Sonho iniciado

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MIAMI BEACH, FLÓRIDA - 2025.

Mais um dia ensolarado em Miami, era um lugar encantador, as suas lindas praias e paisagens me apaixonavam cada vez mais, impossível me acostumar, parecia que eu estava em algum cenário de filme, as pessoas bronzeadas andando na praia conversando sobre alguma coisa muito engraçada, turistas com as suas roupas sociais brancas andando pela areia.
Eu estou em Key Biscayne, uma ilha em Miami conhecia por suas lindas praias e parques, perfeita pro turismo, mas eu não era turista, estava em Miami a aproximadamente 8 anos, conhecia esse lugar como ninguém. Ao longo desses anos me tornei uma pessoa completamente fechada, tenho poucos amigos por aqui, mal os vejo. Digamos que, aprendi a lidar com a solidão, aprendi a viver sozinha, a me divertir sozinha, era incrível não depender de ninguém pra isso. Afinal, isso é solidão ou liberdade?

POV ARTHUR - 2018.

Estava terminando o ensino médio, a formatura era daqui há 2 semanas e sinceramente? Eu não estava preparado pra me formar, o que eu faria depois? Que faculdade fazer? Ou seria melhor um curso técnico? Tô confuso, ultimamente tenho estado estressado demais com tudo isso, era uma puta pressão psicológica, todos falando sobre faculdade, cursos e eu ali sem saber que data era hoje.

- Poderíamos fazer faculdade juntos, não quero me separar de vocês... - Beatriz falava com a cabeça repousada no meu ombro, nós ficamos mais próximos esses anos, ela vivia dormindo lá em casa assim como eu dormia na casa dela, era difícil ficar longe, ela tornou-se mais que especial pra mim.

- Espero que a mamãe tire essa ideia da cabeça sobre me levar pro RJ pra fazer faculdade. - Henrique falava enquanto cortava o frango em cubinhos. Estávamos nos quatro fazendo estrogonofe, quer dizer, eu e a Beatriz só estava olhando, como sempre.
- RJ? Não fode. Escutem bem aqui. - Amanda falou levantando a faca nos ameaçando. - Ninguém vai sair de São Paulo, estão me ouvindo?
- Sim senhora. - Levantei os meus braços em rendição enquanto a Beatriz ria. - Eu nem sei qual faculdade fazer... - Falei pensativo.
- Temos tempo pra pensar, Arthur. Relaxa, tá? - Bea tentava me tranquilizar fazendo carinho na minha mão, o que seria de mim sem essa garota?
Beatriz deitou no meu colo, estavamos no sofá, ela parecia me analisar com as sobrancelhas arqueadas, eu estava começando a ficar sem graça.
- ARTHUR! - Beatriz berrou me assustando.
- O QUE?!
- Tu tá com barba?. - Nessa hora, Amanda e Henrique correram pra me observar mais de perto, eu estava sendo analisado por três pessoas, todos com os olhos espremidos amassando meu rosto procurando a barba que Beatriz falou.
- Alguém me da um espelho. - Falei um pouco desesperado, como não vi aquilo?
- Shi, nós somos o seu espelho. - Henrique falava passando a mão no meu queixo. - AQUI! PASSEM A MÃO.
Recebi três pares de mãos esfregando meu queixo e depois pulando em comemoração.
- ESTÁ CRESCENDO. - Amanda dava pulinhos enquanto Henrique tinha as duas mãos na boca sem acreditar.
- Eu não tô preparado pra te ver barbudo. - Beatriz disse emburrada. - Você está perdendo aquela cara de garotinho inocente, não tô gostando.
Era óbvio que ela estava brincando, Beatriz é a que mais me apoia, a propósito, a minha primeira dose foi aplicada por ela.

Estava em T (testosterona) há 5 meses, cada mudança não passava despercebida pelos meus amigos, eles estavam tão empolgados quanto eu. Minha voz estava mais grave, meu rosto tomando um formato mais masculino, pelos cresciam por toda parte (literalmente), também havia ganhado mais massa muscular, e um bigode ralo, parecia mais uns pelos de bunda grudado no rosto, era engraçado, com 18 anos, parecia que eu tinha 14 e estava acabando de entrar na puberdade.

O almoço ficou pronto, ajudei Amanda a pôr a mesa, Beatriz e Henrique foram comprar refrigerante. Voltaram mais rápido do que eu imaginava, a mesa estava linda, estrogonofe é a melhor coisa do mundo, não via a hora de comer.

- Meu Deus, isso tá muito bom. - Falei com a boca cheia e fui repreendido pela Beatriz. - Desculpa, mas não tem como não elogiar.
- Fico lisonjeada. - Amanda agradeceu convencida.
- Então, Arthur. - Henrique falou, tirei a atenção do prato pra fita-lo. - Qual foi a primeira mudança que você percebeu depois da primeira dose?
Corei ao ouvir aquela pergunta, a resposta era bem íntima, senti as minhas bochechas esquentarem e meus olhos encararam o prato novamente. Por que eu tinha que ser tão tímido?
- Não lembro. - Menti. Beatriz me olhou como se fosse um detector de mentiras, mas obviamente já sabia o motivo da mentira, ela pesquisou tudo sobre transição antes de me ajudar a dar o meu próximo avanço.
- São tantas mudanças. - Ela disse.
- Verdade, é como se eu estivesse conhecendo meu corpo novamente, ainda não sei muitas coisas sobre ele. - Falei pensando nas partes novas do meu corpo, as partes que estão completamente mudadas, era tudo tão diferente.
- Entendo, está se conhecendo outra vez. - Henrique falou.
- Exatamente. - Assenti.
Depois dessa conversa, falamos sobre outros assuntos aleatórios, sobre a faculdade (de novo), sobre a "namorada" misteriosa da Amanda, e o cabelo novo do Henrique, ele está deixando crescer, tá ficando muito bom.

Cheguei em casa às 17hrs, minha mãe não havia chegado, fui em direção ao meu quarto escutando meu corpo implorar por um banho, eu suava com mais frequência ultimamente, isso me fazia tomar 5 banhos por dia, odeio suar, me sinto nojento. Entrei no quarto tirando peça por peça jogando em qualquer canto, enrolei a toalha na cintura e gemi em frustração quando ouvi meu celular tocar, logo na hora do meu banho?
Um número desconhecido, com o DDD estranho, fiquei receoso, meu coração parecia que ia sair pela boca a qualquer momento, porque eu estava sentindo isso? Atendi com a voz trêmula.

- Alô?

Tonight, we are youngOnde histórias criam vida. Descubra agora