Capítulo 9

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O caminho até o apartamento de Théo fora um dos mais longos da minha vida. Ele até havia sugerido um motel já que o prédio dele era também o do meu ex, mas repeli a ideia sem pensar duas vezes.

Detestava motéis e aquela pressão de vocês pagaram para entrar aqui e agora têm que transar até o último minuto. As vezes em que eu e Eduardo fomos não havia sido nem um pouco interessante. Preferia correr o risco de esbarrar no meu ex e ter que inventar uma desculpa esfarrapada do que passar por aquilo de novo.

Para evitar uma situação constrangedora, fiquei no carro enquanto Théo saiu na frente para chamar o elevador e verificar se era seguro sair. E, quando me dei conta, já estava escutando o som da porta do apartamento se fechando por trás de mim.

Apesar de já estar familiarizada com o lugar, agora tudo ali me parecia ameaçador, os móveis, os quadros, as cervejas... exceto Cacau, que pulou em meu colo assim que me viu, o rabinho abanando contente.

— Cacau! Já disse para você não fazer isso. — Théo ralhou, puxando-a para longe pela coleira. — Descobri que ela tem mania de pular nas visitas.

— Não tem problema. Sério, pode soltar. Oi, sua linda. — Eu a acariciei quando Théo a deixou livre e ela correu para mim outra vez.

— Ela te adora. — Ele comentou. — Dá pra notar pelo rabo prestes a cair de tanto abanar ao te ver.

— Se fosse permitido ter cachorros no meu prédio, eu a roubaria de você.

— E eu acho que Cacau iria de bom grado. — Ele se juntou a mim nos carinhos à cadela. Cacau, vendo-se paparicada por todos os lados, deitou-se de barriga para cima, pedindo que nós a afagássemos ali também.

— Que folgada! — Ri, fazendo o que ela queria.

— Muito. Mas agora ela tem que ir para cama. Vamos, Cacau. Você já se aproveitou de Mônica o suficiente por hoje. — Théo se levantou, chamando-a com um estalar dos dedos.

Antes de segui-lo, Cacau deu uma focinhada de despedida nas costas da minha mão.

— Você gosta de vinho ou só recusou para ser solidária? — Théo perguntou ao voltar, trazendo uma garrafa numa mão e duas taças na outra. Pelo visto, ele não pretendia me deixar em casa tão cedo.

— Gosto.

— Ótimo.

— Eu só vou precisar ir ao banheiro. Volto já.

Dei as costas e me controlei para não sair correndo na direção do corredor. Assim que entrei no banheiro, encostei-me na porta e abri a bolsa.

Ainda bem que Felipa havia me obrigado a fazer aquilo, pensei enquanto trocava a calcinha e o sutiã velhos pelos que ela insistira em colocar na minha bolsa. As peças não eram o que se podia dizer de lingerie sexy e não passavam de um sutiã e uma calcinha pretas com as bordas cor de rosa choque, mas ao menos eram novas.

— Merda. — Xinguei ao ver meu reflexo no espelho.

Eu não devia ter comido tanto. Na verdade, devia ter escutado Eduardo todas as vezes que ele me falara que precisava perder peso. Eu tinha uma verdadeira pochete no lugar da barriga. Isso sem falar nos meus pneuzinhos e na bunda cheia de celulites. Onde estava com a cabeça quando aceitara a proposta de Théo?

Sem muita escolha, recoloquei as roupas e guardei o sutiã e a calcinha velhos. Havia chegado até aqui, agora teria que ir até o fim.

Ao voltar à sala, notei que Théo diminuíra a luminosidade do ambiente e colocado jazz para tocar. Uma taça de vinho esperava por mim em cima do centro. Théo estava escorado no balcão da varanda, mirando a rua.

Ele notou minha presença.

— Tudo bem?

— T-tudo. — Xinguei em silêncio por minha voz ter saído tremida.

Sem me preocupar em ser educada, peguei a taça e dei um longo gole. 

