Segredos.

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POV ARTHUR

Acordei naquela manhã me sentindo mal por conta da noite anterior, sentir o meu estômago embrulhar, minha cabeça doer, meus olhos estavam sensíveis a claridade. Levantei irritado fechando a janela, a luz do sol invadindo o quarto me incomoda ao extremo.
Fui em direção ao banheiro fazer a minha higiene matinal. Ao sair de lá ainda com a toalha enrolada ao meu corpo, ouvi leves batidas na porta.
- Entra. - Disse enquanto abria o guarda-roupa pegando uma roupa qualquer.
- Bom dia, meu amor! - Ela disse sorridente com uns remédios e um copo de água na mão, entrando no quarto deixando-os no criado mudo.
- Bom dia mãe, pra que são esses remédios? - Perguntei curioso enquanto procurava um pente pra arrumar o cabelo.
- Imaginei que amanheceria com fortes dores de cabeça hoje, já que ontem você chegou em um estado deplorável. - Mamãe falou acompanhando cada movimento que eu fazia como se eu não soubesse o que estava fazendo.
Desde que o papai morreu, ela tem se mostrado mais atenciosa, às vezes passa dos limites por ser super protetora, mas eu gostava desse jeito dela.
- Obrigado, eu sinto muito pela confusão ontem - Tive alguns flashes de memória entrando em casa completamente bêbado, chorando por um motivo desconhecido até agora.
- Não peça desculpas querido, só tenha limites com a bebida da próxima vez - Ela se aproximou de mim, alisando os meus cabelos ainda molhados. - Você ainda é jovem, menor de idade, te deixo beber porque confio muito em você e sei que é um garoto muito responsável. - Sorriu, eu retribuir. - Não sei o que aconteceu pra você ter chorado tanto quando chegou, mas eu espero que possamos conversar mais tarde, agora estou atrasada.
- Vai mais cedo hoje? - Perguntei franzindo o cenho desconfiado, nunca tinha a visto indo trabalhar tão cedo.
- Sim. Tenho uma reunião importante hoje, quero impressionar. - Falou rapidamente e me deu um beijo na testa. - Tchau querido, tenha um bom dia.
- Igualmente. Boa sorte na reunião - Falei enquanto ela saía do quarto meio desesperada, parecia mesmo estar com pressa.
Tirei a toalha, peguei uma cueca e o meu amigão, jamais sairia de casa sem ele, mesmo que eu quisesse a disforia não deixava, então peguei o meu packer (O PACKER É UMA PRÓTESE PENIANA REALÍSTICA PARA HOMENS TRANS) posicionei no lugar certo e vestir a cueca logo em seguida. Mexi na gaveta procurando o binder (BINDER É UMA FAIXA PARA ESCONDER OS SEIOS) bege, quando achei fui até o espelho, prendi a respiração e botei nos seios, sentir aquilo me apertar era horrível. O binder acabava comigo, tenho falta de ar e dores na coluna sempre por causa dele, mas eu não tinha escolha, tenho que esconder os intrusos.
Após vestir a cueca e o binder fiquei me encarando no espelho e sorri, até que eu sou um menino bonito, tenho cabelos pretos ondulados, lábios um pouco carnudos, olhos castanhos, sou branco e um pouco magro, apesar de estar percebendo que estou engordando um pouco nos últimos meses. Eu parecia me analisar, cada detalhe, cada canto do meu corpo, segurei o pau na cueca e apertei fazendo cara de mal, gargalhei logo em seguida, porque eu sempre fazia aquilo?
- Como eu sou idiota. - Falei pra mim mesmo rindo ainda no espelho.
Vestir a calça jeans clara meio apertada, peguei uma camisa preta com uns detalhes azuis e vestir, procurei o meu tênis preto e calcei. Molhei um pouco mais o cabelo após ver que ele tinha secado, passei o creme e fui fazendo os movimentos necessários pra deixa-los como eu queria, levou uns quinze minutos. Olhei no celular era 7:06, ótimo, atrasado mais uma vez. Desci as escadas correndo com a mochila batendo nas minhas costas, peguei duas maçãs, um suco de caixinha e fui para o ponto de ônibus.

