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" A sensação de que a vida já não faz sentido nenhum, é tão destrutiva quanto a possibilidade de alguém enfiar uma faca em seu coração "

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Quarta-feira- 6:00, AM

Acordei vinte minutos antes do horário previsto, e antes que a minha mente obrigasse-me a ficar na cama divagando sobre o porquê dos pássaros voarem ou talvez da dificuldade que eu tinha em esquecer ou simplesmente ignorar algumas coisas, levantei e caminhei até ao banheiro onde tomei apenas um banho bem rápido, já que não pretendia ficar encarando as imperfeições do meu corpo pelo espelho. Fui em direção à cozinha vestindo uma saia preta que ia até ao limite dos joelhos, uma blusa de linho branca; o meu cabelo deixei preso em um rabo de cavalo e calcei sapatos altos também pretos.

Como era o dia de folga da Carol, não preocupei-me em ter um pequeno almoço completo, optando assim por comer apenas um sanduíche de atum com alface, e para acompanhar bebi o típico e adorável café amargo e sem açúcar. Enquanto comia, uma leve lembrança do que aconteceu no final daquela noite de segunda-feira invadiu a minha mente, fazendo com que o meu corpo fosse tomado por uma súbita irritação. Mas, as perguntas que não queriam calar eram: Porquê? Porquê as palavras daquela garota encomodaram-me tanto? Porquê lágrimas brotaram dos meus olhos sem que pudesse controlá-las e consequentemente levando-me ao mais profundo e absoluto abismo? Quando a minha vida ficou tão triste?

Para essa última pergunta eu tinha a resposta na ponta da língua, mas eu não podia sair por aí gritando para todo mundo que o motivo de tanta "insensibilidade" ou talvez " frieza", devia-se ao facto de ter perdido a minha filha; porque os meus pais culpam-me até hoje pelo ocorrido , e por isso resolveram viver em outro país; ou porque eu só tinha um túmulo vazio para visitar e colocar flores.

Pobre de espírito

Sim. Eu realmente era uma pessoa pobre de espírito, de alma, de mente e até de coração. A verdade é que não havia nada dentro de mim que pudesse ser reciclado porque eu simplesmente estava morta demais para viver.

O barulho de algo partindo chamou-me a atenção, e somente quando encarei o chão percebi que a chávena com café que minutos antes estava presa em minhas mãos havia caído e como consequência derramou parte do líquido escuro no chão e respingou o resto em minha saia. Com um longo suspiro de frustração, recolhi os cacos desistindo completamente de comer e voltei para o quarto substituindo a saia por uma calça social azul-escura

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Faltando apenas quinze minutos para o início da bendita reunião que Scarlet resolveu marcar de última hora, eu já estava caminhando pelos corredores do enorme prédio onde ficava localizada a minha editora. Durante o pequeno trajeto do hall de entrada até a sala da minha chefe, cumprimentei, algumas pessoas apenas por educação e sorri forçadamente para outras.

__ Sempre pontual!.- Scarlet falou animada assim que me viu atravessar a enorme porta de vidro. A mulher prontamente levantou, e distribuiu dois beijos pelo meu rosto.- Bom Dia Annie. Sente-se por favor.- Ela indicou a cadeira que ficava de frente para a mesa de madeira e em seguida sentou-se atrás da mesma.

__ Bom dia Scarlet.- Respondi depois de estar devidamente acomodada.- Podemos ir directamente ao assunto?.- Perguntei e ela rapidamente assentiu.

Durante os próximos trinta minutos, Scarlet explicou que marcara a reunião para que eu tivesse ciente da repercussão que o meu livro estava tendo. Contou também que estavam prestes a imprimir mais 500 exemplares porque várias livrarias de outras partes do mundo queriam ter o meu mais novo trabalho em suas prateleiras. Em geral foi um assunto que particularmente deixou-me com dor de cabeça porque eu não gostava de cuidar de toda aquela parte burocrática. O meu único papel alí era escrever e no final de cada dois anos entregar uma obra nova, deixando assim as restantes coisas aos cuidados de Adam.

Destino? TalvezOnde histórias criam vida. Descubra agora