— Suas mãos estão tremendo. — Ele observou e tomou minha mão livre entre as dele.

Senti os pelos do braço se eriçarem.

— Escuta, Théo... — Comecei, mas não sabia como falar aquilo. — Eu nunca... Eu não... Eu nunca estive com mais ninguém além de...

— A gente não precisa fazer nada se você não quiser. — Ele falou, acariciando minha mão. Não sabia como aquilo era possível, mas cada canto da minha pele que Théo tocava formigava. — Você quer estar aqui?

Fiz que sim e olhei para os pés. Théo tocou meu queixo, fazendo com que o encarasse.

— Então só relaxe.

Engoli minha saliva. O olhar que ele me lançava era, ao mesmo tempo, hipnotizante e assustador. Queria me deixar levar por Théo, mas também queria fugir. Desci o olhar até sua boca e mordisquei os lábios ao notar como os dele eram tentadores. Tomando aquele gesto como um convite, Théo quebrou a pequena distância que nos separava.

De início, eu estava agitada, o que tornou o nosso beijo um tanto atrapalhado. Aos poucos, Théo foi me mostrando que não estava com pressa, fazendo-me desacelerar. Ele beijava diferente. Um diferente bom. Era como se ele estivesse saboreando minha boca aos poucos. Os lábios dele eram macios e... deliciosos. Até mesmo a barba roçando em meu rosto era prazerosa.

Quando Théo se afastou, me contive para não pedir que continuasse. Com nossos rostos a centímetros um do outro, só conseguia mirar sua boca. Tudo que pensava era em voltar a beijá-lo, na linha dos seus lábios e nos seus dentes tortos.

Meu peito arfava. Devagar, ele se reaproximou, como se fosse me tomar outra vez. Em vez disso, passou a beijar o caminho entre meu queixo e o ombro.

Cada toque que ele depositava em minha pele surtia efeito nos mais diversos pontos do meu corpo. Nos pelos da nuca que se eriçaram, nos pensamentos que se tornaram confusos e sem lógica. No ardor que eles faziam surgir entre as pernas. Era a mesma sensação que sentira no carro dias atrás. Ampliada dezenas de vezes.

Havia esquecido por completo quem eu era ou as consequências de tudo o que nós estávamos prestes a fazer — até Théo começar a me conduzir para o quarto e me fazer despertar. E, de repente, eu era Mônica de novo. A garota de lábios exagerados e cabelos de juba. A garota com o corpo cheio de imperfeições. A garota que não sabia transar direito.

O que Théo deveria estar pensando de mim? Que tipo de mulher faria aquilo que eu estava fazendo? Se entregar para um cara que ela havia acabado de conhecer? Pior, no andar de cima do apartamento do ex namorado? Com certeza ele deveria me achar apenas mais uma de suas conquistas. Uma das mais fáceis, inclusive.

Até o porteiro já deveria me achar uma verdadeira vadia. Todo mundo no prédio comentaria da nova mulher que Théo trouxera para o apartamento. Talvez até Eduardo já estivesse sabendo de tudo.

Por que eu inventara de fazer aquilo? Minhas costas tocaram o colchão da cama. Se, no começo, havia sentido tantas novas sensações com o toque de Théo, agora apenas um velho desejo permanecia, de que aquilo acabasse logo. O beijo, antes tão delicioso, agora eu retribuía de forma automática, assim como o resto do meu corpo.

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Nota da Autora:

Boa noite, leitoríneas(os)! 

Os palpites do elevador foram os que chegaram mais perto de acertar a sugestão de Théo. Danado esse rapaz, vocês não acham? Pena que o encontro do casal parece não ter terminado tão bem... Ou será que vai? O que vocês acham que vai acontecer? 

Contem tudo, adorei ler os palpites do último capítulo!

Beijinhos,

Julia Tabosa

̶E̶d̶u̶a̶r̶d̶o̶ ̶e̶  MônicaOnde histórias criam vida. Descubra agora