1º Capítulo- Uma chance

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Sexta feira. Geralmente, eu adoro a sexta feira, não porque o dia seguinte é sábado e marca o início do fim de semana mas porque costumo ter aula de teatro com o grupo da professora Linda, amiga do meu pai.

Ainda me lembro quando ele me levou lá... Estava completamente apavorada como se fosse entrar numa era maligna e conviver com pessoas que destruíssem a minha vida futura mas não fora esse o caso. Não, de todo.

Todos os jovens-adolescentes presentes me acenaram e cumprimentaram como eu nunca esperei. Sorri para todos eles, e sentei me no circulo que tinham formado no chão do palco.

Estava na última aula do dia: Português e por mais que quisesse focar-me na matéria que estava a ser leccionada pela professora, a minha mente viajava para a última aula de representação quando Bill, fizera uma visita a sua mãe e ficou por momentos a observar a nossa aula até achar aquilo completamente enfadonho pela respiração pesada que saiu da sua boca, e caminhar com o telemóvel na mão para o final da sala, saindo da mesma com um bater da porta de madeira.

- Esta tudo bem?- Stacey perguntou-me e tocou-me no braço lentamente, fazendo-me piscar os olhos e encarar o seu rosto que me olhava em total confusão. Acenei afirmativamente com a cabeça e pensei novamente em Bill e no momento angustiante que vivemos há uns tempos.

O toque soou, e a sala virou zoo quando todos os meus colegas arrumaram os cadernos e livros a presa na mochila e saíram disparados pelo corredor a dentro. Eu retirei os meus phones cuidadosamente da bolsa inferior da minha mala e coloquei-os no telemóvel dando então inicio a uma reprodução de músicas do cantor Ed Sheeran enquanto seguia caminho para a instituição de teatro.

Desde de pequena, que sempre sonhei ser actriz. Um sonho difícil e improvável de se realizar. Eu gostava da sensação de poder interpretar diferentes personagens e por momentos, deixar de ser eu para passar a ser uma pessoa totalmente diferente. Era bom. Refrescante. Uma lufada de ar fresco. Havia feito teatro durante 2 anos mas desistido porque o horário era complicado de conciliar com as aulas. Os mais pais sempre quiseram que tivesse um futuro brilhante e então, sempre levara a escola muito a sério. Aceitaram estas aulas como um hobbie para não passar o tempo todo em casa mas nunca acreditaram totalmente que eu conseguisse viver de algo tão inconstante como o mundo do espectáculo. A minha fé então, no meu sonho, está a zero.

Entrei então, na instituição e apertei a alça da minha mochila com o guião, carteira, chaves e os diferentes cadernos e livros da escola.

Todos se encontravam entusiasmados e as suas feições transbordavam felicidade, curiosidade e ansiedade. Eu perguntava-me o que se estava a passar quando Chelsea, dirigiu-se a mim e pegou-me no braço puxando-me para um canto.

- Soph, não estás , do género, a morrer de curiosidade?- pelos vistos, eu era a única naquela sala sem nenhum tipo de luz, sobre o que se estava a passar..

- Não... Eu... não sei o que se está a passar?- olhei para todos os lados a procura de algum indicio da grande surpresa de que todos tinham conhecimento menos eu.

- Ah tu não sabes! É que...- o olhar de Chelsea foi levado para longe do meu e eu virei-me num reflexo para perceber o que se estava a passar- É a professora! Vamos, vamos entrar.

Chelsea pegou no meu braço, e juntas entramos na sala de teatro, subindo umas escadas até ao grande palco e formando o habitual círculo. Eu estava com a curiosidade ao máximo, achando que possivelmente iríamos apresentar a peça que estávamos a ensaiar, " A menina do mar" e rezando para que os figurinos estivessem, finalmente prontos.

- Bom dia a todos- cumprimentou-nos a nossa mais que amiga, mas também professora enquanto se sentava no meio do círculo - Como de certo, todos já sabem, tenho uma importante novidade para vos dar.- Aquelas palavras apenas confirmaram as minhas suspeitas de ser a única sem nenhum tipo de informação sobre a novidade que ai vinha.- Uma companhia muito importante de Londres procura um jovem promissor para a próxima novela que vão estrear e contactaram-me para virem cá buscar um possível candidato.

- Mas isso é espectacular!- George falou batendo com o punho, no punho do rapaz a seu lado.

- E é a professora que escolhe quem terá essa oportunidade ?- perguntou Chelsea, ao meu lado.

- Oh não, não, eu não tenho competência para tal tarefa. Não. Eles enviaram um representante para as audições de amanhã.

- Amanhã?!- o meu subconsciente gritou.

- No final do ensaio, eu darei mais pormenores. Okay? Então vamos ensaiar.- disse a professora com a maior das naturalidades enquanto todos se levantavam e retiravam os guiões da mochila.

Passou 1 hora de " A menina do mar" e era perceptível que todos se encontravam demasiado desconcentrados para produzirem as falas correctamente ou para interpretarem as personagens com naturalidade. Diversas recomendações foram dadas e todos nós suspirávamos e obrigávamos os nossos pés a moverem-se com fluidez e as nossas vozes a projectarem-se correctamente para até a cadeira mais distante do palco poder ouvir as nossas falas correctamente.

No final do ensaio, enquanto calcávamos os nossos sapatos, que tinham sido retirados no inicio para nos dar maior liberdade de movimentos, Linda explicou-nos que todos nós iríamos prestar uma audição por ordem de chegada onde tínhamos de representar um monologo a nossa escolha: quer fosse de uma peça conhecida ou uma criação nossa e que iríamos encontrar-nos fechados na sala onde normalmente trocamos de roupa para dar inicio a qualquer espectáculo. Nós gostávamos de lhe chamar a "sala dos adereços".

A audição demoraria mais ou menos 5 a 10 minutos. Deveríamos também trazer uma foto nossa e a folha ( que nos foi entregue individualmente) preenchida. As audições começavam as 4h30 e terminavam as 6h.

Eu só conseguia pensar, enquanto me dirigia a casa para contar aos meus pais, que iria ser uma longa noite.

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I just haven't met you yetOnde histórias criam vida. Descubra agora