Algumas semanas depois...
POV ARTHUR - 2018
Nada é fácil, quando você é trans tem que pensar na pior das hipóteses, porque tudo é tão inimaginável, quando somos tratados do jeito certo, é um choque, é raro ver alguém usando os pronomes certos, raro receber olhares normais das pessoas, sem ser aqueles como se você fosse algum ser desconhecido, vivemos com aquele incerteza, com medo, com insegurança, parece que o pensamento positivo não existe, porque só a gente sabe como é ser julgado apenas por ser quem você é.
- Nervoso? - Sanches perguntava me fitando preocupada, aquele par de olhos negros transpassavam acolhimento, apoio, segurança, era tudo que eu precisava naquele momento.
- Muito, eu sei que eles não vão gostar de mim. - Falei abotoando o último botão da minha camisa social branca, minhas mãos estavam suando, meu coração palpitava forte, eu olhava para um lugar qualquer do quarto com os olhos arregalados e vazios, porque na mente, só conseguia pensar em uma coisa "os pais da Ágata vão me odiar".
- Meus pais são difíceis, disso eu sei, mas quem tem que gostar de você sou eu, Arthur... - Ágata falava cada palavra esforçando-se para me tranquilizar, o que era uma perda de tempo.
- Se eu fosse um cara normal, não teria que passar por isso. - Falei rápido e sem pensar.
- Cara normal? Você tem alguma anomalia e eu não percebi? - Perguntou alterada levantando-se da cama em que estava sentada. - Enlouqueceu? Nunca mais fale que você não é normal, Garcia!
- Falei alguma mentira? - Ri ironicamente caminhando até o guarda-roupa pondo meu relógio.
- É exatamente o que eles querem que você pense, que você não é normal, mas você é, Arthur. Você tem dois braços e pernas como qualquer outra pessoa, você tem um par de olhos lindos , tem um par de mãos, um coração bom, tem sentimentos, empatia, coisa que a maioria não tem ao te olhar e dizer coisas que infelizmente fazem você se sentir desse jeito. Eu conheço você, os únicos anormais são as pessoas que te machucaram com as palavras. Agora termina de se arrumar logo! - Saiu do meu quarto pisando forte no chão, bateu a porta com força fazendo-me levar um pequeno susto, cada palavra da Sanches foi um tapa na minha cara, como eu fui capaz de dizer que não sou normal? A sociedade sempre vai julgar você, sendo trans ou não, sendo gordo ou magro, rico ou pobre, negro ou branco, você não vai escapar dos julgamentos, eles que se fodam, você é foda e eu também, nesse jantar quero mostrar aos pais da Sanches que eu não sou Arthur o homem trans que a filha deles está namorando, vou mostrar que eu sou um homem com muitas qualidades, vou mostrar pra eles o porquê que a Sanches me escolheu. Dei a última olhada no espelho, estava tudo ok, decidir deixar a minha barba crescer, não está muito grande, mas tá bem marcada. Pareço um homem de negócios, só faltou uma maleta na mão e uma gravata, como vou explicar para eles que tenho 19 anos e ainda não comecei a faculdade?POV ÁGATA SANCHES - 2018
Será que eu devia demonstrar para o Arthur que estou tão nervosa quanto ele? Maldita hora que eu fui mencionar que estava "namorando", claro que eu quero que o Arthur conheça a minha família, mas eles são cruéis e se perceberem que o Arthur é trans talvez possam perguntar coisas desnecessárias para ele, passar a olhar estranho, não quero que ele passe por isso dentro da minha casa, não vou deixar isso acontecer, muito menos esconder que ele é um homem trans, poderia explodir a qualquer momento de tanto orgulho que eu sinto do Arthur, nunca havia conhecido um homem tão forte.
- Estou pronto. - Ele falava enquanto descia as escadas apressado, Arthur usava uma camisa de manga social branca, calça jeans escura, sapatos pretos, tinha o cabelo penteado para trás e estava muito cheiroso, mas o cabelo... - Por que tá me olhando assim? - Perguntou com o cenho franzido.
- Você está lindo, só que os meus pais vão rir do seu cabelo. - Falei repreendendo o riso.
- Não tá legal? - Perguntou.
- Não, você colocou gel?
- Sim...
- Vem cá. - Pedi, Arthur se aproximou de mim abaixando-se um pouco para que eu pudesse ficar na altura da sua cabeça, com as mãos, baguncei um pouco o cabelo dele.
- Assim não, Ágata! - Exclamou levantando-se puto da vida. - Olha o que você fez.
- Está melhor assim! - Falei gargalhando recebendo um olhar ameaçador do Arthur.
- E agora? - Perguntou.
- Vai lavar, tira a metade desse gel, passa a toalha pra enxugar um pouco e pronto, seu cabelo já é arrumado.
Arthur bufou irritado indo em direção ao banheiro da casa, eu ria da frustração dele, nunca ia deixá-lo sair com aquele cabelo, parece que vamos nos atrasar.
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Tonight, we are young
FanfictionE é por isso que amigos devem dormir em camas separadas E os amigos não devem me beijar como você me beija E eu sei que há um limite para tudo Mas meus amigos não me amam como você Não, meus amigos não vão me amar como você Oh, meus amigos nunca vão...