POV ARTHUR - 2018
Nunca liguei para qual roupar usar pra sair, eu sempre pegava qualquer camisa que encontrava pela frente e vestia, sem muita cerimônia, admito estar surpreso com o convite da Sanches, foi tão inesperado que não tive tempo de pensar. Ágata havia me convidado pra ir em um dos melhores restaurantes da cidade, mas a questão não é essa, e sim, qual roupa usar para esse jantar? Optei por uma camisa social preta, calça bege e tênis preto e branco.
Eu estava em frente ao espelho dando os toques finais no meu cabelo ainda molhado quando percebi que a minha barba, se é que eu possa chamar isso de barba, estava horrível, corri em direção ao banheiro e tirei esses restos de pelos do meu rosto, pele lisinha, bem melhor. Tomei um banho de perfume e peguei minha carteira, sair do quarto encontrando a mamãe conversando no telefone mais animada que o normal, ela se assustou quando me viu.
- Oi, querido! Aonde vai? - Perguntou depois de falar "Espera um pouco" pra alguém no telefone.
- Estou indo jantar.
- Cheiroso desse jeito? - Perguntou com uma expressão engraçada.
- É mãe, agora tenho que ir. - Ri descendo as escadas com pressa.O táxi me deixou em frente ao restaurante, havia uma movimentação calma lá dentro, pelas janelas de vidro dava pra perceber o quão luxuoso era aquele lugar, um piano no centro do local só deixava tudo mais elegante, adentrei-o olhando todas as mesas tentando encontrar a Ágata, ela estava em um dos melhores lugares, onde dava pra apreciar uma vista linda da cidade. Quando ela me viu, revirou os olhos com uma expressão divertida, me aproximei da mesa e sentei.
- O que? - Perguntei tentando entender o porquê da revirada dos olhos.
- Odeio ter que admitir isso, mas você está lindo. - Ela disse com um sorriso sapeca nos lábios.
- Não vejo problema em admitir isso, mas você está perfeita. - Falei sem tirar os olhos do dela.Não menti, Ágata estava magnífica, usava um vestido branco longo com detalhes preto, o cabelo estava em um rabo de cavalo perfeito me dando a visão do seu belo pescoço moreno, ela tinha uma tatuagem discreta, uma borboleta pequena ao lado da orelha, olhei para a mesa e vi uma garrafa de vinho.
- Rosé Domaines? - Perguntei tentando disfarçar o meu espanto em vê-la degustando um vinho de aproximadamente 2,5mil reais.
- Olha só, ele conhece bons vinhos. - Ela disse sorrindo me servindo uma taça.
- Conheço. - Falei bebendo um gole sentindo aquele gosto inconfundível do Domaines.
- O que mais você conhece? - Perguntou curiosa.
- Está querendo saber mais sobre mim? - Perguntei tímido.
- Sim, algum problema? - Ágata respondeu toda cheia de personalidade, esse ar superior dela só a deixava mais atraente.
- Problema nenhum, o que quer saber de mim? - Finalmente conseguir relaxar, respirei fundo me acomodando na cadeira. A melodia calma que vinha do piano branco no centro do restaurante me transmitia paz. Mas, será que ela havia percebido que eu sou um garoto trans? E se ela tivesse problemas com isso? Eu deveria contar logo de cara ou esperar? Tentei não pensar muito sobre isso.
- Como tornou-se um stalker? - Ágata perguntou rindo, fechei a cara em reprovação e ela riu mais ainda.
- Não fui atrás de você. - Menti, sou péssimo nisso, com certeza ela percebeu.
- Admite. - Falava convencida sorrindo com a língua entre os dentes, droga, ela era linda.
- Tá, eu fui sim atrás de você, estava curioso pra saber quem era a garota que só faltou me bater no dia da minha formatura. - Falei lembrando da forma rude que a Sanches me tratou.
- Desculpa, eu sou assim com estranhos. - Falou enchendo a taça de vinho novamente.
- Então, não sou mais um estranho? - Perguntei olhando para os seus lábios que estava sendo molhados, ao ouvir a minha pegunta, ela me fitou e deu um sorriso de canto.
- Não, não é. - Percebeu meu olhar malicioso.Pedimos o jantar, comemos lentamente enquanto conversávamos sobre coisas inimagináveis, até sobre o universo e o seus mistérios nós falamos, ela era uma garota incrível, diferente de todas as outras que eu já havia conhecido, a beleza da Ágata não era apenas exterior, ela tem uma luz interna tão forte que é impossível conter o sorriso na sua presença. A morena me contou que viaja muito com a família para fora do Brasil, o pai dela é político, então vira e mexe, ela está indo a reuniões por aí com o pai, contou também que não tem uma boa relação com a família dela e que no dia da formatura, aqueles dois rapazes eram amigos da irmã dela, que a propósito, está estudando em Portugal.
- E você? Já está na faculdade? - Perguntou curiosa apoiando o rosto nas mãos com os cotovelos na mesa, parecia concentrada na conversa.
- Entrarei esse ano. - Falei orgulhoso.
- Qual escolheu?
- Psicologia.
- É isso que você quer? - Perguntou.
- Não sei, mas é o único curso que me identifiquei, vamos ver se vou me dar bem. - Eu não sabia nada sobre psicologia, mas estava disposto a aprender para ajudar os outros.
- Eu entendo você... - Parecia vagar com os seus pensamentos por algum lugar, ficamos um tempo em silêncio, já estava ficando tedioso aquele lugar.
- Quer sair daqui? - Sugeri e ela assentiu.POV ÁGATA SANCHES - 2018
O Arthur era mais legal que eu esperava, era um menino tão doce e gentil, ter conversado com ele foi incrível, por horas esqueci dos meus reais problemas em casa, isso era ótimo. Agora nós dois estávamos andando pela rua, um silêncio surgiu, nós não conversamos mais, estávamos apenas andando e nos olhando sorrindo de vez em quando, ele era tímido demais, aquilo era fofo.
- Pra onde estamos indo? - Finalmente perguntei, ele me fitou com aquele sorriso lindo.
- É uma excelente pergunta, eu não sei. - Respondeu, nos fitamos e foi impossível segurar o riso, ele era um idiota, me chamou pra sair do restaurante pra andarmos por aí sem rumo.
- Obrigada por hoje. - Agradeci, o garoto stalker não fazia ideia do quanto me fez bem aquela noite, eu precisava tanto de uma distração.
- Eu que agradeço, afinal, foi você quem me convidou. - Ele disse.Era estranho, mas eu estava extremamente envergonha na presença do Arthur aquela noite, toda vez que o mesmo me olhava, eu ficava vermelha de vergonha, a presença dele me deixava em êxtase, Arthur tinha um diferencial dos outros rapazes, ele era incomparável, não me sentia bem desse jeito há anos, com certeza vou chama-lo pra sair outras vezes, acho que agora eu tenho um amigo ou mais que isso.
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Tonight, we are young
FanfictionE é por isso que amigos devem dormir em camas separadas E os amigos não devem me beijar como você me beija E eu sei que há um limite para tudo Mas meus amigos não me amam como você Não, meus amigos não vão me amar como você Oh, meus amigos nunca vão...