Paciência

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POV ARTHUR

Era por volta das 20hrs, estávamos na casa da Amanda outra vez, chegamos do parque há mais ou menos uma hora.
- Foi muito legal, esse é bem maior do que o outro que nós fomos. - Amanda falava empolgada.
- O tamanho é literalmente sem comparações. - Falei enquanto lembrava da imensidão daquele parque.
- Vocês se divertiram o suficiente? Estão energizados ainda. - A mãe da Amanda falou nos observando com atenção.
Eu estava todo vermelho, com os olhos irritados por causa do sol, tínhamos acabado de chegar, paramos um pouco na sala pra conversar com a mãe da Amanda, o sono já estava me deixando meio grogue.
- Eu não estou nada energizado, tô quase desmaiando de sono. - Henrique riu com o meu comentário.
- É, eu também tô com sono. - Ele disse coçando os olhos e bocejando alto, meio forçado, provavelmente querendo sair dali.
- Vão querer comer alguma coisa?
- Não tia, obrigada, a gente já comeu.- Beatriz falou enquanto subia as escadas apressada.

Entramos no quarto um por um, me joguei na cama da Amanda como se fosse minha ouvindo a risada dela ao me ver jogado na cama.

- EU VOU TOMAR BANHO PRIMEIRO! - Beatriz falou enquanto corria pro banheiro com uma toalha na mão, Henrique corria logo atrás.
- NÃO, EU QUE VO... - E a porta do banheiro se fechou. - Droga Beatriz, abre isso! Eu disse que ia primeiro. - Henrique falava estressado enquanto batia na porta do banheiro com força.

- Para de bater nessa porra, minha mãe vai brigar com a gente. - Amanda falou com os olhos arrelagados, aquilo me fez rir. Ela estava assim com razão, digamos que a mãe dela é brava demais.

Tomamos banho, agora estávamos deitados no chão do quarto em um colchão, Amanda e Henrique estavam na cama, enquanto eu a Beatriz estávamos no chão. Talvez eu estivesse um pouco incomodado por estar perto demais da Beatriz, ela tem estado diferente comigo desde o ocorrido lá na minha casa, provavelmente ainda não tinha me perdoado pelo o que fiz, ela era um menina difícil de lidar, muito cabeça dura.

Não sabia o quanto estava precisando de um dia como esses até tê-lo, ultimamente eu estava com a mente tão pesada, nunca descansava, era 24hrs pesando na Gisele, no que ela estava fazendo, se ela estava viva... Essa é a pior parte de estar apaixonado por alguém, é perceber o quanto a ausência de alguém que você gosta pode literalmente parar a sua vida, isso não é nada saudável, ainda mais pra mim. Se bem que eu nunca fui de sair, sou bastante caseiro, mas no dia a dia, sempre faço coisas que eu gosto, como assistir séries, tirar umas fotos, assistir uns vídeos no YouTube, dançar, ler, sem a Gisele por perto, meus dias se resumiam em: ficar deitado o dia inteiro esperando por um sinal de vida dela.

Esperava por qualquer coisa, uma mensagem, ligação, código morse, um sinal de fumaça, qualquer coisa. Mas ela insistia em me ignorar, depois de tudo, me abri pra ela e contei sobre os meus sentimentos, sentimentos que eu não sei lidar com eles até hoje, na verdade, não sei lidar com nada que possa danificar o meu emocional, então quando algo "passa dos limites" eu tenho uma crise e acabo me machucando, ou machucando alguém que esteja por perto como aconteceu aquela noite na minha casa quando eu bati no Henrique.

