7º Capítulo- Elenco

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Caminhei pelas ruas de Londres ainda com as palavras de Bill a ecoarem na minha mente. Como é que eu pude sequer pensar que ele queria algo comigo? Algo a sério, como uma relação com todos os privilégios e complicações da mesma. Mas isto, isto não é uma mera complicação é muito mais grave que isso, muito muito mais grave.

Sinto tanto a falta de Stacey. Lembro-me do exacto momento em que nos despedimos:

- Promete que me ligas quando chegares sim? Para eu saber se chegaste bem- abracei-a, pousando a cabeça no seu ombro e com o estranho pressentimento de que estava a perder o meu único ponto de abrigo nesta cidade assustadora.

- Eu prometo. Se precisares de alguma coisa liga-me sim? – Acenei afirmativamente com a cabeça, deixando uma pequena lágrima escorrer até ao seu casaco azul turquesa que passara a azul escuro com a pequena gota de água nesse local.

- E Sophie?- Acenei novamente. Tinha perfeita consciência de que abrisse a boca para pronunciar uma única palavra, me iria desfazer em lágrimas sem puder voltar atrás. Não queria que a minha melhor amiga se sentisse mal por estar a seguir a sua vida. Ela iria para a faculdade, e eu não podia estar mais orgulhosa.- Tem cuidado.

Não posso deixar de me preguntar neste preciso momento, se aquele aviso fora propositado ou não, mas de qualquer modo, e mais uma vez, ela soubera o que dizer no momento certo e agora essas palavras ocupam a minha cabeça obrigando-me a inspirar fundo e continuar o caminho, que por este momento, se encontrava no fim.

Estava nervosa.

Muito nervosa, e tentava desmontar confiança a cada passo que dava mas por dentro, sentia-me a sufocar de ansiedade. Não lido muito bem com o stress, isso é um facto e por isso admiro imenso aquelas pessoas que sobre uma situação de pânico conseguem sempre manter a postura e ser racionais quanto a uma solução possível.

A minha professora de Teatro encontrava-se a porta do grande edifício com um casaco comprido que lhe ia até aos joelhos e um cascol cor-de-rosa. Eu não a censuária. O meu estado de espirito naquele momento parecia estar a condizer com o tempo, que me desejava ter trazido algo mais quente a cada passo que dava. Mesmo assim, esforcei o meu melhor sorriso e cumprimentei-a como se a minha continuação na série dependesse disso.

Bom... De certo modo até dependia. A escolha da mesma, poderia mudar a qualquer momento se eu não me encontrasse a altura das expectativas.

Entramos no grande edifício e eu observava todos os pequenos pormenores. A mesa pequena com uma planta em cima do lado direito, ao lado de um grande corredor. O balção de atendimento com uma jovem loira sentada do outro lado que conversava com a senhora responsável pela minha pessoa. Um conjunto de sofás roxos no lado esquerdo com um aspecto moderno e acolhedor. Até as formas das lâmpadas do tecto eu observei como se percebesse mesmo algo de iluminação. Pareceu-me tudo muito bem.

- Sophie, por aqui.- Segui os movimentos da mulher de saltos altos e permaneci atrás sentindo-me inferior por algum motivo. E se o resto do elenco não gostasse de mim? Seriam mais velhos? Mais novos? Quantas pessoas? E o realizador, que papel tinha programado para mim? Seria difícil? Tantas perguntas e respostas tão vagas como suposições para acalmarem o meu nervosismo.

A mulher desumanamente bonita parou em frente a uma porta e eu parei rapidamente a seguir, não permitindo que o meu corpo embatesse contra o dela pelo choque. Levantei a cabeça e a recepcionista sorriu-me, dirigindo-se para o lado oposto ao que caminhávamos. Bati a porta, ouvindo um "entre" vindo na minha direcção. Mas antes que pudesse abrir a mesma, uma rapariga com o cabelo ruivo e uns brilhantes olhos verdes, realizou essa tarefa por mim e sorriu ao observar a minha figura.

- Tu deves ser actriz de Portugal não?- disse-me ela, com um olhar de alto a baixo para a minha figura e um sorriso de seguida. Não sei se me senti mais incomodada pelo olhar, que de certo provocou um súbito aquecimento da minha face, se ( e se o meu inglês estivesse correto), pelo facto de ela me ter chamado actriz. Actriz mesmo.- Desculpa?- ela acenou em frente a minha vista, fazendo-me acordar do meu transe e eu apercebi-me que tive este tempo todo a observar a porta, por nenhum motivo aparente.

-D-desculpa- murmurei a jovem a minha frente que soltou uma risada.- Sou a Sophie- disse, brincando com os meus dedos atrás do meu corpo. Ela sorriu novamente e saiu da porta para eu passar, e deparar-me com dois rapazes a jogarem playstation. Entrei calmamente e esperei que eles dessem pela minha presença.

- Eles podem estar ali horas- a ruiva falou- Sem dar atenção a quem está a sua volta!- desta vez, o seu tom de voz elevou-se e os dois rapazes olharam para nós, com uma cara aborrecida mas mudando rapidamente para uma de felicidade.

- Mary, não nos tinhas avisado que tínhamos visitas- falou o moreno, ajeitando-se no sofá e pousando o comando na mesa a sua frente, provocando um suspiro de frustração ao jovem que se encontrava a seu lado.

- Ele não está habituado ao contacto com raparigas. Sou o John.

- Sophie – apresentei-me e John levantou-se do sofá e colocou um braço a volta dos meus ombros enquanto eu mandava um olhar a Mary do tipo "isto-é-normal?" ao qual ela acenou com a cabeça.

- Aquele paspalho ali- disse apontado para o moreno- é o Taylor. Eu se fosse a ti tinha cuidado.

- Eu tinha cuidado com os dois- Mary advertiu, enquanto se apoiava numa mesa que continha diversos aperitivos e que eu ainda não tinha reparado que se encontrava ali.

- Nós conseguimos ser muito amigáveis- Taylor falou sorrindo, ao qual eu sorri de volta.

- É exactamente esse o problema.

- Cala-te Mary, estas a estragar esta cena toda.- Eu estremeci ao ouvir isto por parte do loiro – Oh não te preocupes, nós temos um ódio de estimação por ela.- aproximou o seu rosto do meu ouvido- Acho que ela tem algum problema connosco.

Sorri deixando Mary obviamente confusa com o que se estava a passar e de seguida John encaminhou-me para o sofá onde me sentei entre os três e onde um dialogo imediato começou sobre o porque de estarmos todos ali e onde lhes contei um pouco sobre mim. John e Taylor partilhavam casa aqui, em Londres e Mary tinha-se mudado recentemente também embora os três já tivessem alguma experiência neste mundo do espectáculo. Os rapazes já tinham feito uma série e Mary participado num anúncio de perfumes. Taylor pareceu notar o meu desconforto ao ouvir tais informações mas permaneceu calado, até nos chamarem para nos encontrarmos com o director. Saímos os quatro da sala em silencio absoluto . John e Mary, a frente, eu e Taylor atrás.

- Hey Sophie- olhei para o lado quando o jovem sussurrou. Dei-lhe a confirmação que estava a ouvir e ele prosseguiu- Eu acho que te vais sair lindamente.

I just haven't met you yetOnde histórias criam vida. Descubra agora