KINGDOM

FUTURE

-O que será de nós daqui para frente?- Joalin questionou seu marido, assim que o dia se encerrou e ambos puderam se direcionar aos seus novos aposentos. 

-Nosso filho está chegando. 

-Ele está. Já eu, permaneço com medo da reação do povo. Tenho ainda mais medo que eles estejam certos em seus posicionamentos contra mim. 

-Em primeiro lugar, deve assimilar que as palavras ditas naqueles jornais não pertencem ao povo. A nação te ama e se tem, se quer um súdito, que concorde com a blasfémia direcionada ao vosso reino, tenha certeza que só pensa assim porque foi manipulado pela mídia. 

-Mas e se estiverem certos sobre nosso casamento? Você se lembra muito bem como isso começou e, afinal, se realmente tivermos um prazo? Se no futuro enxergarmos isto que vivemos hoje como ambição e euforia, imaturidade e falta de amor? 

-A história da minha família, conta com centenas de casamentos arranjados. Alguns, até entre parentes. Eu imagino que as coisas não sejam tão diferentes no reino Finlandês. 

-Não são- concordei, abaixando a cabeça.

-Por centenas de anos, meus antepassados se casaram com primas, tias, as vezes até irmãs. Quando não era assim, se casavam com princesas distantes que nunca conheceram. Isso perpetuou por muitos anos, Joalin. O ponto final foi colocado em um passado distante. 

-O que foi nosso casamento, então? Uma vírgula?

-Talvez, talvez seja uma vírgula desregulada e mal planejada, após um ponto final e fora de contexto. Mas é fora de contexto porque difere tudo que já aconteceu antes. Em quase todos os casos, mesmo que absurdos, os matrimônios deram certo, o amor nasceu, foi construído, cresceu. 

-Quase todos não são todos, Bailey.

-Eu já disse e repito quantas vezes for necessário, eu estou disposto a te amar- prendeu o cabelo da loira atrás da orelha, levantando seu queixo de leve- Eu estou disposto a tentar com todas as minhas forças e tenho certeza que vou conseguir. Eu tenho certeza porque a chama não nasceu na noite de núpcias, não nasceu depois do casamento, pelo contrário, ela surgiu muito antes, essa atração foi o motivo que nos levou até o altar. Uma atração completamente incontrolável, que nos tirou do eixo, que nos colocou em risco e que nos atraiu para o perigo, para a loucura. 

-Todos naquela festa de ano novo souberam do que tinha acontecido- ela falou. 

-É claro que sim, porque estava estampada em nossos rostos. Isso é novo, é completamente diferente de qualquer outro casamento por conveniência, na história do Reino Unido. Eu sei que vai dar certo se nós tentarmos, nós temos um filho, nós construímos o amor mais genuíno possível, que não tem a ver com carne, tampouco com sangue. Então eu te digo,  de peito aberto, que eu quero. Mas preciso te perguntar, você quer, Joalin?

-Eu quero. Pelo nosso filho, pelo nosso Reino, nosso povo. 

-Mas você quer por você? Ou apenas pelos outros? Porque daqui a 10, 15 anos, não vai valer a pena, porque você é uma pessoa e isso pesa muito mais que uma coroa. A nação pode lidar com um divórcio, nosso filho também, agora você não é obrigada a lidar com insatisfação pessoal. Você não é obrigada a insistir em um casamento que te satisfaz pela metade, pelo cargo, pelos súditos, pelos filhos, pela carne, pelo sexo. Isso precisa te satisfazer no amor, na paixão, e se você não quiser, eu vou entender e recuar. 

-Eu quero, Bailey. Quero não só pelo resto, mas por mim, por você! 

Ela se aproximou do marido, beijando seus lábios com delicadeza e sentando em seu colo, enlaçando suas pernas na cintura do príncipe. 

-Nós teremos muitas batalhas pela frente, mas tenho certeza que encontraremos forças um no outro. 

-Eu sei que sim, Bay. Me preocupo com Zion, com sua adaptação, com os preconceitos que ele estará sujeito a vivenciar. Tenho medo que tudo seja ruim o bastante para ele não nos amar, para ele desejar voltar. 

-Isso não vai acontecer. Ele já nos ama e nós prepararemos o alicerce para que ele possa ter uma vida feliz, nós não permitiremos que nenhuma ofensa seja direcionada à nosso filho, que nenhum mal o atinja.

-O sistema precisa mudar, estamos no Século XXI. Racismo, intolerância, xenofobia, nunca deveriam ser toleradas e não há mais um mísero espaço para o preconceito nos dias de hoje, nós precisamos acabar com isso, é nosso dever. 

-Nós vamos garantir que isso acabe. Vamos treinar professores, policiais, vamos acrescentar matérias escolares, dar palestras, criar programas televisivos, escolares, nós seremos a revolução de nosso reino, Joalin. 

-E se tudo der certo, serviremos de inspiração para outros países. 

-Essa é nossa função. Iremos lutar com unhas e dentes para um mundo melhor, cumpriremos nosso dever e não deixaremos que ninguém, dentro de nossos territórios, leve uma vida sofrida por quaisquer razões socioeconômicas. 

-Nós temos as ferramentas necessárias para mudar o mundo, Bailey. 

-E nós vamos, nós vamos fazer isso juntos! 

-Quando você fala desse jeito, sinto vontade de dizer que te amo, mesmo sem saber se realmente te amo, pelo menos por agora- ela foi sincera, sentindo suas bochechas corarem. 

-Não importa, Jojo. Se não nos amamos agora, vamos nos amar um dia. Isso é mais uma coisa da qual precisamos construir juntos, ok?

-Ok- ela abraçou sua cintura, deixando um beijo singelo em seus lábios- Tudo seria tão diferente se fossemos apenas pessoas normais, com empregos normais. 

-Seria mais fácil- ele suspirou- De pensar que ainda há tanta romanização da realeza, tantas pessoas querendo estar em nossos lugares.  

-Influência da Disney. Isso é mais uma daquelas coisas que vamos precisar trabalhar, para que nos enxerguem como seres humanos.

-Nesse ponto, posso dizer que você está anos-luz na minha frente. Vem fazendo isso desde que era uma adolescente solteira e rebelde. 

-Parece que alguém andou pesquisando sobre minha adolescencia... 

-Quero que nossos filhos tenham sua ousadia, mas seria menos trabalhoso se não fossem tão rebeldes.

-Seremos bons pais, eles terão liberdade e nós daremos conta! 

-Tenho certeza que sim, Jojo! 

-Eu também Bay. A começar pela chegada de nosso primogênito- ela sorriu, dando mais um selinho no marido.