Capítulo 15

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Ao contrário de tantas outras segundas-feiras, acordei com mais ânimo do que o normal. Decidi repetir a dose do sábado e, antes de me arrumar para o trabalho, corri pelos quarteirões do bairro — o que me deu bastante tempo para pensar em todas as mensagens trocadas com Théo durante o domingo.

Depois que ele me enviou o projeto da filial do Cerbeza, eu sugeri — gentilmente, claro — algumas mudanças que o ajudariam a conseguir a aprovação da Prefeitura e fiz uma nota mental para no futuro o aconselhar a trocar de equipe de engenharia.

Nós ainda conversamos sobre Cacau, que havia feito uma traquinagem e aberto um buraco imenso no sofá, e trocamos algumas fotos dos nossos jantares — eu fizera um canelone de frango enquanto Théo, que havia esquecido de fazer compras, tivera que se contentar com dois ovos que restavam na geladeira.

Se não fosse o começo desastroso, até cogitaria algum futuro entre nós. Mas, por mais que a ideia não me agradasse, ao que tudo indicava, eu havia realmente me tornado a amiguinha dele.

De certa forma, até fazia sentido Théo se apegar daquele jeito àquela recente amizade. Pelas nossas conversas — e um pouco pelo meu trabalho investigativo de redes sociais — Théo parecia não ter muito amigos.

Ele tinha sim muitos conhecidos, o que era de se esperar do dono de uma cervejaria famosa. Mas, amigos, amigos de verdade, eram poucos. Fora Letícia e aquele Mário, de quem ele falara no jantar, Théo só havia mencionado os irmãos.

Pouco a pouco, percebi, minhas presunções sobre o caráter de Théo caíam por terra e cada nova descoberta só me fazia gostar mais dele. O que era bem inoportuno já que ele não tinha mais qualquer interesse em mim fora a amizade. Revirei os olhos. Em poucos dias, Théo começaria a enviar fotos de suas novas ficantes e a pedir minha opinião. Ugh. Eu detestava a friendzone.

Ainda estava com aqueles pensamentos na cabeça quando cheguei ao trabalho e notei um pequeno aglomerado de pessoas no corredor junto à porta do espaço de convivência. Reconheci alguns colegas da segurança no trabalho e do controle de qualidade. Havia gente de todos os setores da Garcia.

O que significava aquele zunzunzum? Será que eu havia esquecido algum evento da empresa? Péssimo dia para começar a ser saudável e chegar atrasada no trabalho, Mônica.

— O que está acontecendo? — Sussurrei para Rosa assim que a alcancei.

— O projeto de instalação da rede de esgoto da Comunidade Bem-te-vi foi aprovado e o Grupo deve começar o quanto antes. Hoje mesmo vamos começar a sinalização do local da obra e a mobilização de pessoal.

— Sério? — Arregalei os olhos. Aquela comunidade carente era enorme. Fazia tempo desde o início dos planos de instalação na área, mas, até onde sabia, as coisas estavam meio paradas. — Isso vai ser fantástico!

— Esse empreendimento vai ser grande, Mônica. Você tem ideia? Veio até um engenheiro da sede chefiar a supervisão das obras. Judite e os chefes dos outros setores estão passando as diretivas de como tudo deve acontecer.

— Nossa. O negócio é sério mesmo. Esse engenheiro, como ele é? Gente boa? — Tentei espiar por entre as pessoas, mas estava difícil. Tudo o que conseguia ver era Judite e um pedaço do braço do novo supervisor.

— Não deu para tirar muitas conclusões ainda.

— Como ele se chama?

— Lorenzo.

— Que coinc... — Comecei a dizer quando o aglomerado de pessoas se dispersou, permitindo-me ter uma visão melhor do novo supervisor. Ele tinha os cabelos alourados, pincelados com fios grisalhos e...

̶E̶d̶u̶a̶r̶d̶o̶ ̶e̶  MônicaOnde histórias criam vida. Descubra agora