adesiva por todo o seu dedo e depois tenta dobrá-lo. A frase "isso vai acabar logo" se faz presente em sua mente como um mantra, um pisca alerta, repetidas vezes, assim como Isabella lhe disse para fazer.

Surrender. (Pauriany) Onde histórias criam vida. Descubra agora