- Vocês estão dormindo? - Henrique perguntou e todos responderam que não.
- Impossível dormi com Arthur se mexendo do meu lado, tá com formiga aonde? - Beatriz me perguntou com uma ignorância que eu juro que queria socar ela.
- Talvez se você me desse espaço, eu não estaria me mexendo tanto. - Falei alto e em tom grosseiro.
- Te dar espaço? Você é cego? É um colchão pequeno.
- Se você me chamar de cego de nov...
- MEU DEUS, QUE INFERNO! - Amanda gritou levantando, ficando sentada na cama. - CALEM A BOCA.
- Eu tô com calor. - Henrique falou tirando a camisa, meu olhar vacilou uns 2 segundos no corpo dele, mas desviou logo em seguida. - Liga o ar.
- ESTÁ QUEBRADO. - Amanda gritou novamente.
- Por que esse ventilador não gira? - Falei dando tapas no ventilador.
- NÃO BATE NO MEU VENTILADOR.
- Tem que pressionar o botão aqui em cima, seu burro. - Beatriz falava como se eu tivesse alguma deficiência.
- Ah, jura? Nossa, não sabia. Obrigado, ein? Informação revolucionária. - Falei em pura ironia, eu já estava apertando aquele botão há minutos.
- Olha aqui seu doen...
- CHEGA, EU VOU DORMI COM A MINHA MÃE. - Amanda falou levantando da cama com o lençol enrolado no corpo e o travesseiro na mão, ela pisava algumas vezes no lençol que estava sendo arrastado pelo chão e tropeçava, aquilo era engraçado.
- Não precisa disso Amanda... Amanda?? - Henrique a chamava mas ela não respondeu.
- Ela realmente foi.

POV BEATRIZ

Os primeiros raios solares invadiram o quarto naquela manhã, gemi de dor ao sentir uma perna pesada encima da minha, percebi que era o Arthur dormindo todo aberto, empurrei a perna dele, ele não percebeu, parecia que estava morto. Henrique estava sozinho na cama, lembrei o porquê e acabei rindo sozinha feito uma maluca. Me assustei quando vi a Amanda na porta do quarto com os cabelos bagunçados e os olhos espremidos me olhando.

- O que foi porra? - Falei com o susto que levei.
- Eu que te pergunto, venho ver se sobrou algum sobrevivente depois daquela discussão idiota no quarto ontem e pego você rindo olhando pro nada às 7 da manhã, vai matar o diabo de susto, Beatriz. - Amanda falou enquanto se retirava do quarto estressada, aquilo me fez ri mais ainda.

Tomamos café da manhã sozinhos, a mãe da Amanda tinha saído cedo pra ir trabalhar, mas deixou a mesa do café pronta, agradeci por isso, eu estava tão exausta que não ia fazer nada pra comer.

- Então agora você me odeia? - Arthur perguntava com os braços cruzados impedindo a minha passagem no corredor, eu tinha ido ao banheiro.
- Sai, garoto. - Falei empurrando ele que nem se moveu. - Meu deus, o que você quer?
- Que você me perdoe. - Falou um pouco emotivo.
Não conseguia perdoar o Arthur, aquela atitude dele foi tão desnecessária e sem noção, todas as vezes que olho pra ele lembro do momento em que ele enforcou o Henrique. Cresci com um homem em casa que batia na minha mãe todos os dias, ele nunca chegou a me bater, mas me agredia com palavras, aquilo me traumatizou, ver o Arthur sendo agressivo daquele jeito mexeu comigo, eu precisava de tempo pra digerir tudo que tinha acontecido.

- Um dia eu vou te perdoar, eu só preciso de tempo, Arthur. - Falei estranhamente calma.
- É que... Eu não quero perder você também. - Ele disse com a voz trêmula, aquela voz dele significava que vinha choro logo em seguida.
- Também? - Perguntei confusa.
- É, não tenho mais a Gisele. - Uma lágrima caiu, ele limpou no mesmo instante e abaixou a cabeça.
- Ela vai voltar, não se preocupa com isso. - Falei tentando passar confiança a ele, mas nem eu acreditava nisso.

Não resisti, o abracei forte, era impossível não abraça-lo, Arthur era praticamente um bebê. Com aquele abraço percebi que talvez o perdão está mais perto do que eu imaginava.

Tonight, we are youngOnde histórias criam vida. Descubra agora