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" O amor deve ser como o café: às vezes forte,
às vezes doce,
às vezes só ou acompanhado, mas nunca frio"

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Narradora Point Of View

Quando vivemos durante muito tempo na escuridão, rodeoados por uma solidão que parece nunca ter fim, acreditamos ou temos a leve sensação de que nunca, em hipótese alguma conseguiremos nos libertar. Os dias estão sempre nublados; a respiração quase nunca se torna regular; o coração está sempre batendo como se fosse a última vez. E essa quase certeza de que nada voltará ao "normal" nos mata um pouquinho mais em cada amanhecer.

Anahí lembrava com exactidão do dia em que visitou pela primeira o túmulo de sua filha. Os olhos transbordando; pela boca apenas soluços e súplicas saíam; na mente várias perguntas sem respostas surgiam; e no coração? Esse quase não batia. Levou um bom tempo para que ela conseguisse entender e aceitar o facto de que a sua pequena Mia não mais voltaria; que nunca mais enxergaria aqueles olhos, ou que jamais ouviria o sorriso engraçado. Era uma dor grande. Uma angústia que parecia não ter fim. E mesmo depois de muito tempo, ela ainda sentia como se estivesse vivendo aquela mesma cena pela primeira vez.

Mas, do mesmo jeito que existem dias ensolarados depois de uma noite de chuva intensa, existia o tempo. Aquele velho companheiro que leva as dores maiores, deixando apenas pequenas lembranças desgostosas; o mesmo que nos dá a certeza de que nenhum dia é igual ao outro. O tempo. Aquele que coloca em nossas vidas pessoas que nos ajudam a desenvolver a capacidade de querer renascer das cinzas.

E era exatamente assim que ela se sentia naquela manhã, renascida das cinzas. Como se um vento forte tivesse chegado e retirado do seu corpo toda aquela crosta escura, regada de amargura e descontentamento. Apesar de ter o corpo dolorido, Anahí sentia-se em paz. A alma nunca ficara tão leve. O coração nunca bateu de forma tão ritmada. O dia nunca foi tão lindo. Sentia-se...Livre.

Ela espreguiçou-se mais uma vez, tomando cuidado para não acordar Alfonso que dormia tranquilamente do seu lado, e viu-se sorrindo ao lembrar de tudo que aconteceu naquela cama. Olhando para a parede do seu lado, conseguia enxergar o próprio corpo prensado nela enquanto o pénis dele entrava e saía com uma força descomunal. A porta do banheiro trazia lembranças mais quentes: ela e Alfonso debaixo do chuveiro enquanto ele chupava maravilhosamente a sua vagina que sinceramente, estava fodida.

Tudo naquele quarto trazia alguma lembrança. O tapete onde gozou pela sexta vez; a cama que...

__ Está divagando.- Alfonso sussurrou baixo despertando-a de qualquer pensamento, e sorriu ao vê-la sorrir.- Bom dia, Babe.

__ Na verdade, já passam das três horas da tarde.- Contou com uma careta e viu o outro abrir a boca surpreso.- Dormimos demais.

__ Foi merecido.- Respondeu dando de ombros.- Como você está?.- Questionou receoso. Não queria de jeito nenhum que ela se arrependesse do que fizeram.

__ Com a vagina pedindo perdão por todos os pecados cometidos.- Anahí resmungou indignada. Alfonso gargalhou tão alto, que provavelmente alguns vizinhos chegaram a escutar.- É sério. Estou ouvindo ela falar que não aceita menos que um beijo como castigo e uma pomada para assadura.- Acrescentou sem deixar de encará-lo.

Ele primeiro piscou surpreso ao identificar o tom malicioso nas palavras dela, mas logo sorriu dando-se conta que depois do que aconteceu, Anahí provavelmente passaria a surpreendê-lo vezes sem conta. E por isso não demorou muito para beijá-la de forma carinhosa e terna. A escritora novamente sentiu-se flutuar no exato momento em que ele puxou-lhe mais para perto. Gostava daquela sensação de tê-lo grudado em seu corpo. Era como estar em casa.

Destino? TalvezOnde histórias criam vida. Descubra agora