Sair do ônibus afobado, corri até a entrada principal da escola e estranhei quando vi apenas o pessoal da minha turma nos corredores. Fui até um grupo já conhecido por mim, lá estava Beatriz, Henrique, Gisele e Amanda.
- O que está acontecendo? - Perguntei confuso ao chegar no grupo que estava sentado no chão do corredor com se fossem moradores de rua.
- Parece que a professora de física não vem - Disse Beatriz sem tirar os olhos do celular. Me sentei ao lado de Gisele e dei um beijo no rosto dela. Gisele é a minha melhor amiga desde que eu tinha 5 anos, nos conhecemos no meu bairro, ela mora há um quarteirão da minha casa, a encontrei pela primeira vez no parquinho perto da minha casa, ela estava sozinha brincando no banquinho de areia, eu tinha umas pás na mão e perguntei se ela queria cavar comigo, desde então, somos melhores amigos.
- Como você está se sentindo? - Ela disse me olhando nos olhos, eu nunca conheci uma pessoa com o olhar tão intenso como o de gisele, ela tinha os olhos castanho esverdeados, cabelos castanho escuro, quase preto, cortados acima do ombro, era mais baixa que eu e tinha um sorriso lindo.
- Bem, tomei uns remédios hoje de manhã, nunca mais bebo tanto. - Estava um pouco envergonhado do PT que eu tinha dado.
- Você me fez segurar seu pau pra mijar. - Henrique falou rindo muito e Amanda fez cara de nojo.
- O que? Não acredito que perdi isso. - Beatriz finalmente tirou a atenção do celular pra interagir com o grupo. Ela era linda, tinha cabelos curtinhos e ondulados, usava um óculos, tinha um alargador na orelha esquerda e um maxilar perfeito, Beatriz usava roupas ditas "masculinas", ela era linda e muito arrogante as vezes.
- E você segurou? - Perguntei com medo da resposta do Henrique
- Amigo é pra essas coisas. - Ele respondeu me encarando com uma expressão engraçada. Corei só de imaginar que ele tinha visto meu pau, mas ele pareceu não se importar.
Todos começaram a falar o quanto a social foi incrível e da vergonha que eu passei. Amanda ria contando que Gisele tentou virar uma garrafa de vodka e acabou cuspindo tudo em Henrique, Gisele mostrou o dedo do meio pra ela em protesto. Eu estava tão longe, pensativo demais, meio sonolento, pedi licença dizendo que ia ao banheiro e Henrique se ofereceu pra ir junto comigo. Ele era um menino trans assim como eu, Henrique era o mais baixinho do grupo, tinha os cabelos lisos, lábios finos e rosados, usava uma calça jeans, camisa vermelha e tinha uma mochila preta nas mãos.
Entramos no banheiro que aparentemente vazio, deixei minha mochila do lado de fora e entrei em uma das cabines pra me aliviar. Henrique ficou perto da pia mexendo no cabelo, não sei o que ele tanto arrumava já que são curtos demais.
- Você está estranho hoje. - Disse em um tom alto já que eu estava na cabine, porém, preocupado.
- Não estou me sentindo bem. - Admiti.
- E porquê disse a Gisele que estava bem?
- Não queria preocupa-la, você sabe como ela é. - Falei abrindo a porta e fechando o zíper, Henrique olhou para as minhas partes baixas sem disfarçar e depois olhou para os meus olhos.
- Eu entendo, quer conversar sobre isso? - Ele se aproximou enquanto eu estava na pia lavando as mãos. O clima tava estranho, Henrique estava estranho ultimamente, então eu só queria sair daquele banheiro com ele o mais rápido possível.
- Não. Vamos sair daqui. - Disse friamente e ele assentiu.

