[70]

709 50 17
                                    

Justin's POV.

No outro dia cedo, liguei para o consultório e marquei uma consulta, sessão de terapia, sei lá, eu reconheço que não estou bem e que talvez eu precise conversar com alguém que não tenha perdido a memória recentemente.

Às 13:30 fui até lá. Me sentei numa poltrona confortável que havia lá e o Dr. Keller começou a me fazer perguntas.

- E aí Justin?

- E aí Doutor?

- Me conta o que está acontecendo de bom na sua vida.

- Nada de mais..- arqueei a sobrancelha olhando pra um ursinho de pelúcia na mesa dele.

- Bom, se fosse "nada de mais" você não estaria aqui.- ele me arremessou o ursinho.- É de uma paciente de 6 anos que terminou o tratamento e me deu ele de presente.

Peguei o urso e o abracei, fazendo carinho nele.

- Sua mãe ligou me agora pouco, dizendo que você viria. Eu estranhei, pois você sempre foi tão calminho e compreensivo. O que está acontecendo? Problemas amorosos?

Eu ri baixo. Quem me dera fosse só isso.

- É. Sim. Problemas amorosos. - falei irônico.- Na verdade, minha "namorada"...

Eu perdi as palavras, não sabia como contar.

- Você dormiu essa noite? Meu deus, você está péssimo, olha essas olheiras! - ele disse me dando um espelho.

Eu me encarei e vi o que ele dizia.

- Viu, Justin? Você é um rapaz bonito e inteligente, o que anda te tirnado o sono? Eu nunca te vi desse jeito.

- Ah.. É que eu não sei como te contar isso. Acho que é crime.

O doutor ficou pasmo.

- Finja que nós não nos conhecemos, me conte sobre você detalhadamente. Vai.- ele deitou numa poltrona ao lado.- Se deite também. É mais confortável.

Respirei fundo me deitando.

- Eu.. Ah..

- Respira, Justin.

- Meu pai nunca foi tão presente na minha vida sabe doutor, e isso me doía já que eu vi minha mãe me criar. Então eu comecei a me desesperar depois que terminei a escola e não sabia o que fazer, e fui vender drogas com o meu tio.- botei as duas mãos no meu rosto.- Que vergonha.

- Está tudo bem, conte. É nosso segredo.

- Eu ganhei muito dinheiro, e eu era carente, sei lá, eu era burro e queria tudo pra mim, aí eu encontrei a Madison na rua um dia, mas só nos esbarramos sem querer no shopping, e depois numa boate. Enfim, eu meio que paguei pra tirar ela de lá, você sabe né, ela é nova e não é daqui, e o mercado da prostituição de menores rola solto, não que eu queria salvar ela desse meio, mas eu queria ela. Me da até um frio na barriga lembrar. Enfim, eu fui muito mau com ela, bati nela várias vezes.. Eu não sei como eu consegui te dizer isso..

Minha garganta segurava um choro pesado, eu queria pular daquela sacada do prédio e morrer.

- Justin, está tudo bem! Você confia em mim, por isso me contou. Se quiser trocar de psicólogo pode trocar, eu te indico alguns colegas meus, caso você se sinta desconfortável em contar pra mim, já que nos conhecemos faz tempo.

- Não, não precisa. - suspirei tentando conter o choro. Não sei o que estava acontecendo.

- Termine de contar.

- Ela sofreu um acidente.. Teve um dia em que ela não sabia se eu estava brincando ou se eu realmente pretendia fazer algo ruim com ela outra vez, e ela chamou a polícia. Eu fui preso, e logo depois que ela pagou a fiança ela quis ir ao mercado fazer sei lá o que, e bateu o carro. Eu a deixei nervosa e assustada, se eu não tivesse sido um monstro ela não teria quase morrido naquele dia.- falei já chorando, não conseguindo conter. - E agora ela voltou, nós voltamos, e eu não sei fingir que eu destruí tudo e tenho culpa de ela não conseguir se lembrar de varios momentos da vida dela, mas talvez isso tenha um lado bom, porque ela não lembra do que eu fiz pra ela.

Eu abraçava o ursinho forte, e chorava encolhido naquele sofá. Me senti uma criança.

- Eu sei que eu sou um doente..- respirei fundo.- Dói tanto saber de tudo isso enquanto ela pensa que éramos um casal perfeito.

Fucking DaddyOnde histórias criam vida. Descubra agora