Capítulo XIX

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Eijirou

Após ouvir a história do Suki minha mente simplesmente trava na parte que ele diz ter chorado.

Vejo a enfermeira entrar no local, então tomo isso como uma forma de escapar do olhar do loiro.
Mal consigo ouvir o que ele falou, estou imerso no pensamento tortuoso de que ele chorou.
Por minha culpa.

Se ele não estivesse em um relacionamento comigo isso não aconteceria, tenho certeza. Talvez a mãe dele tenha razão sobre ele não ser gay...
Talvez ele esteja comigo apenas por pena?
Por que diabos estou pensando isso? Mesmo parecendo a resposta mais correta...
Ninguém ficaria comigo por pura e espontânea vontade, certo?

Ando pelos corredores sentindo meus olhos arderem e a garganta fechando. Lá vem a maldita vontade de chorar.
Eijirou, seu fraco.

Entro no banheiro e jogo água no rosto para me acalmar. Não posso chorar, não seria nada másculo.
Me olho no espelho e suspiro angustiado, tenho uma aparência tão fraca. E não é só a aparência, minha fraqueza é um fato.
Talvez eu nunca vá ser como meu pai nem como o Suki, que foi tão paciente comigo.
Imagino a tortura que é ter que aguentar alguém como eu...

Ele contou que namora para a mãe dele. Que me namora.
Ela difamou ele, disse que era doente, por minha causa.
Eu não sei o que pensar. Está tudo uma bagunça, é doloroso cogitar a possibilidade de que ele tudo que ele sinta por mim é pena, ainda mais quando não tenho nenhuma prova concreta disso.
Sua mãe foi uma idiota ao tratá-lo como doente, a me tratar como doente, contudo não paro de pensar que tudo voltaria ao normal caso isso acabasse...

Não, Eijirou, cale a boca. Não seja tão pessimista, não dê ouvidos as vozes que te dizem que afastá-lo seria uma boa escolha.

*

Voltei para a sala e durante a aula ignoro qualquer um que tente falar comigo.
Não consigo prestar atenção na aula, tudo que penso é em como Suki deve estar magoado. E eu ainda deixei ele lá sem dizer nada, porra, me sinto arrependido. Quando as aulas acabarem eu vou ir-

Sinto algo leve bater no meu ombro.
Uma bolinha de papel.
Ah, de novo não.
Estou tão distraído que abro ela sem pensar que as palavras contidas ali provavelmente estão cheias de ódio.

“O viadinho voltou de cabeça baixa. O macho te deu um fora? É claro, com esse cabelo sem graça pra caralho”

Senti uma expressão de desgosto se formar na minha cara, olho para a sala e procuro pelo arroxeado baixinho vendo-o jogar outra bolinha na minha direção.

“Vira homem e peita a gente sozinho, viado de merda”

É só uma provocação vazia.
Mas me deixa furioso, tanto com o idiota que escreveu isso quanto comigo mesmo, pois sei que não seria capaz de enfrentá-lo sozinho.
Que irritante.

Quando a aula termina, saio correndo da sala antes que qualquer um tente falar comigo.
O Suki deve se envergonhar de ter um namorado tão... frágil.

Chego em casa ofegante, corri muito para chegar o mais rápido possível aqui.

– Eiji? – Minha mãe me chama, provavelmente está assustada com meu estado – Tudo bem, amor?

– Sim, mãe, estou bem – esboço um sorriso e vou para meu quarto.

Deito em minha cama pensando em como deve ser ruim ter um namorado problemático como eu, mas vou fazer isso mudar. Vou ser diferente.

Olho ao redor e meus olhos ficam fixados na pelúcia de tubarão vermelha. Trato de pega-la e abraçá-la, como se o loiro estivesse ali comigo. Esse foi um dos presentes mais preciosos que recebi na minha vida.

– Desculpe, Suki – sussurro – Por ser esse covarde inútil que sou.

Mas não há nenhuma resposta. Estou falando com uma pelúcia, afinal.

– Talvez se eu mudar minha aparência eu não pareça tão fraco... – fito o vermelho vibrante da pelúcia. – Talvez se eu for mais ousado, as coisas vão dar certo.

Suspiro decidido.

– Mãe, pode comprar tintura de cabelo vermelha pra mim?

[...]
**********
É, sem palavras.

You are my light [Concluído] Onde histórias criam vida. Descubra agora