Capítulo XXX

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Eijirou

Minutos antes

Viemos fazer o trabalho na minha casa e isso me deixa um pouco mais tranquilo, mas ainda sim a presença de Sero incomoda, estou buscando perdoa-lo de verdade e conseguir me aproximar dele, quero acreditar que nada de ruim vai acontecer.

— Então... há quanto tempo estão juntos?

— Há um mês... — respondo vagamente seu questionamento, pensando em quão pouco tempo estou junto com Bakugou e já contei o pior evento da minha vida para ele em um momento de crise. Ele não me julgou e me apoiou, mesmo que não tivesse uma real obrigação de fazer isso, ele poderia simplesmente ter ido embora e escolhido alguém menos problemático, mas no fim estamos aqui juntos.

— Legal. — o Hanta diz após alguns segundos de silêncio, parecendo buscar algum assunto em sua mente.

Contudo, vejo Katsuki interrompe-lo, xingando-o como de costume e essa cena não me deixa muito confortável, então decido intervir sugerindo uma pequena pausa e indo buscar alguns lanches.

Ando até a cozinha e vejo minha mãe vendo televisão, quando ela nota minha presença me fita e pergunta se eu estou bem.

— Tô sim, mãe.

— Aquele Sero não participou... daquilo? — ela indaga temerosa e não julgo seus medos, pois nunca de fato falei se tinha mais alguém envolvido.

— Não. — nego, colocando os salgadinhos em cima da mesa e suspirando. — Eu quero confiar nele.

Ela me fita com um olhar surpreso misturado a certo orgulho, talvez tenha ficado feliz que finalmente eu tenha tomado alguma atitude de me reaproximar de alguém que temi encontrar por anos?

— Tenha cuidado, mas não deixe o medo vencer. Ele não parece ser má pessoa — ela diz, sorrindo para mim e sinto aquelas palavras me atingirem com força. Talvez possa dar certo? Pego os pacotes e vou para o quarto pensativo quanto ao que acabei de ouvir e a atitude que acabei de tomar.

Ao entrar já sinto um pequeno sorriso em meus lábios, mas vejo as expressões assustadas dos dois e sinto um pequeno receio em meu peito. Talvez eles estejam escondendo algo? Assim que entrei eles me encararam estranho, mas agiram normalmente... Deve ser só mais uma das minhas paranoias.

Acabo me lembrando que esqueci de trazer algo para beberem, estava muito distraído. Volto para buscar rapidamente e já que ambos aceitam qualquer coisa, vou pegar água porque sinceramente, estou com preguiça de abrir a geladeira para pegar algum refrigerante.

Volto até que bem rápido e acabo por ouvir uma parte da conversa que eu não deveria ter ouvido.

Quero ser amigo dele novamente e eu jamais brincaria com algo sério assim! — reconheço a voz de Sero falando essa frase e travo na hora. "Quero ser amigo dele novamente", esse dele só pode ser... eu? Bom, pelo que eu saiba, não há outra pessoa que ele ande enchendo o saco para voltar a ser amigo, então esse algo sério seria... Não, Suki não faria isso... Quer dizer, eu confiei nele...

Ok, não posso tirar conclusões precipitadas, aposto que deve ser um mal entendido.

Sorrio como sempre, tentando parecer despreocupado e entro no quarto, já tentando saber sobre o que ambos conversavam.

— Que "algo sério"? — Questiono, fazendo parecer com que eu apenas tivesse ouvido o final da frase e mais uma vez temo que minha suposição esteja certa, porque Sero dá uma desculpa bem conveniente, mas que anula o começo da frase. Droga, além de provavelmente terem falado sobre aquilo estão mentindo? Meu sorriso quase desmancha, mas me esforço para mante-lo, deixando os copos na mesa e tentando me distrair perguntando qualquer coisa.

Não vou surtar nem nada, não agora. Não podemos perder o tempo de fazer esse trabalho logo então busco me concentrar nas pesquisas. Está quase óbvio qual é o assunto que eles falavam, mas não quero realmente acreditar que o Suki possa ter revelado algo assim...

