Capítulo XXVI

1.7K 267 137
                                    

Katsuki

Depois que cheguei em casa na Segunda, a velha desgraçada veio me xingar falando que Kirishima estava me levando para o "mau caminho" apenas pelo fato de alguns babacas tentarem bater nele e eu salva-lo. Sei que exagerei um pouco e quase fiz um deles ficar com o rosto desfigurado, mas isso é culpa minha, não dele, ele estava horrorizado com a cena e provavelmente devo tê-lo assutado demais. Realmente odiei o ver com medo de mim, o que me faz querer melhorar para não ser um namorado agressivo ou possessivo, jamais me perdoaria se me tornasse esse tipo de pessoa. Fiz como prometido e apesar de não estar presente, quis garantir ao ruivo que ele é especial para mim e que ele tem sim tremendas qualidades, conversando com ele durante seus intervalos e o elogiando imaginando sua carinha toda envergonhada.

Mas enfim, nesta Sexta eu estou em uma clínica esperando com a velha para ir na merda do psicólogo. Estou completamente entediado mexendo em qualquer coisa no meu celular conforme espero pelo horário de atendimento. Ela chegou cedo demais porque queria garantir que eu iria hoje, para me "purificar" o mais cedo possível, como se o psicólogo fosse algum tipo de padre e como se eu precisasse de purificação por algo tão comum. Porra, ela tem merda na cabeça? Deve ter. 

Quando finalmente dá o horário, somos chamados na salinha — eu nunca fui em um psicólogo antes, então ela está me acompanhando  no primeiro dia por que ela quer garantir que o psicólogo saiba meus "problemas". O homem parece legal pra caralho, e digamos que bem educado, nos cumprimentando e pedindo para sentar nas cadeiras de frente para sua mesa no consultório.

— Certo, então poderia me dizer sobre você, Katsuki? — ele perguntou calmo e eu disse algumas coisas sobre minha vida, fazendo questão de ressaltar que tenho um namorado qual eu amo muito e que uma certa pessoa não aceita enquanto olho de canto para a loira ao meu lado que fervia de ódio pela minha ousadia.

— Está vendo? Ele não tem noção nenhuma de perigo se envolvendo com essa... coisa... — Diz com o desgosto evidente em sua cara. Ela literalmente chamou o Eijirou de "coisa", como se ele não fosse um ser humano, como se não tivesse sentimentos. Isso me deixa possesso de raiva. Só não começo a xingar ela pra caralho agora por que estamos na frente de uma pessoa que não tem nada a ver com isso e eu também tenho um pouco de respeito por ela, apesar dela não ter nenhum por mim.

O psicólogo faz algumas anotações, aparentando ter entendido a situação enquanto seu semblante quase se perdeu em confusão. Então ele retoma o ar sério e começa a nos responder.

— Olha senhora Mitsuki — Ele fala primeiro com minha mãe — Creio que isto não é nenhum problema mental, visto que ele mostrou-se verdadeiramente feliz falando de seu namorado. Agora, é um problema se de alguma forma esse garoto estiver fazendo mal ao seu psicológico, como acontece em um relacionamento abusivo ou tóxico.

— Ele está! — Ela afirma tão convicta que deixo uma risada irônica escapar. Ela nem ao menos conhece ele, nem sabe o quão doce é, o julga apenas por ser um homem e agora está afirmando com toda certeza do mundo que Eijirou é alguém que me faz mal? Minha teoria de que ela tem merda na cabeça só ganha mais argumentos — Katsuki entrou em uma briga por causa dele.

— Isso é verdade Katsuki? — Ele me pergunta curioso provavelmente esperando que eu conte minha versão da história.

— Sim, é. — Não vejo porque mentir.

— Viu? ele admite com orgulho ainda! — Ela quase grita de tanta felicidade pela minha admissão.

— Eu não terminei — interrompi sua interrupção — Alguns garotos iam machuca-lo, mas eu cheguei na hora e não consegui controlar meu ódio por eles.

Ele acena compreensivo e eu fito o chão meio envergonhado por ter admitido que não consigo controlar meu ódio.

— Você precisa aprender a ter paciência, Katsuki. — ele pontua — Sei que sabe que isso é óbvio, mas devemos trabalhar isso — e essa conversa começa a tomar um rumo completamente diferente, o que me alivia.

— Mas e essa doença dele? Não tem nenhum remédio ou tratamento pra isso? — a velha se intromete novamente.

— Senhora, como psicólogo, não posso passar nenhuma receita médica e também te afirmo que do ponto de vista científico que isso não é uma doença —  ele explica — Não está fazendo mal a ele e o garoto parece muito feliz com o namorado que tem.

— Incompetente... — Ela murmura irritada — Está botando coisas na cabeça do meu filho.

— São apenas fatos. — afirma simples.

— Mentiroso desgraçado — ela se levantou da cadeira, puxando meu braço e me levando junto — Não pago nenhum centavo para uma escória dessa. — e mesmo a contragosto vou com ela, vendo o psicólogo confuso me lançar um olhar empático.

***

Chegamos em casa e ela me xinga no caminho todo, onde dou o máximo de mim para ignorar cada palavra ofensiva que ela me direciona, mas eu não sou tão frio. Isso dói, beleza? Acho que ninguém suportaria ser xingado pela própria mãe o tempo todo, sinceramente. Seguro as lágrimas idiotas que querem cair, pois não vou dar esse gostinho de vitória para ela.

Ela bufa ao entrar na residência e meu velho parece se assustar com a chegada repentina em casa, observando a loira continuar gritando e me xingando, falando que daria um jeito em mim e faria "isso sair do meu corpo", não entendo o que ela quer dizer. Comprovado, ela tem merda na cabeça.

Vou para meu quarto ignorando o que ela diz e tranco a porta mais uma vez, respirando fundo para não chorar. Não posso. Não por ela, ao menos. Vou aguentar isso até o fim.

Eu já iria me deitar se não fosse as batidas na porta e logo ouço a voz do velho chamando meu nome atrás da porta, fazendo com que eu vá destranca-la.

— Katsuki... — Ele me chama novamente, provavelmente se sentindo mal por mim. Tsc. Não preciso que alguém tenha pena.

— O que foi?

— Pelo que sua mãe disse, o psicólogo é um louco, não? — ele sorri de um jeito estranho.

— Tsc, ela quem é.

— Então quero que continue indo nele — afirma.

— Hã? Por quê? — Questiono confuso.

— Você vai precisar — ele sorri — Na verdade, todo mundo precisa. Ir ao psicólogo não é algo ruim nem coisa de loucos, Katsuki, e para sua mãe ter achado ele tão ruim foi porque ele disse algo que te favoreceu, algo bom de verdade, então quero que vá para lá. Vai te ajudar a resolver suas questões pessoais.

— Porra, mas ela não vai pagar...

— Eu vou — ele sorriu gentilmente.

[...]

You are my light [Concluído] Onde histórias criam vida. Descubra agora