Capítulo 30

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Anna

  Sem evitar caio ao chão junto ao aparelho, sinto uma angústia no coração e tudo ao meu redor parece cair por cima de mim e das minhas costas, aos poucos os soluços surgem e tento os abafar para não acordar Joaquim, mas só de ver sua figura sentada à cama a me olhar sem entender nada o puxo para mim e choro mais, um grito falho sai da minha boca enquanto deixo que a dor que sinto transborde pela minha garganta e meus olhos. Sinto-me tão culpada e amargurada de mim mesma. Logo a porta se abre revelando as pessoas assustadas talvez pelo meu grito. Cris vem em minha direção e me abraça e ao ver que Shawn consola Débora me pego a pensar se também recebeu a foto, é possível ver daqui o seu estômago a se contrair em soluços e apenas estou da mesma forma que a mulher e a menina que me abraça, Maven olha atentamente para o meu celular no carpete enquanto tenho a imagem de Harry no chão encostado na parede, caído e sangue arrastado no azulejo, não sou capaz de ver mais, apenas de lamentar.

  Ouço o que todos dizem, vejo o alvoroço que se torna, homens de um lado para o outro, procuro meu filho no meio dessa bagunça, sinto o ar me faltar, Harry está morto, meu marido está morto! A imagem de Kora surge na minha mente, a mão que agarra a minha me puxando para todo o lado é de Henry, sinto ódio daquela mulher. Sei o que está acontecendo aqui, todos estão irados e sentindo o gosto de vingança.

"— Quando eu voltar para a Irlanda vocês irão para a antiga casa do tio Mike, já passei a localização para os seguranças e os capangas de Mike também sabem onde é, lá era a antiga casa de negociações e fica no meio do nada, é um pouco menor que essa, mas não importa, lá ficaremos longe de outras pessoas e de holofotes. Os Irlandeses serão encaminhados para lá, enquanto isso, eu e Mike nos preparamos para vimos. Cuide de Joaquim, assim que eu chegar passarei uma mensagem codificada. Eu te amo minha princesa"...

  O dia amanheceu comigo a pensar, não preguei os olhos, Joaquim ao meu lado enquanto torno a lembrar de tudo o que houve essa noite.

"Os seguranças entraram no quarto as pressas, todos a puxar um de nós, Cris se levanta e o quarto esvazia rapidamente, estou de joelho no carpete com a luz do celular aceso, ouço passos rápidos e braços seguram os meus. Olho nos olhos de Henry e não escuto o que sai da sua boca, me puxa entre os corredores e descemos as escadas as pressas, no andar de baixo procuro meu filho entre os homens que mexem em todos os lados, armas são postas em malas, alguns tios de Harry saem do escritório com submetralhadoras e mais malas, o barulho inunda meus sentidos quando a porta se abre batendo nas paredes, a madeira chacoalha ao bater, Débora, Cris, Shawn e Joaquim estão em pé a beira de um carro, alguns seguranças conhecidos aparecem, cada um com cinco carros, Dallas, Henry, James, Silas e Josh, entro no carro com Henry e logo Joaquim é trago em seus braços e posto ao meu lado. Vários carros saem em disparadas pelas ruas para um único lugar, meus olhos estão na avenida, meus pensamentos estão na foto, no que fizeram ao meu marido, ao pai do meu filho.
Ao chegar na casa, observo como o terreno é enorme, o que deve ter passado por aqui, como ninguém comprou por aqui para construir outras casas, como ninguém desconfiou dessa única por aqui? Henry me acompanha para a casa e me deixa no quarto, deito Joaquim na cama e me sento em uma poltrona".

  Joaquim está com Cris, já são uma da tarde e não sai do quarto, não tenho forças, nem mesmo peguei no celular, não quero ligar e ver aquela foto. Sinto a lágrima escorrer pela minha bochecha, relembro o que pensei ontem, se esse plano desse errado, o anterior deu e eu quase morri, dessa vez não fui eu... Antes ele quase ficou sem mim, agora fiquei sem ele, por culpa do meu plano. Deixo que mais lágrimas caia dos meus olhos e sinto que eles não aguentam mais colocar tanta lágrima para fora, mas, também não aguento tanta dor aqui dentro. Apenas deixo que saia.

  Limpo as lágrimas que ainda surgem quando vejo que Shawn sai da casa e longe carros aparecem a surgir pela estrada de barro no meio da floresta, são eles, Simas e Felipe, um dos carros entra para a garagem e o restante fica para fora, de longe vejo mais carros, mas daqui vejo muito bem que quem dirige é uma mulher, seguiu eles, então foi como eu e Harry pensamos, saberiam que os Irlandeses não deixariam barato por nós "matar" os irmãos e aproveitariam que eles viriam se vingar para também nos matar. Conto mais de sete carros, e o que Harry me disse está a passar na minha mente.

"Basta um tiro na cabeça do líder de todos eles, que não seguiram mais ordens".

  O meu ódio toma conta da dor que sinto e não me repreendo desta vez, como pensamos um dos Irlandeses aponta a arma para Shawn, a encenação começou agora, mas o que vou fazer não é uma cena. Seguro na arma que tenho dentro do criado mudo e ando os corredores da casa desconhecida e vou direto para a sala onde vejo que todos estão em pé perto da janela vendo o que acontece, principalmente Simas e Felipe, escondidos vendo os seus capangas fazerem cena lá fora.

  Saio enquanto Shawn ainda está rendido pelos Irlandeses, à arma de alguns estão apontadas para mim, mas sei que não vão atirar. Mas, atiro em três que saíram do carro e por último foi Kora a olhar para mim com cenho franzido.
  — Você é uma puta desgraçada! — Eu aponto para a mesma e ouço uma risada, logo outra mulher sai de um carro.
  — Então você é a Annastácia? A tão temida dama da máfia? — olho para a mulher que anda em direção a Kora e fica ao seu lado.
  — Então você é a garotinha que não consegue ser rejeitada e o modo de relevar é se vingando?  — seu sorriso se desfaz e da lugar ao ódio. Diferente de Kora, não consegue dá a volta por cima e disfarçar com um sorriso — está pronta pra começar uma guerra por que foi rejeitada, e não amada por alguém?
  — E você é amada por ele? Só serve como ponto de prazer. — Ouço sua risada e ao contrário da mesma, tomo uma postura e lhe entrego o meu melhor sorriso enquanto levanto meu dedo a mostrar a aliança com um diamante.
  — Tão amada que me casei com ele a dois lindos anos. Dei-lhe um filho, fiz o mesmo alucinar enquanto estive em coma, todos os dias ia me visitar no hospital e dizer o quão culpado e péssimo se sentia por pensar que aquele era o meu último gemido de dor, lamento muito por ele ter feito por mim, o que você queria que ele fizesse por você, Harry me ama — seu semblante está horrivelmente contorcido por ódio, e dando um passo a frente à mesma sorri.
  — Amava! Né? — mostra a foto para mim e sinto uma pontada de dor no peito, não abalo meu semblante, respiro fundo e abro um pequeno sorriso.
  — Seu pai também te amava, queria se vingar de nós, mas que pena que colocou a cabeça bem na frente da minha bala defensiva. Uma coisa que você e sua família deveria saber. — Olho todos, os italianos e os poucos chineses aqui — ninguém mexe com a minha família.

Contra o Tempo - Livro 03Onde histórias criam vida. Descubra agora