Capítulo 10

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Verão de 2017

Nunca fui de ter relacionamentos, nunca me importei muito com isso, nunca foi prioridade. Tanto que a primeira vez que gosto de alguém é agora, aos dezoito anos. Talvez seja porque nunca me abri completamente, não vejo muita necessidade nisso, me sinto muito bem sozinha, as vezes é solitário mas logo passa. Afinal, a vida é sobre isso, não?

Já tive uma conversa com minha mãe sobre e estou tentando mudar. Está funcionando, consegui me abrir para uma pessoa que não fosse a minha mãe, mas as vezes sinto vontade de mandar ela ir embora para que não me conheça por inteiro.

Não tenho alguém para chamar de melhor amigo e nem tenho amigos próximos, daqueles que contam tudo ao outro e se conhecem melhor que ninguém, eu não consigo me aproximar das pessoas ao ponto de chamar de amiga, e quando percebo que estamos nos aproximando muito, logo as afasto. Chego à conclusão de que preciso de uma boa terapia.

Tudo isso foi por água abaixo com Carolina, acabei me aproximando bem rápido, e quando percebi estava admitindo para mim mesma que gostava da loira. Ela tem esse efeito sobre mim, me deixa leve. Ter dito que gosto dela dois dias atrás para ela mesma foi um grande passo para essa minha evolução em relacionamentos.

Expressar aquilo em palavras ditas em alto e bom som foi assustador, estou assustada com tudo o que sinto por ela, esse sentimento é uma grande novidade. Me sinto uma adolescente de 14 anos.

***

Estou no mar juntamente com meus irmãos, não sei as horas, deve ser três e meia da tarde julgando pelo céu. Estamos brincando e conversando na água quando uma onda passa por nós, segundos depois sinto uma queimação na minha perna esquerda, dou um grito de dor. Desesperados, meus irmãos me levam para casa, não aguento e deixo lágrimas caírem. Chegando no chalé, um dos meus irmãos, Bruno, grita por meus pais. Minha mãe sai correndo perguntando o que aconteceu.

— Acho que uma água viva grudou na perna dela — Bruno responde me ajudando sentar no banco de madeira de três lugares que fica ali na varanda.

— Calma ai, Bárbara — Ela chega dizendo. — Bruno, vai pegar vinagre e a bolsa de gelo. — Ele vai em direção à cozinha. — Corre logo, menino!

Minha mãe fala agoniada, começo a rir daquela cena, choro e dou risada ao mesmo tempo. Ele volta com o que minha mãe pediu, ela começa a lavar minha perna com o vinagre, depois me manda segurar a bolsa de gelo no local ferido. Aquilo doía para um caralho. Depois de alguns minutos fico mais calma. Ainda segurando a bolsa de gelo na perna, avisto Carolina vindo timidamente até mim, a olho com atenção e um nervosismo me atinge.

— O que aconteceu com você? — Parece estar preocupada. — Ouvi sua voz reclamando de dor.

— Uma água viva pegou minha perna — Troco a mão cansada para segurar a bolsa de gelo. — Acho que vou ficar um tempo sem entrar no mar.

— Quer que eu segure isso pra você? — Aponta para a bolsa que estava aliviando a dor.

— Queria recusar por educação mas meus dois braços já estão cansados. — Sorrio levemente.

Ela senta no banco, coloca minhas pernas sobre suas coxas e a bolsa de gelo no lugar onde doía. Permanecemos em silêncio por alguns minutos.

— Eu também gosto de você, Babi — Ela solta.

— Quê? — Pergunto desacreditada a olhando desentendida.

— Eu gosto de você — Ela repete e me olha. — Desculpa por ter ficado longe esses dias, eu precisei de um tempo.

Eu não estava acreditando naquilo, não podia ser real. Começo a rir.

— Caralho... — Foi tudo o que consegui dizer.

— O que foi? — Ela pergunta rindo.

— É sério que você decidiu falar isso enquanto estou toda cheia de sal do mar e dolorida por causa da água viva? — Pergunto sorrindo.

— Claro. — Ela tem um sorriso bobo no rosto. Me olha profundamente — Você está linda.

Me aproximo dela fazendo uma cara de dor por ter mexido a perna, levo meus lábios próximos aos seus e aprecio o seu lindo rosto.

— Queria muito te beijar agora mas estou suja e louca por um banho. Te encontro mais tarde?

Ela murmura um "tudo bem", rouba um beijo e sai, fico sentada olhando para o nada com um leve sorriso no rosto.

***

Hoje é 31 de Dezembro de 2017. Estou me arrumando para sair com a Carol e meus irmãos, decidimos andar por aí, não tinha muito o que se fazer por aqui. Visto um short jeans branco, uma camisa cor creme e chinelo havaianas branco nos pés. Pego meu celular e relógio, vejo que são dez horas da noite. Vou à casa da frente, cumprimento o casal que está sentado ali e pergunto sobre a filha deles, me dizem para entrar e ir ao quarto da mesma, assim faço.

Chego lá e esqueço como falar, vejo Carolina vestida com um short branco, cropped regata também branco e um chinelo havaianas nos pés. Ela é linda, eu não me canso de falar e pensar isso. Meu coração saltita ao ver que ela me notou.

— Que cara de boba é essa? — Ela pergunta rindo me puxando pelas mãos para entrar no seu quarto.

— E-Eu estava... — Limpo a garganta ela ri ao perceber meu nervosismo. — Você está muito linda! — Selo seus lábios. — Muito linda mesmo.

— Você também está muito linda, anjinho! — Fala segurando meu rosto e beijando meus lábios suavemente, levo meus braços à sua cintura em um tipo de abraço trazendo-a para mais perto de mim. Subo uma mão à sua nuca e seguro com firmeza aprofundando ainda mais o beijo. De repente o beijo suave se torna apressado. Depois de alguns segundos, ela corta por falta de ar.

— Vamos ou eu vou acabar fazendo o que não devo e não vamos sair nunca desse quarto — Ela diz saindo do cômodo segurando minha mão.

***

Fomos ao centro da cidade, tinha vários paredões de som por lá com um número considerável de pessoas com suas bebidas ao redor deles. Ficamos por uma hora, mas decidimos procurar um lugar mais calmo. Meus irmãos sumiram, não faço ideia de onde estão.

Começamos a caminhar pela orla da praia sem rumo conversando bobagens, até que encontramos um píer todo iluminado com luzes amareladas e com algumas mesas sobre ele, imaginei que pertencia ao restaurante beira-mar perto dali já que tinha uma placa mostrando isso.

Subimos e pulamos a corrente que impedia a livre entrada, fomos para a ponta do final onde estava livre de mesas. Chamei Carol para sentar ali no chão de madeira com os pés pendurados flutuando sobre o mar. Nos abraçamos de lado e ficamos em silêncio aproveitando a companhia uma da outra. Até que algo chama a nossa atenção. Os fogos de artifício no céu. Estamos em 2018.

— Feliz ano novo, Carol! — Digo, ela diz o mesmo e damos um selinho.

Admiro a mulher ao meu lado. Levo uma mão à sua bochecha e acaricio. Meu coração está cheio de alegria.

— Acho que me apaixonei por você... — Falo sem pensar, ela me olha, vejo seus olhos brilharem e uma lágrima escapa. — Ei, o que foi? Falei algo errado?

— Não, meu amor. — Acaricia a região do meu pescoço. — Só estou feliz, muito feliz. Eu acho que me apaixonei também.

Summer Love - BabitanOnde histórias criam vida. Descubra agora