Capítulo 1

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— Mônica, você quer casar comigo?

Depois de três anos de namoro, essa pergunta devia ser uma das mais esperadas por muitas mulheres ditas em sã consciência. Mas, cá entre nós, naqueles últimos meses, eu mesma não me descreveria nesses termos. Não é que não quisesse casar nem nada. Eu queria, de verdade. Eu só não sabia se queria casar naquele momento e muito menos se queria casar com Eduardo.

O que era bem constrangedor já que ele estava ajoelhado bem na minha frente, com aquela caixinha preta carregando um anel de brilhantes apontado ameaçadoramente em minha direção, enquanto meus sogros e minha mãe exibiam expressões de profunda satisfação e, minha irmã, de completa surpresa.

Podia sentir os olhares de todo o restaurante recaindo sobre mim. Todos esperavam que eu desse o tão esperado sim para que eles pudessem bater palmas como nas cenas das novelas da Globo. Até mesmo um violinista havia sido contratado e tocava a famosa música da Legião Urbana que levava nossos nomes. Por que Eduardo havia feito aquilo comigo? Ele sabia que eu detestava esse tipo de exposição.

Mas uma coisa tinha que admitir: ele havia se esforçado bastante para pensar em tudo, o anel, o restaurante, a música, minha família. Na verdade, pensando bem, aquilo nem ao menos se parecia com algo que ele faria, parecia mais... algo que minha sogra havia planejado. Pensando melhor, com certeza tinha o dedo da minha sogra naquilo tudo — ou melhor, uma mão inteira.

— Aceito.

A voz em minha cabeça gritava não, não, não!

— Eu adoro quando você fica com vergonha assim, sabia? — Eduardo depositou um beijo rápido em meus lábios. — Nós vamos superar essa sua fase, Nina. Você vai ver, organizar o casamento vai te ajudar a esquecer um pouco tudo o que passou, vai ocupar sua cabeça e tudo vai voltar a ser como antes. — Ele sussurrou junto ao meu ouvido. — Eu te amo, Nina.

Quando Eduardo se distanciou, notei pela primeira vez que usava a camisa que sua mãe lhe dera no último aniversário. O tom azul escuro caía bem com a pele alva e os cabelos claros dele, mas havia alguma coisa estranha no corte da camisa e...

— Nina?

Quase chacoalhei a cabeça na tentativa de sair do transe. Por que estava pensando naquilo? Meu noivo havia acabado de dizer que me amava e eu só conseguia pensar num corte de camisa?

Mordi o lábio inferior. Eduardo me olhava com a testa franzida.

— Eu... eu também te amo. — Aquele sentimento de que estava sendo desprezível com alguém que não merecia começou a me sufocar. — Eduardovamossentarporfavor!

Ele acenou com a cabeça para o violinista que, para meu alívio, parou de tocar. Depois de recebermos os abraços apertados da minha família e dos meus sogros, logo nos tornamos entediantes para a plateia e as pessoas foram retornando para suas próprias vidas.

— Eu já falei com o padre da igreja que eu e seu pai frequentamos. — Minha sogra dirigiu-se a Eduardo. — Ele conseguiu uma data ainda para o semestre que vem então temos que começar os preparativos do casamento logo.

Fiz que sim com a cabeça e ignorei o olhar esbugalhado que Mafalda me lançava do outro lado da mesa. Já havia pedido para ela não reagir daquela forma nesses momentos.

— Eu estou tão feliz por vocês, meus queridos. — Agradeci em silêncio pela intervenção. — Qualquer mãe estaria ao ver a filha com um genro como você, Eduardo. Meu coração não poderia estar mais sossegado do que agora. — Ela colocou a mão de Eduardo por cima da minha e apertou-as entre as dela. Um dos garçons servia a taça de dona Lúcia com champanhe. — Eu queria tanto que seu pai estivesse aqui para viver esse momento.

̶E̶d̶u̶a̶r̶d̶o̶ ̶e̶  MônicaOnde histórias criam vida. Descubra agora