POV GISELE

Eu tentava trocar o alargador da Beatriz mas ela só sabia reclamar, eu tenho TOC, o alargador não estava combinando com a camisa que estava usando, isso era um insulto, Amanda ria com toda a situação, eu estava debruçada em Beatriz enquanto ela desviava a cabeça das minhas mãos, quando eu finalmente ia consegui tocar no alargador o sinal tocou e eu bufei.
- Obrigada, meu Deus. - Beatriz dizia com as mãos juntas olhando pra cima, eu revirei os olhos irritada. Nós três levantamos juntas e fomos até a sala, olhei pro lado e vi no final do corredor Henrique e Arthur saindo do banheiro, Arthur mexia no celular, Henrique apenas andava sem fazer nada demais, ele estava com a expressão séria. Entramos na sala, eles entraram logo em seguida, sorri involuntariamente ao ver Arthur entrando, ele era tão lindo, sentia que devia proteger ele até o último dia da minha vida, ele se sentou ao lado da Amanda, Henrique estava na carteira da frente, Beatriz do outro lado dele e eu atrás.
Para a minha sorte a aula passou rápido, estávamos arrumando os livros na mochila pra sair da sala, era o intervalo agora, Henrique tinha arrumado tudo e nos esperava na porta impaciente, Amanda estava tirando foto da atividade do Arthur e Beatriz estava botando a mochila nas costas.
- Vamos hoje ou amanhã? - Henrique perguntou irritado, que diabos estava acontecendo com ele hoje? - Estou com fome! - Berrou.
- Você me salvou, Thur - Amanda dizia sorrindo enquanto guardava o celular no bolso.
- Da próxima vez faz a atividade. - Ele ria, o sorriso dele era lindo, os olhos quase somem quando ele sorrir, literalmente, é a coisa mais linda do mundo.
- Eu acordei pior do que todos vocês juntos, não tive tempo de fazer a atividade, até agora estou tonta - Amanda dizia divertida enquanto se retirava.
Todos saíram da sala, Henrique tinha ido na frente bufando irritado, Arthur seria o último a sair quando eu puxei ele pelo braço, ele me olhou assustado como se eu fosse uma psicopata.
- Quer me matar do coração? - Ele me olhava incrédulo com a mão no coração, estava ofegante, realmente levou um susto.
- Me desculpa. Eu quero conversar com você sobre uma coisa que aconteceu na festa ontem. - Falei baixo com medo de que alguém nos escutasse, eu estava com receio de contar isso ao Arthur.
- Tudo bem, vamos pro nosso lugar. - Ele falou sorrindo e me puxando apressado.

Nosso lugar era o fundo da escola, obviamente não era permitido que os alunos fossem que lá, era meio abandonado, alguns diziam que aquele era o antigo pátio, a natureza invadia o lugar meio abandonado, era perfeito, eu gostava na natureza, Arthur também.
Chegamos lá e sentamos em um banco de cimento, estava um pouco quente por causa do sol, mas eu não me importei com isso, já o Arthur...
- Você quer fritar a própria bunda? - Ele disse puto eu rir feito uma idiota.
- Para de ser exagerado, está só um pouquinho quente. - Falei tocando no banco, não estava tão quente assim, que garoto fresco.
- Vamos pra lá. - Ele apontava pra um lugar mais afastado, tinha uma árvore fazendo sombra no local, parecia um banheiro grande abandonado, tinha várias cabines parecido com o banheiro da escola, mas não havia pias ou vasos sanitários. Ele foi na frente e eu fui logo atrás dele resmungando, o banco era bem melhor.
- E se isso desabar na gente? - Falei olhando as paredes rachadas e os azulejos caídos no chão.
- Não vai desabar, não se preocupa. - Arthur falou me passando segurança. Ele tirou um casaco grande da mochila o colocou no chão.
- O que você pensa que está fazendo? - Perguntei vendo ele jogar um casaco branco no chão imundo daquele lugar.
- Botando algo no chão pra a gente não se sujar. - Ele disse sentando no casaco e batendo a mão no chão ao lado dele me chamando silenciosamente pra sentar ali.
- Ele vai ficar podre, sabe disso né? - Falei me sentando de frente pra ele.
- Não ligo. - Ele respirou fundo, meio impaciente. - E então? O que quer conversar?

Tonight, we are youngOnde histórias criam vida. Descubra agora