Capítulo 12

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Tentei descobrir de quem Onofre falava, mas, daquela distância, só conseguia enxergar o vulto do homem por detrás do espelho fumê e precisei entrar no cubículo da portaria.

— Théo?

— Oi, Mônica. Tudo bem?

— Tudo. O que veio fazer aqui?

— Você esqueceu um negócio lá em casa ontem. — Ele passou uma sacola por entre as frestas dos espelhos.

— Eu? O que foi? — Perguntei ao observar que a sacola estava lacrada.

— Depois você olha. Eu preciso ir.

— Espera. Não quer subir e tomar um café? — Falei, mas me arrependi ao lembrar que o porteiro escutava nossa conversa de camarote. Na verdade, nem estava acreditando que havia tido coragem para fazer o convite.

— Pode ser. — Théo deu de ombros e Onofre liberou a passagem dele.

Saí apressada da portaria para o encontrar do outro lado.

— Você não precisava ter vindo até aqui deixar isso. — Ergui a sacola depois de nos cumprimentarmos e comecei a andar na direção dos elevadores, sendo seguida por Théo. — Era só me mandar uma mensagem avisando que eu passava na sua portaria para pegar.

— Achei que seria melhor assim. — Théo colocou as mãos nos bolsos da calça.

— Nossa! O que diabos tem aqui dentro que fez você criar uma armadura como embalagem? — Tentei abrir a sacola, sem muito sucesso. Além dos grampos, Théo ainda havia passado diversas camadas de fita adesiva em volta da sacola de plástico.

— Você esqueceu a calcinha lá em casa. — Ele falou quando nós estávamos na segurança da cabine do elevador.

— Não mesmo. — Respondi com convicção, lembrando que havia voltado para casa com a calcinha e o sutiã em seus devidos lugares. — Deve ter sido de alguma outra mulher que você levou para lá.

— Posso estar errado, mas tenho a ligeira impressão de que nenhuma das mulheres que dormiram no meu apartamento costuma escrever Mônica nas etiquetas das calcinhas.

Arregalei os olhos quando consegui abrir a sacola e dei de cara com o trapo bege e furado que havia usado no início do nosso encontro. Eu não tinha mais razão para viver. Minha dignidade havia oficialmente sido extinta e eu tinha que me isolar da face da Terra para todo o sempre.

— Só um segundo, vou ali me atirar da janela. — Falei quando nós chegamos ao meu andar, praguejando em silêncio contra a ideia mirabolante de Mafalda de colocar nomes em nossas peças íntimas para as distinguir.

Théo gargalhou alto.

— Não era para você ter me visto. Eu só ia deixar a sacola na sua portaria e tornar tudo o menos constrangedor possível.

— Obrigada pela parte que me toca. — Guardei a peça na bolsa e me pus a procurar as chaves.

O apartamento estava silencioso, o que significava que Mafalda ainda não chegara da clínica de Fisioterapia. Pelos meus cálculos, ela ainda levaria mais ou menos uma hora para largar do trabalho.

Já na cozinha, depois de colocar a água para esquentar, peguei o embrulho que Théo havia feito para jogar na lixeira e notei um papel no fundo da sacola.

— E esse cartão?

— Ah. Nada demais, foi só uma coisa que pensei que poderia a ajudar. — Ele deu de ombros. — Mas você não precisa ler, pode jogar fora e...

Eu o ignorei e comecei a ler em voz alta, sentindo-me contente por Théo ter se dado todo aquele trabalho. Quem naqueles dias ainda escrevia cartões?

̶E̶d̶u̶a̶r̶d̶o̶ ̶e̶  MônicaOnde histórias criam vida. Descubra agora