I just haven't met you yet

42º Capítulo- Recuperar da culpa & Partidas amadoras

Eu não me lembro da minha vida depois desta fase. Ou talvez me lembre mas prefiro ficar na ignorância do esquecimento. Pois nada parece fazer sentido depois de me ter mudado para Londres, e mais propriamente, ter conhecido Niall.

É como se tudo o que eu passei na adolescência, e a constante rotina dos anos mais juvenis me tenham levado a este momento. Só, e completamente a este momento. Não me imagino a percorrer o mesmo caminho aborrecido de manhã para a escola, a ouvir as mesmas músicas em “repeat” enquanto sonhava com um acontecimento marcante que mudasse tudo. Não me imagino a voltar para um lugar onde sentia o mundo inteiro a aproveitar-se de mim e consequentemente julgar-me. Não me imagino a continuar a frequentar aquelas aulas de teatro que eram como um ponto de salvação depois de uma semana dolorosa de aulas. Não me imagino sequer, a conviver com as mesmas pessoas, observar aquelas paisagens e ouvir as mesmas músicas. Tudo mudou. E preparou-me para isto. Isto era a beleza da vida, que se encontra num plano perfeito e completamente alinhado. Sofremos para aprender. Caimos para nos sabermos levantar. E andamos em constante movimento, até encontrar o ponto de equilíbrio. Esse ponto de equilíbrio chama-se felicidade. E eu encontrei a minha finalmente.

- O que vai ser?- o jovem bem constituido com uns belissimos olhos azuis perguntou. Olhos esses que me lembraram institivamente de Niall.

- Chocolate quente  e um muffim clássico de amoras.- pedi educadamente, sendo recebida com um sorriso.

Encontrava-me a tomar o pequeno almoço na Starbucks mais próxima do estúdio onde iria ter gravações dentro de poucos instantes.

O dia de ontem fora tão cheio de emoções que mal cheguei a casa acolhedora de senhora James, adormecera de imediato. Tanto o psicológico do meu ser como o fisico estavam num ponto de saturação, e acordando com as galinhas, não queria dar trabalho a senhora amorosa que se encontrava num sono profundo no quarto ao lado. Deixara um bilhete e saira calmamente para tomar o pequeno almoço.

Retirei a carteira da mala preta que apenas continha o meu telemóvel e um guião amarrotado de tremenda leitura e pouco cuidado, e reparei que o meu telemóvel piscava com uma mensagem recebida.

- Posso?- ouvi uma voz, mal pousei o tabuleiro numa mesa disponivel. Mary.

- Claro- forçei um sorriso e sentei-me de seguida, pousando a mala ao lado.- Queres comer alguma coisa?

- Já pedi ao balção. Espero que não te importes! É que vi-te aqui e pensei que podiamos comer juntas e... por a conversa em dia?- ela parecia tão em baixo. Tão em baixo que eu não era capaz de simplesmente a mandar dar uma curva. Por isso mostrei o meu melhor sorriso e bebi um pouco do leite achocolatado. Os olhos de Mary fixavam o chão por debaixo da mesa, e eu reparei numas grandes olheiras por debaixo dos mesmos. A fase encontrava-se pálida embora desfarçada com uma grande quantidade de base. O cabelo arruivado estava preso num rabo de cavalo desleixado. Ela não era a mesma Mary confiante, não, uma Mary abatida substituira o seu lugar.

- Eu sei que não me diz respeito...- comecei, e ela olhou-me surpreendida.- Mas está tudo bem?- coloquei a minha mão por cima da dela, num gesto de carinho que não passou desprecebido a olhares alheios.- Precisas de falar?

A pobre rapariga desmanchou-se em lágrimas, enquanto eu sentia a sua mão tremer por baixo da minha. Afastei os dois tabuleiros, para o lado, e agarrei-lhe ambas as mãos, sem saber bem o que dizer ou fazer. Sentia a distância que outrora não havia, tudo por consequência de uma escolha amorosa. Sentia falta do ambiente de complicidade, e aprecebera-me disso, ali frente a frente com a primeira pessoa que conhci do elenco. A primeira com quem estabelecera contacto. Não podia deixa-la naquele estado.

- Queres um lenço?- vasculhei a mala.- Acho que tenho um pacote aqui algures...Não... Bolas que chatice! Hã... Posso pedir no balção...?- Mary abanou insistentemente com a mão, e encarou-me, os olhos verdes mais reluzentes que nunca.