Capítulo 14

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Cheguei dentro de alguns minutos na orla da praia de Boa Viagem — na verdade, devia ter levado mais tempo para achar uma vaga para estacionar do que o trajeto em si. Sem sinal de nuvens no céu e com a temperatura próxima dos 30ºC, a praia parecia ser o destino número um dos recifenses naquele sábado.

Escolhi um ponto com menos pessoas no calçadão para me alongar e constatei que ainda conseguia alcançar a ponta dos pés. Nada mal para quem estava sem fazer exercícios há séculos. Rá! Toma essa, Théo, disse para mim mesma, tentando ignorar o fato de que eu estava pensando nele pela terceira vez num intervalo de horas.

Iniciei o cronômetro do celular, coloquei-o no bolso traseiro dos shorts e fechei o zíper.

— Vamos lá!

Primeiros cinquenta metros e já me sentia ótima. Como não havia começado a correr antes? Eu estava arrasando naquilo.

— Com licença!

Pulei para o lado. Uma adolescente passou correndo por mim, leggings de oncinha douradas, camisa de algum evento de corrida, viseira branca e tênis verde limão. Um raio teria passado mais devagar. Na verdade, qualquer um ali era mais rápido do que eu.

Talvez eu não estivesse arrasando tanto assim. O celular balançando no bolso toda vez que eu pisava era um pouco desconfortável. E correr de sutiã normal não era uma boa ideia — meus seios seriam arrancados pela força da gravidade a qualquer momento, eu tinha certeza.

Senti um incômodo na região abaixo da costela esquerda. Respirei fundo, tentando ignorar a sensação e continuar a correr. Não havia se passado nem quinze minutos e uma embaraçosa mancha de suor já se formara na camisa. Por que minha costela doía tanto? Não, eu não podia parar ali. Continue, Mônica, continue, pensei.

— Droga. — Parei de brusco quando as pontadas se tornaram insuportáveis.

Caminhei a passos lentos até a mureta de cimento que separava parte do calçadão da areia da praia, servindo de banco para as pessoas. Ainda arfando, retirei o celular do bolso e me sentei. Eu havia percorrido um quilômetro e duzentos e cinquenta e dois metros em quatorze minutos segundos, o que dava 5,37km/h. Nada mal.

Abri o Google.

— Quê? — Quase engasguei ao ver que a velocidade média de uma tartaruga podia chegar até 10km/h. Como assim eu era mais devagar que uma tartaruga?! Eu nunca havia sido tão humilhada na minha vida e... Ah, era a velocidade dela na água, percebi. Óbvio que era.

Não havia sido uma marca impressionante, mas senti-me bem. Apoiei as mãos nas quinas da mureta, inclinando o corpo para trás para que a luz do sol batesse por completo no rosto. Fechei os olhos, pensando no cheiro característico do mar.

Havia esquecido como era bom ir à praia. O som das ondas era uma espécie de calmante. Podia escutar o barulho de crianças brincando em algum ponto distante, das bicicletas que passavam zunindo por trás de mim, dos vendedores ambulantes que anunciavam seus petiscos e de um homem com sotaque gaúcho que pedia água de coco no bangalô ao meu lado.

Eduardo detestava praia. Mas por que eu havia parado de ir à praia só porque ele não gostava? Quando havia me tornado aquela garota? Da próxima vez, decidi, colocaria um biquíni e passaria horas torrando debaixo do sol. Só precisava perder alguns quilinhos.

Sentindo as baterias recarregadas, endireitei-me no banco. Meu olhar cruzou com o do homem que escutara momentos antes, sentado num dos banquinhos de madeira em volta do bangalô e tomando a água de coco. Ele desviou o olhar e fingiu mexer no celular. Ele estava me observando?

Ele definitivamente estava me observando. Eu devia achar aquilo desconcertante, mas, como no dia do Bar do Chefe, saber que estava sendo observada me dava uma pontada de prazer — o fato de o homem ser atraente também ajudava. Ele tinha os cabelos castanhos claros, quase louros, pincelados com fios grisalhos, a barba por fazer. Um corpo magro se escondia por debaixo da camisa suada de quem havia acabado de se exercitar. Ele não parecia ser de Recife.

̶E̶d̶u̶a̶r̶d̶o̶ ̶e̶  MônicaOnde histórias criam vida. Descubra agora