Capítulo 24

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— Pare. Por favor, pare.

Théo estava caído de joelhos no chão da sala, as mãos pressionando a barriga. Nós havíamos colocado o filme para passar na televisão, mas, para ser sincera, nem que minha vida dependesse daquilo eu saberia dizer porque um Wagner Moura fantasiado de múmia estava conversando com um Wagner Moura que parecia saído da Idade Média. 

— Você está rindo agora, mas na hora não foi nem um pouco engraçado. — Bati no ombro de Théo, meio feliz meio indignada com a reação dele. — Eu nunca mais vou olhar para a testa de Lorenzo da mesma maneira.

Théo respirou fundo, tentando se recuperar do acesso de riso e levou as mãos ao rosto para enxugar as lágrimas.

— De todas as histórias que imaginei que você me contaria um dia, essa definitivamente não estava na lista.

Será que eu havia cruzado a linha do aceitável? Droga. Por que não conseguia controlar a língua quando estava ao lado de Théo, me perguntei. Eu sentia uma necessidade idiota de dividir tudo com ele. Ainda bem que ao menos omitira a parte que já havia ficado com Lorenzo.

— Fico feliz por saber disso.

— Feliz?

— Sim. — Ele deu de ombros. — Não podemos ficar felizes por alguém que a gente gosta estar se descobrindo?

— Claro que sim. — Eu me ajeitei no sofá e peguei a vasilha de pipocas.

Théo sentou ao meu lado, fazendo com que nossos braços se tocassem e enfiou a mão na vasilha. Imitei seu gesto e coloquei um punhado de pipocas na boca, tentando me concentrar.

— Você tem alguma ideia do que está acontecendo no filme?

— Nenhuma. Mas tenho a leve impressão que eles estão num momento crucial da história. — Inventei. Na verdade, tudo o que conseguia pensar era naquela zona de interseção entre nossos corpos.

— Claro que não. Todo mundo sabe que os momentos cruciais nunca acontecem com apenas meia hora de filme.

— Do mesmo jeito que todo mundo sabe que não é preciso chegar uma hora antes para voos nacionais?

— Tá vendo? Até você sabe disso.

— Besta. — Eu lhe dei uma cotovelada de leve e chequei as horas. Já era tempo de pingar um dos colírios no olho. Me levantei e peguei a sacola da farmácia, que havia jogado em cima do centro da sala ao chegar, junto com a bolsa.  — Você espera um minuto? Tenho que colocar o colírio. — Apontei para o corredor, na intenção de deixar a sala.

— Você não consegue colocar aqui?

— Eu uso lentes de contato há séculos e, acredite, nunca acerto meus próprios olhos sem estar na frente de um espelho.

— Um caso a ser estudado pela ciência. — Théo cruzou os dedos das mãos. — Deixa de besteira, eu a ajudo. — Ele estendeu a palma da mão.

Depois de entregar o recipiente, retirei o tampão, a cola do esparadrapo já estava fraca de tanto tira e bota. Voltei a me sentar no sofá, deitando a cabeça no encosto. De olhos fechados, tudo o que podia ouvir eram as vozes dos atores.

— Eu não sei como você coloca colírio, mas acho que uma premissa importante é abrir os olhos.

— Jura?

— Juro.

Abri os olhos e prendi a respiração ao notar o rosto de Théo tão próximo do meu. Ele estava concentrado, mirando a saída da bisnaga bem acima do meu olho direito, como se aquela fosse a tarefa mais importante do mundo.

̶E̶d̶u̶a̶r̶d̶o̶ ̶e̶  MônicaOnde histórias criam vida. Descubra agora