Cap. 33

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:)

Narrador.

-Acho que tem que ter muita coragem para namorar alguém que nunca vai te ter como prioridade. -Diego responde, ainda na mesma posição, encarando o mar dançante a sua frente.

-Como assim? -Paula pergunta, não entendendo as pontuações do homem.

-Sabe, a Hariany é uma pessoa incrível, apesar de eu nunca ter tido a chance de me aproximar dela além do trabalho, eu sei que ela é uma boa pessoa, porque além da Bárbara falar muito bem dela para qualquer pessoa, Hari tem seu brilho próprio, uma áurea forte. Mas...ela é completamente obcecada pelo trabalho, sabe Paulinha? É como se ela vivesse por isso, e nada mais importa. Já a conheço há muitos anos e o que mais roda naquela delegacia é a fofoca que os namoros que ela teve chegaram ao fim justamente por conta do trabalho, nada está acima da profissão para ela. -Diego explica, tentando ser claro em sua resposta. -Eu não sei como alguém consegue de viver assim, entende? Existem essas pessoas anti sociais, retraidas e realmente obcecadas pelo trabalho, ou talvez ela tenha tido algum problema na infância, algum trauma que a tenha feito ser o que é hoje; praticamente um robô.

Paula escuta a tudo calada, sua mente dando um nó ao ouvir cada palavra. Seus olhos voltam a encarar a mulher por quem está apaixonada, seu cérebro tentando dar um sentido ao que ouvira.
De repente, a Sperling sente um estalo em seu lóbulo pré-frontal, a fazendo se lembrar da história de vida de Hariany. Sim, a agente sofreu e ainda sofre com vários traumas desde a infância, principalmente com a perda de sua irmã. Sua família também não foi das mais carinhosas, portanto ela não recebeu tanto afeto e viveu maior parte de sua infância/adolescência isolada das outras pessoas. E quando finalmente resolveu dar uma chance ao amor, mesmo que em forma de amizade, a única pessoa que a amou de volta e incondicionalmente, vulgo Nikki, também fora embora sem nenhuma explicação.

Hariany aprendeu do jeito mais difícil a viver só, a não precisar do afeto alheio e se bastar, ser auto suficiente, os conselhos e poucos abraços de Bárbara já lhe atendem perfeitamente no quesito afeto físico e emocional que todo ser humano precisa. Por isso, talvez seja mais fácil para Hariany lidar com o trabalho, algo regrado, costumeiro e que, provavelmente, não lhe trará nenhum dano sentimental (isso soa meio irônico já que ela lida diariamente com caso de mortes, agressões e muitas outras coisas, mas aprendeu a lidar com o que isso lhe causa). Coisa essa que ela mais abomina, pois se acha incapaz de lidar com seus próprios sentimentos e emoções desde que deixou sua mãe e se mudou para o Rio de Janeiro.

Mas, para Paula, mesmo tentando entender o jeito e razões da outra, é difícil de acreditar que Hariany a trocaria pelo trabalho. Okay, talvez esteja exigindo demais, elas nem ao menos têm um relacionamento sério. A verdade é que Paula nem pode nomear o que rola entre as duas, pois nem ela mesma sabe. Porém, o fato é que a Sperling está inteiramente disposta a tudo por Hariany, e talvez esteja se precipitando demais, se jogando de cabeça em um lago raso demais, já que agora não tem tanta certeza de que seu sentimento seja tão recíproco como pensava.

Mas o fato é que; Paula viveu metade da sua vida presa em um "amor" completamente ilusional e unilateral, tóxico, que só lhe fez mal e quase a levou a morte. É sim um trauma pesado a se carregar, mas se lembra de quando acordou naquela cama de hospital, sentindo dor em praticamente cada parte de seu corpo e mal podendo falar, e então prometeu a si mesma que não perderia nem mais um segundo de sua vida. Não viveria com medo e nem se privaria do amor, pois nem todas as pessoas são ruins como o Daniel é.
Há tantas coisas incríveis na vida das quais Paula ainda não experimentou, e a única coisa em que consegue pensar é que não quer deixar nenhuma oportunidade passar. Quer conhecer lugares novos, pessoas novas, sensações das quais nunca experimentou, mas principalmente, quer amar. Quer viver um amor desses tão intensos que chega a doer fisicamente, que faz chorar e transbordar de alegria. Paula quer reciprocidade.

Surrender. (Pauriany) Onde histórias criam vida. Descubra agora