PRINCE

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-Minha tatuagem, será que apareceu?- ela perguntou preocupada depois de voltar para o quarto devidamente vestida 

-Eu te falei para não fazer aquela merda- ele afirmou- Pela posição das fotos provavelmente viram- bufou 

-Se viram podem achar que é temporária- deu de ombros ficando um pouco mais tranquila 

-Sinto que isso vai dar um problema gigante para nós quando voltarmos 

-Eu não vejo problemas nenhum- ela sorriu sarcástica- Todo o resto daquelas fotos vai chamar bem mais atenção 

-Prefiro ignorar esse acontecimento até que a bomba estoure. Não está nos meus planos ficar louco ou com cabelos brancos tão cedo

-Que bom- ela sorriu despreocupada enquanto ele mexia no celular

-Parece que meu pai quer que vamos em um lugar

-Em plena lua de mel?- ela reclamou irritada 

-É um orfanato- afirmou mudando um pouco sua postura- Mantido pelo governo 

-Governo no caso vocês, certo?- é, ela não estava errada. 

-Ainda tem muita coisa que precisa ser acertada, Joalin. Ele quer ter certeza da estrutura do lugar para saber se precisam de maiores investimentos. 

-Não preciso ir até lá para saber que precisam, sempre precisam Bailey. É melhor preparar o coração, nesses lugares sempre vemos cenas fortes, daquelas que marcam e machucam- ela disse antes de entrar no banho. 

 A princesa se arrumou com uma roupa confortável, calça jeans, tênis e blusa de malha. Não é o que seu cargo exigia, nem de longe na verdade. Mas ela conhecia lugares como o que visitaria, na verdade os frequentava com sua mãe desde muito pequena, seja em seu país natal, na África ou na America Latina. E ela se recusava a chegar lá de saltos altos, saia e postura de princesa, ar de superioridade, não queria fazer aquelas pobres crianças passarem pelo constrangimento de se sentirem mais diminuídos do que o dia a dia difícil já os expunha. 

Um carro os esperava no estacionamento do resort e, ainda em silêncio dentro do veículo, ambos se preparavam mentalmente para encontrar uma forma de vida bem diferente da que estão acostumados a levar, uma que chega perto da sobrevivência. O mais importante de tudo isso? Estava nas mãos dos dois, eles poderiam mudar situações como a que iriam presenciar e sabiam muito bem disso. 

Joalin deu dois passos para fora do carro e foi inevitável não sentir uma enxurrada de lágrimas atingir seus olhos, ela não precisava ver muito para enxergar o quão crítica era a situação. 

A casa era grande e de um andar, a estrutura em si era boa mas precisava urgentemente de uma reforma. A pintura estava desgastada e a única coisa que levava esperança e brilho àquele lugar eram os olhares doces e vibrantes daquelas crianças. Algumas dezenas delas, a maioria não deveria ter mais de 8 anos. 

Nada, nenhum olhar fez Joalin se sentir tão especial em sua vida do que o daqueles pobres orfãos (não necessariamente de pai e mãe, sim de carinho, de amor, cuidado) que carregavam em suas esperanças que a princesa traria salvação para aquele lugar, aquelas vidas.  

Bailey sentiu seu coração ser apertado, pisoteado e jogado fora. Como era possível? Como a situação chegou àquele ponto? Qual era o tamanho do egoísmo da sociedade em que vivemos? 

Os corpinhos magros correram na direção do casal e eles trocaram um olhar carinhoso antes de se abaixarem para atendê-los da melhor forma possível. Um garotinho em especial havia chamado atenção dos dois, ele ficou afastado em meio as crianças animadas. 

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