— Minha nossa, quando essa infiltração ficou tão grande?
Eu observava o teto, deitada na cama. Logo acima da escrivaninha, havia uma imensa mancha, que ia do topo até mais ou menos a metade da parede, bem onde a água infiltrara por baixo das camadas de tinta.
Podia lembrar como se fosse ontem quando a mancha havia aparecido. Era um daqueles dias do ano em que chovia torrencialmente em Recife a ponto de o expediente de trabalho ser suspenso. O vento e a chuva haviam sido tão fortes que galhos e até mesmo árvores inteiras estavam caídas pelas ruas.
Um dia de chuva até que não seria mal, pensei, espreguiçando-me devagar. Com Théo ao meu lado.
Tentei espantar a ideia, mas era tarde. A imagem de nós dois deitados no sofá da sala — assistindo a um filme qualquer debaixo de um cobertor velho e comendo pipoca amanteigada feita na panela — já estava grudada na mente.
Fazia poucos dias que havíamos nos encontrado no ParCão, mas, desde então, Théo voltara a entrar em meus pensamentos sem pedir licença. Quando dava por mim, já estava pensando em lhe enviar alguma mensagem sobre qualquer coisa engraçada ou um vídeo fofo de filhotes de cachorro apenas para puxar algum assunto.
Eu estava apaixonada por Théo. Não tinha mais como negar. Mas então por que eu tinha que reprimir o que sentia? Se Théo ainda tivesse algum interesse em mim, por que deveria fugir dele? Afastá-lo e me privar de viver aquilo era o contrário de ser a garota da praia que eu tanto queria ser, não era?
Xinguei em silêncio e tateei o criado mudo até encontrar o celular.
— Hey, a obra do Cerbeza já acabou ou eu ainda preciso aparecer por lá para colocar as coisas em ordem?
Enviei antes que meu súbito rompante de coragem se esvaísse, mas a mensagem não ficou com os dois tiques que indicavam que o texto havia sido recebido. Bufei, impaciente, e larguei o aparelho de lado, sentando-me na beira da cama para calçar as havaianas.
Mordi o lábio, menos de dez segundos depois, tentando imaginar qual seria a reação dele ao ver minha mensagem. Sem conseguir mais me conter, peguei o celular outra vez. Nada. Apenas um tique. Ele devia estar sem sinal ou algo do tipo.
Droga, praguejei ao perceber que enviara a mensagem às seis e meia da manhã. Àquela hora, Théo ainda estava dormindo. Levantei-me resmungando.
— Que ótimo, agora ele vai saber que eu estava pensando nele antes mesmo de pôr os pés fora da cam...
O celular vibrou.
Joguei-me na cama no mesmo instante.
— Nosso jantar ainda está de pé?
— Droga! Droga!
Praguejei ao lembrar que marcara de sair com Lorenzo no final de semana. Havia esquecido da existência dele. Parabéns, Mônica, pior administradora de contatinhos de todos os tempos. Eu não podia sair com duas pessoas ao mesmo tempo. Como eu sairia daquela situação?
— Pense. Pense.
Digitei a primeira desculpa esfarrapada que me veio à cabeça. Bom dia, Lorenzo. Tudo bem? Olha, esqueci que tenho que levar meu cachorro no veterinário e... Espera, eu não tinha cachorro. A vida seria muito mais fácil se eu tivesse um.
— Chamou? — A porta do quarto abriu de supetão e Mafalda colocou a cabeça para dentro.
— Não.
Bom dia, Lorenzo. Tudo bem? Esqueci que minha mãe vem me visitar no final de semana, foi mal, não vai rolar no sábado. Evasiva, mas educada. Emoji de carinha blasé. Perfeito.
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̶E̶d̶u̶a̶r̶d̶o̶ ̶e̶ Mônica
ChickLitNós havíamos nascido um para o outro. Afinal, éramos Eduardo e Mônica, o casal mais famoso da música brasileira. Então por que, quando ele me perguntou as palavrinhas mágicas, algo em mim gritou não, não, não? Eu, que sempre desejei um relacionament...