***

Horas passaram e eu me mantive focado, tentando não pensar muito no que ouvi e pensando em outros problemas como o fato de termos que apresentar o trabalho. Sinceramente, por quê? Ninguém se interessa pelo que falamos na frente da sala, porque nem a gente tá interessado, mas mesmo assim temos que ir lá na frente e fazer essa porcaria. Odeio apresentações na sala, os olhares, minha voz, a insegurança que sinto... tudo é terrível.

Depois que terminamos tudo, Katsuki acaba perguntando sobre o que acabei de dizer.

Ele diz algo para me animar, sei que foi essa a intenção, mas fico com medo já que anteriormente ele realmente bateu em quem tentou fazer algo comigo e acabou sendo suspenso... Sério, e se ele for expulso por me defender? Eu não me perdoaria.

Decidimos jogar um pouco para descontrair, revezando os controles do video game. As memórias do que ouvi algumas horas atrás começaram a me perturbar novamente e as paranoias invadiram minha mente, então disse que havia ficado cansado e apenas dei o controle para Katsuki e sentei ao seu lado – ainda um pouco distante – e comecei a pensar. Acho que fui um idiota novamente por acreditar em alguém...
Mesmo que eu ame o Suki de verdade, tenho medo dele ter simplesmente dito para alguém, apesar de que a maioria de suas ações contradizem a teoria de que ele contou para alguém por maldade.

Sou despertado dos devaneios da minha mente ao sentir seu braço envolto à minha cintura e sou puxado para mais perto do loiro. Estou confuso, o que ele pretende?

E nem precisei perguntar, pois logo ele abaixou a cabeça perto da minha nuca e comecei a sentir seus lábios passeando por ela, ouvindo o som dos beijos, não passando de carícias inocentes.
Sinto meu rosto esquentar e ele provavelmente está quase em chamas agora, principalmente pelo olhar de Sero na nossa direção. Não há nojo nem medo, apenas... vergonha... é claro, até porque não é muito normal duas pessoas começarem a se beijar na sua frente do nada.

— Suki, o Sero... — digo envergonhado e vejo o loiro levar seu olhar ao moreno, dando uma resposta que até eu não esperava.

— Ele que se foda — Sero fica indignado e eu também ficaria se não tivesse sido desestabilizado com o beijo carinhoso que ele depositou em minha testa.

Ah, esses beijos são tão bons...

Mas ainda sim, Suki simplesmente contou aquele acontecimento terrível para o Sero... Eu deveria perguntar, talvez ele tenha ficado com dó? Quisesse compartilhar de minha idiotice com alguém? Não tenho ideia...

Com estes pensamentos, por impulso me desvencilho do braço do loiro e me afasto um pouco.

Sero disse que estava tudo bem nos beijarmos assim, contanto que estivéssemos felizes fazendo isso. Senti meu peito aquecer com aquela fala... pareceu tão sincero e ao mesmo tempo tão estranho, mas de alguma forma foi reconfortante.

Depois disso, sinto uma mão afagando minhas madeixas ruivas gentilmente e então ouço um pedido de desculpas baixinho do Suki.

Não sei exatamente pelo que ele está se desculpando, mas suas orbes estão carregadas de remorso e imagino que ele esteja arrependido por ter me exposto.

Então por que ele fez isso?

Eu iria perguntar, mas ele mudou de assunto, como se estivesse tentando fugir do clima tenso e desafiou Sero em mais partidas de video game.

Fico em silêncio, observando os dois gritando e competindo. Sorrio com a cena, o clima recheado de empolgação infesta este lugar, algo que nunca havia acontecido antes.

Talvez Sero não seja tão ruim, mesmo que eu não consiga encará-lo por provavelmente saber sobre como fui idiota.

E o que dizer de Suki? Ele faz tantas coisas por mim, me protegeu, me esperou, me ouviu, não me deixou...

Então por que contar algo assim? Fico abalado ao passo que estou me segurando para não ficar desesperado e questiona-lo sem parar.
Confio nele e quero continuar confiando, mesmo que ele esteja mentindo para mim agora.

Espero não estar sendo idiota novamente.

[...]

You are my light [Concluído] Onde histórias criam vida. Descubra agora