Capítulo 04

560 53 0
                                    

   Pela tarde eu e Débora conversamos no jardim enquanto Joaquim brinca no cavalinho de balanço que sau tia lhe deu, era um brinquedo de Harry quando era mais novo e parecia muito bem conservado.
   — Harry está estranho — vejo o homem entrar pelo portão agora com um celular no ouvido — tem tido a observar aos redores da casa, anda estressado e grudado naquele celular — desabafo com a mulher mais velha que eu enquanto faz crochê ao me lado.
   — Querida se acalme, sabe que nunca ficará totalmente relaxado, nenhum de nós, Harry temia isso desde sempre, só está preocupado com a segurança da família. Dê um tempo para ele, sabemos nós duas como é temperamental e desconfiado com qualquer coisa.
   — Sei, mas pensei que depois dos franceses iria relaxar um pouco.
   — Pessoas como nós não tem apenas um inimigo — me dá uma piscadela e suspiro, não quero o dizer que ele mesmo pode estragar a nossas pequenas mini férias, também não gosto de pensar que é o fim da nossa paz, aliás, há dias e meses estava tudo correndo bem, Harry vai conseguir colocar as coisas no eixo novamente. Seguro Joaquim e entro para a casa, está na hora do banho, me sinto cansada quem dirá ele. Subo as escadas com calma enquanto o menino conversa e ao entrar no quarto lá está o homem a reclamar no telefone.
   — Como assim Italianos? — tem sua mão no bolso a olhar para as janelas, as malditas janelas. Fico quieta para ouvir o que está a dizer, mas sem chances Joaquim chama pelo pai.
   — Papá? — sua risada é ouvida e Harry se vira para nós.
   — Conversamos mais tarde, sim? Tchau! — seu celular vai ao bolso e suspira.
   — Problemas na Itália? — Harry caminha até mim e segura seu filho sem falar nada.
   — Está tudo sobre controle — passa por mim com a criança no colo me deixando no quarto, estranho seu comportamento, isso não é nada normal. Vou atrás do homem que não se encontra no andar de cima e antes de descer as escadas paro a suspirar pesado, se acalma Annastácia, apenas se acalma. Giro entre meus calcanhares e volto para o quarto fechando a porta, não escondo minha raiva quando esmurro a porta do banheiro e entro no mesmo me olhando no espelho e se é um inimigo como Débora diz? Encaro meu colar e o retiro pondo em cima da pia junto a minha roupa.

   Saindo do banho pego uma inspiração profunda, nem mesmo depois de um banho relaxante fui capaz de poder esquecer ou parar de pensar um pouco, querendo ou não sou uma deles, como pude estar tão despreocupada e ser tão ingênua a tal ponto de pensar que iríamos ficar em paz depois dos franceses? Somos pessoas da máfia, nem sempre só temos um inimigo e lembro-me bem de Gabriel, Nick e Cameron. Podemos ser bons, mas nem sempre a sorte irá contar conosco, não sou mais uma menininha de dezoito anos, não sou a menina que não ligava para os negócios de Otto, pois, não participava deles, e nem a menininha a se esconder atrás de Harry e seus seguranças. Faço parte desse lado do jogo agora, sou eu e Harry que protegemos, a partir do momento que puxei o gatilho e me determinei a estar ao lado de Harry não só pelos conselhos, para tudo! Também tenho que o mínimo ter consciência que a pessoa a ser protegida agora não sou eu, é Joaquim. Me encaro no espelho e olho para minha bolsa, Harry se aposentou da máfia, mas nem por isso deixou de andar com uma arma no cós de sua calça muito menos eu. Olho o revolve dentro da bolsa e suspiro, podemos ter deixado de matar e participar de reuniões de negócios, mas os nossos nervos estão loucos para agir. Vejo que entra no quarto com Joaquim que dorme em seu colo, Harry parece mais calmo agora e não deixo de olhar seus olhos quando caminha em minha direção.
   — Não vou deixar que ninguém machuque nossa família, que toque em você ou em Joaquim, estou aqui, pus vocês nisso, e é minha obrigação protege-los — para ao me lado com ele nos braços, seguro seu rosto olhando em seus olhos enquanto minha cabeça se atreve em balançar de um lado para o outro.
   — Estamos aqui para protege-lo, estou do seu lado para o que der e vier — coloca Joaquim na cama voltando a me olhar sorri, um sorriso triste, saí do meu alcance para o banheiro e entendo como o peso caí por suas costas, Harry querendo demonstrar ou não, ainda se culpa por ter me colocado nesse mundo, e mesmo não dizendo se pudesse voltar no tempo tenho a certeza que mudaria seu destino da máfia para uma faculdade e hoje seria sei lá o que, um advogado nomeado ou um estilista, não sei, mas ele não quer está na máfia, ele não quis me colocar nisso tudo e muito menos arriscar a sua família. Se Harry pudesse agora apagar seu histórico na máfia e apenas viver comigo e Joaquim longe de Londres, ele o faria sem pensar duas vezes. Se não amasse tanto seu negócio com a Imperius, iria embora conosco para qualquer lugar longe de todos que nos fariam mal, mas infelizmente estamos nisso antes mesmo de nascermos.

Contra o Tempo - Livro 03Onde histórias criam vida. Descubra agora