Larissa e Felipa foram embora no dia seguinte, logo depois de tomarmos o café-da-manhã, e o apartamento voltou à calmaria habitual.
— Mamá? — Bati na porta. Nada. Ou Mafalda ainda estava chateada comigo ou estava dormindo.
Sem ter o que fazer naquele final de domingo, voltei para o quarto e liguei o notebook para terminar os relatórios do trabalho. Abri a planilha do Excel onde havia listado todos os materiais de construção da última obra para conferir as contas, mas as lembranças da noite passada ficavam me atrapalhando.
Felipa e Larissa tinham bem mais experiência no quesito relacionamentos. Meu primeiro e único namorado havia sido Eduardo. Tudo o que eu sabia sobre sexo se resumia ao que havia aprendido com ele.
Elas estavam certas quando disseram que eu não gostava de tocar no assunto. Sentia uma imensa vergonha de falar sobre qualquer coisa que se relacionasse àquilo até mesmo com Eduardo. Na verdade, as coisas entre nós dois foram acontecendo sem que tivesse tempo para pensar.
Perder a virgindade foi diferente dos livros de romance que havia lido durante a adolescência — eu tinha certeza de que me lembraria se tivesse lido sobre a dor — ou das maravilhas que Larissa e Felipa comentavam na minha frente.
Não, eu não saí gritando de prazer logo na primeira vez — nem nunca, na verdade. Não, eu não fiquei nem um pouco a fim de tentar de novo — e acho que só fiz mesmo porque era o certo a se fazer.
Foi só com o passar do tempo que nossas relações foram migrando de dolorosas para "ok, até que dá para levar". Nessa altura, eu já estava tão avessa a transar que, mesmo quando o processo todo não doía, não tinha muita empolgação. Sexo era um ato mecânico, automático. Fazia mais para agradar a Eduardo do que qualquer outra coisa. A melhor parte era perceber que ele havia terminado e nós podíamos voltar a fazer o que quer que estivéssemos fazendo.
Uma vez até havia criado coragem para conversar. Lembrava como se fosse hoje o nervosismo que sentira ao tentar abordar o assunto com Edu. Eu inventei que era um problema de uma amiga, então Eduardo não me levou muito a sério e disse que era normal para o homem sentir mais prazer que a mulher.
Naquela época a resposta havia sido suficiente, mas e se houvesse mais do que aquele processo de vai e vem interminável? E se o sexo fosse mesmo tão empolgante como diziam por aí?
Lembrei das expressões de pena de Felipa e Larissa ao constatarem que eu nunca havia sentido um orgasmo. Era como se eu estivesse perdendo de ver uma das sete maravilhas do mundo. Será mesmo que era normal só o homem sentir prazer nas relações? Talvez Eduardo estivesse errado.
A lembrança do beijo entre Théo e a mulher no elevador me veio à mente e a vontade de ser ela, pelo menos por alguns segundos, voltou. Aquela mulher com certeza havia sentido o maldito orgasmo naquela noite. Aliás, só no beijo ela devia ter sentido mais prazer do que eu em toda a vida.
Olhei para a porta do quarto. Tudo indicava que Mafalda ainda estava dormindo, mas preferi não arriscar e me levantei para girar a chave. Ao voltar, ainda expirei e inspirei devagar uma ou duas vezes antes de digitar, tremendo, na busca do Google.
Logo nos primeiros resultados, apareceram diversas imagens de mãos, bocas e rostos femininos se contorcendo de prazer. Passei o olhar o mais rápido que podia e cliquei no segundo, que me parecia menos explícito.
— Minha nossa senhora!
A tela do computador foi tomada por imagens de mulheres em situações constrangedoras, com as partes íntimas à mostra de forma escancarada, algumas delas inclusive com objetos-que-não-merecem-ser-nomeados sendo inseridos dentro delas — dos dois lados, devia dizer.
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̶E̶d̶u̶a̶r̶d̶o̶ ̶e̶ Mônica
Genç Kız EdebiyatıNós havíamos nascido um para o outro. Afinal, éramos Eduardo e Mônica, o casal mais famoso da música brasileira. Então por que, quando ele me perguntou as palavrinhas mágicas, algo em mim gritou não, não, não? Eu, que sempre desejei um relacionament...