Capítulo 6

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Assim que consegui sair do estado de perplexidade, tentei fugir. Mas, como alguém muito sábio uma vez disse, nada é tão ruim que não possa piorar — ou algo do tipo.

Embaraçada demais para perceber qualquer coisa que não a figura de Théo em trajes de dormir, dei um passo para trás e pisei na pata do cachorro. O pobre animal soltou um ganido de dor, fazendo com que eu me assustasse a ponto de cair, bater a cabeça numa quina e cortar a testa.

Quando dei por mim, estava sentada no balcão da cozinha do vizinho do meu ex-namorado, prestes a ganhar um curativo. Apesar do sangue, o corte não havia sido tão grande a ponto de precisar ir ao hospital, mas Théo não quis me deixar sair de lá sem que ao menos cuidasse do ferimento.

— Ai! Ai! — Choraminguei quando ele ameaçou borrifar antisséptico por cima do corte.

— Eu nem apertei. — Ele exclamou, sorrindo com o canto da boca da minha covardia.

Eu não fazia ideia de como Théo podia sorrir. No lugar dele, estaria me contorcendo de raiva se um bêbado tivesse me acordado no meio da madrugada e, ainda por cima, pisado na pata do meu cachorro — que depois descobri que era uma cadela.

— Desculpe. — Mordi o lábio inferior e pensei em qualquer coisa que não na minha testa.

O que me levou a constatar que nunca estivera tão perto de Théo. Podia ver os amassados da camisa de meia branca que ele usava para dormir. Nós estávamos tão perto que podia ver os seus músculos se mexendo enquanto ele abria o pacote de gaze e retirava um pedaço para passar em meu rosto.

Por sinal, ele cheirava bem demais para alguém que estava dormindo até poucos minutos atrás. Era uma fragrância diferente, amadeirada e com um leve toque de mar, que me lembrou de quando era pequena e minha mãe queimava folhas de louro para aliviar meus problemas respiratórios.

Por um segundo, me imaginei tocando Théo. Como será que ele reagiria se eu o beijasse?

— Pronto.

— Já?!

Estava surpresa por não ter me dado conta de que Théo havia terminado o curativo e um tico desapontada por ele ter se afastado.

— Você deve ter bebido um bocado para não sentir quando coloquei o antisséptico. — Ele disse enquanto guardava os itens de primeiros socorros de volta numa caixa branca.

— Obrigada. — Agradeci, sem ter coragem nem moral para retorquir a alfinetada. Em vez disso, pensei em qualquer assunto para quebrar o silêncio. — Eu não sabia que você tinha uma cadela.

— Eu não tinha. — Théo fechou a caixa e estalou os dedos para Cacau, que foi rebolando na direção dele para receber um cafuné atrás da orelha.

Cacau tinha um pêlo meio alaranjado, meio dourado. Seu corpo longo e roliço destoava das suas perninhas curtas e cabeça achatada. Apesar da combinação esquisita, sentia vontade de apertá-la e de falar com ela como se fosse um bebê.

— O tio de um amigo a adotou, mas a mulher não gostou da ideia e ele precisava encontrar alguém para ficar com ela ou teria que devolvê-la ao canil. É o primeiro dia dela comigo. Nós ainda estamos nos conhecendo, não é, Cacau?

Ele a pegou nos braços sem muito esforço.

— Eu não acredito que pisei nela no primeiro dia aqui! — Escondi as bochechas com as mãos. — Ela nunca vai me perdoar.

— Ela não parece ser muito rancorosa. — Théo a trouxe para perto de mim. Cacau me olhava de um jeito desconfiado, como se eu fosse machucá-la a qualquer momento.

̶E̶d̶u̶a̶r̶d̶o̶ ̶e̶  MônicaOnde histórias criam vida. Descubra agora